Por Lorenzo Santiago — Brasil de Fato
Produzir de maneira rápida para receber famílias em um novo acampamento. A técnica da Mandala é usada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e foi criada para tornar mais eficiente o abastecimento dos assentados que estão chegando para viver em um novo espaço.
Esse modelo de produção consiste em um espaço circular de 576 metros quadrados aproximadamente (24 m x 24 m). No centro fica a produção de proteínas. Porcos, galinhas ou um tanque para a criação de peixes são opções para esse tipo de produção. Ao redor desse círculo central, outras faixas circulares são formadas para a produção de diferentes alimentos.

Técnica da Mandala é usada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
A produção inicial é feita de produtos de ciclo curtos, principalmente folhas. Alface, rúcula e couve são os primeiros a serem plantados para colheita e alimentação dos acampados, que complementam essa alimentação com outros produtos trazidos de outros lugares. Depois, a mandala se complementa com outros produtos que vão ampliar o leque de opções alimentícias para as famílias.
A horta no formato mandala pode produzir qualquer tipo de alimento. Cebola, repolho, cenoura, tomate, rabanete e alface são alguns dos exemplos usados no plantio dessas famílias.
Técnica utilizada na Venezuela
Essa técnica está sendo usada agora na Venezuela para o novo acampamento do MST na Vergareña. O terreno de 180 mil hectares será usado pelo governo venezuelano para a produção de alimentos seguindo a lógica da agrofloresta. O território no sul do país tem como intuito produzir alimentos suficientes para garantir a soberania alimentar do país.
Para isso, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, convocou militantes do MST para ajudar na coordenação do projeto chamado de Pátria Grande do Sul, e na formação de produtores venezuelanos que usarão as técnicas desenvolvidas pelo Movimento para a produção de alimentos sem agrotóxicos.
Mauricio Arantes é integrante do Coletivo Nacional da Juventude Sem Terra e contribui com a formação na brigada do MST na Venezuela. Ele está na Vergareña ajudando a implementar o novo acampamento do movimento na região e a produzir a horta no formato da mandala para essas famílias. Ele explica que, depois que a horta está pronta, os acampados focam na produção de alimentos que serão produzidos em grande quantidade.
“A mandala é a primeira experiência de produção. O objetivo é fornecer os primeiros alimentos para quem estará acampada. Esse tipo de horta tem o intuito de fornecer o alimento mais imediato. Depois, com o tempo, com as famílias chegando e acampando, serão desenvolvidas outras formas de produção como as lavouras, produção de gado e porcos e, aí sim, começa a produção em larga escala”, afirmou ao Brasil de Fato.
A meta é ter 300 famílias ocupando o terreno da Vergareña. Mesmo sendo reitor do projeto, o MST vai contar com a articulação da União Comunera para organizar não só a produção, como mobilizar as famílias para ocuparem esses terrenos.
Apesar de a montagem do acampamento estar sendo feita agora, o estudo e os acordos entre o governo venezuelano e o MST estão sendo desenhados desde agosto do ano passado.
Gessica Lima é militante do MST e também está na Venezuela para ajudar no projeto. Segundo ela, a mandala está inserida em uma produção agroecológica que respeita o terreno e o espaço que será feita.
“Mesmo que a agroecologia tenha seus princípios, ela também tem essa proposta de partir da realidade de cada território. Então, a gente estudou o território, cada conselho comunal que engloba dentro desse da comuna Patrícia Grande do Sul. Como é feita a produção, o que produzem, como é essa relação com a terra, como são essas relações humanas. A partir disso a gente monta os projetos produtivos”, afirmou ao “Brasil de Fato”.
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