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Comerciantes da região da Arena do Grêmio contam prejuízos e temem recomeço impossível sem futebol

A região do estádio foi uma das mais castigadas pela tragédia
02/06/2024 | 14h02

Por Leonardo Viecili — Folhapress

“Foi feia a coisa”, afirma Ruimar Capalonga, 63, ao lembrar o pesadelo causado pela enchente de proporções históricas na região da Arena do Grêmio, em Porto Alegre.

Para se salvar da inundação e cuidar dos seus pertences, Capalonga diz que passou 21 dias com a esposa no segundo piso do imóvel onde o casal tem um bar. Segundo ele, a água ultrapassou 2 metros no local.

O bar é vizinho do estádio, no bairro Farrapos, zona norte da capital gaúcha. A região foi uma das mais castigadas pela tragédia ambiental. A demora para a água baixar irritou a população local.

Na tarde deste sábado (1º), Capalonga aproveitava a presença do sol para limpar o que restou do negócio. “Perdi tudo aqui no bar. Vamos recomeçar devagarinho”, declara o empresário, que vestia um boné do Grêmio.

Enquanto o empresário tentava organizar seu estabelecimento, o clube gaúcho enfrentava o Red Bull Bragantino em Curitiba, a cerca de 700 km de Porto Alegre.

A partida, válida pelo Campeonato Brasileiro, ocorreu no Paraná porque a Arena do Grêmio foi atingida pela enchente e está sem condições de receber futebol por tempo indeterminado.

Arena do Grêmio: Paralisação de jogos preocupa comerciantes

A paralisação dos jogos no estádio preocupa os donos de bares e estacionamentos que dependem da movimentação dos torcedores na região dos bairros Farrapos e Humaitá. É o caso de Capalonga.

“O importante é que voltem os jogos e, se alguém puder dar alguma ajuda, a gente agradece”, afirma o comerciante.

Ele diz que é um homem de fé e que encontrou forças para encarar a enchente ao olhar para uma foto dos seus pais, já falecidos. “Chego a me arrepiar”, afirma.

Outros empresários e moradores dos bairros Farrapos e Humaitá aproveitaram o sábado para limpar os imóveis após a cheia histórica.

Muito barro é visto na região. Pilhas de objetos sujos e danificados pela enchente tomavam conta dos espaços à frente e ao lado das casas e dos bares.

Na avenida A. J. Renner, uma das principais vias de acesso à região da Arena do Grêmio, a quantidade de materiais descartados era tanta que invadia um trecho do asfalto.

O corretor Alexandre Melo, 46, foi com amigos até o bairro Farrapos para limpar um imóvel alugado de cerca de 30 metros quadrados. O espaço é usado por gremistas para fazer churrascos e confraternizações em dias de jogos do clube.

Enquanto limpava o imóvel, o grupo ouvia no rádio a transmissão da partida contra o Red Bull Bragantino, que venceu o duelo por 2 a 0.

Melo ainda não sabe como vai ficar a situação do espaço enquanto o Grêmio estiver longe da arena — o temor é de que o clube não consiga retornar para o estádio até o final de 2024.

“Tiramos freezer, geladeira, espetos, bacias. Ficou tudo embaixo d’água. Tem essa tela aqui também”, diz Melo, apontando para uma TV de 70 polegadas atingida pela inundação.

No início da semana, a situação dos bairros Farrapos e Humaitá contrastava com o quadro de outras regiões de Porto Alegre que também haviam sido afetadas pela enchente.

Em áreas mais centrais da cidade, como Centro Histórico, Menino Deus e Praia de Belas, a água baixou antes. Já nas comunidades da zona norte a cheia continuava cobrindo grande parte das moradias e dos pequenos comércios.

Com a demora para a melhora do quadro, moradores dos bairros Farrapos e Humaitá protestaram na segunda-feira (27). Eles chegaram a trancar o trânsito na rodovia Freeway (BR-290), em uma tentativa de pressionar a prefeitura por ações que aliviassem o drama local.

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