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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

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Comprada por um laranja, mansão de R$ 3 mi da ex de Bolsonaro é vendida em Brasília

Mansão é investigada pela PF para apurar possível lavagem de dinheiro
20/01/2024 | 08h00

Mansão de ex-mulher de Bolsonaro comprada em 2021 e vendida em junho de 2023

*Com reportagem de Karla Gamba

Comprada, em 2021, com uma pessoa usada como laranja na negociação, a mansão da advogada Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro (PL), foi vendida em junho do ano passado. A informação foi dada pelo novo proprietário, que falou com exclusividade à coluna, mas pediu anonimato.

Ele contou que adquiriu a mansão, que fica no Lago Sul de Brasília, do corretor Geraldo Machado. No entanto, não quis mencionar os valores negociados. Admitiu apenas que assumiu o valor que tinha sido financiado junto ao BRB.

Ao se candidatar a deputada distrital no Distrito Federal, em 2022, Ana Cristina declarou à Justiça Eleitoral ser a proprietária da mansão no Lago Sul, avaliada em cerca de R$ 3 milhões. De acordo com a matrícula do imóvel, checada pela coluna nesta semana, porém, o imóvel ainda está registrado no nome de Machado. À coluna, o novo proprietário afirmou que o processo de transferência do imóvel para o seu nome está em andamento. Ana Cristina Valle não retornou.

Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro

DESCOBERTA DA NEGOCIAÇÃO

Em 2021, uma reportagem de Juliana Dal Piva e do jornalista Eduardo Militão revelou que Ana Cristina vivia na propriedade junto com Jair Renan Bolsonaro, filho “04” do ex-presidente. Na ocasião, ela dizia ter alugado o local.

Mas a advogada se mudou para o imóvel cerca de 15 dias depois da compra ter sido oficializada no papel pelo corretor Geraldo Machado. Por sua vez, apesar de se identificar como proprietário da mansão, o corretor morava em uma edificação modesta, num condomínio em Vicente Pires, região administrativa de classe média no Distrito Federal, a 30 km da mansão.

Procurado na quinta-feira (18), Machado disse “não tenho nada a declarar e qualquer coisa você pode falar com meus advogados”. Machado, porém, não informou quem seriam seus defensores. Em 2021, ele negou ser um laranja. Afirmou ser um “sonho” morar no Lago Sul, mas a mudança foi frustrada porque ele não teria conseguido vender sua casa em Vicente Pires.

Ao TSE, em 2022, Cristina declarou um valor muito inferior ao de mercado. A advogada informou que a mansão valia um total de R$ 829 mil. O montante é muito abaixo dos R$ 2,9 milhões declarados por Geraldo Machado, em 31 de maio de 2021, como o valor da negociação da propriedade.

Ana e Jair Bolsonaro foram casados por 10 anos

TRANSFERÊNCIA DE R$ 867 MIL

O valor declarado pela advogada ao TSE se aproxima do total transferido por Ana Cristina para uma empresa de transporte de cargas do Distrito Federal que pertence a Geraldo Machado. Um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontou uma transferência da advogada para Machado no total de R$ 867 mil. Desse valor enviado por Ana Cristina, segundo o relatório do Coaf, R$ 580 mil teriam sido usados para pagar a entrada da compra da mansão. O restante foi financiado: R$ 2,32 milhões. O financiamento foi feito no BRB (Banco de Brasília). O mesmo banco financiou a mansão do senador Flávio Bolsonaro (PL–RJ), que custou um total declarado de R$ 6 milhões.

Após a revelação da aquisição da mansão de Cristina e do relatório do Coaf, a Polícia Federal abriu uma investigação do caso. O relatório foi revelado, em 2022, pelo jornal O Globo. No pedido de investigação, a PF citou que o uso de uma terceira pessoa na compra feita por Ana Cristina apontava para “possível dissimulação da propriedade do bem imóvel adquirido” e a prática poderia configurar crime de lavagem de dinheiro.

O relatório do Coaf apontou ainda que a ex-mulher de Bolsonaro movimentou R$ 9,3 milhões entre 2019 e 2022.

A mansão fica em um terreno de 1.200 metros quadrados e tem cerca de 800 metros quadrados de área construída em dois pisos. Na época em que Machado adquiriu a casa para Cristina, o anúncio do imóvel declarava que a mansão tinha “quatro suítes, com fino acabamento e todas com closet. Escada em mármore. Suíte master ampla com cerca de 100 m², abre para grande terraço com potencial para jardim, espaço fitness, solarium e outros. Closet amplo na suíte master, com excelentes armários planejados. Banheiro da suíte master com acabamento também elegante e de tamanho avantajado, proporcionando conforto e espaço luxuoso.”, dizia um trecho do anúncio.

Além da investigação na PF, Ana Cristina é investigada por lavagem de dinheiro, peculato e organização criminosa junto com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos–RJ) em um procedimento do MP–RJ (Ministério Público do Rio) que apura o desvio ilegal de salários dos assessores de gabinete do filho “02” de Jair Bolsonaro. Ana Cristina foi sua chefe de gabinete entre 2001 e 2008.

Parte interna da casa

MUDANÇA PARA A NORUEGA

Ana Cristina viajou para a Noruega, em outubro de 2022, dias antes do segundo turno da eleição presidencial e nunca mais retornou.

Desde então, ela está trabalhando como colaboradora de uma creche na cidade de Halden, na Noruega. A advogada disputou uma vaga de deputada distrital, mas teve apenas 1.485 votos e não conseguiu se eleger para a Assembleia do DF (Distrito Federal).

No ano passado, ela também teve declarada a perda da cidadania brasileira porque, anos antes, adquiriu a cidadania norueguesa em uma condição que não permitia que ela ficasse com as duas cidadanias.

O novo proprietário da mansão de Brasília disse à coluna que não sabia que Ana Cristina e Jair Renan haviam morado lá. O homem afirmou que só tomou conhecimento desse fato quando um prestador de serviço comentou com ele, há três semanas, que Jair Renan realizava muitas festas grandes no local. Ainda de acordo com o novo dono da casa, as festas teriam causado desavenças dos Bolsonaros com os vizinhos, que se incomodavam com o movimento e o barulho.

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