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Após atraso, COP28 termina com texto que prevê ‘fim da era do petróleo’. Marina Silva exalta acordo, mas cobra ricos

Ministra do Meio Ambiente do Brasil disse que países desenvolvidos precisam tomar a dianteira na transição energética e assegurar os "meios necessários para os países em desenvolvimento poderem implementar suas ações de mitigação e adaptação".
13/12/2023 | 14h03

Com atraso, a COP28 (Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas) terminou, nesta quarta-feira (13), em Dubai, nos Emirados Árabes, com a aprovação de um acordo que “assinala o início do fim da era dos combustíveis fósseis”, em especial o petróleo, para tentar conter o avanço da temperatura global a 1,5 grau Celsius. Divergências marcaram a finalização do documento.

Inédito, o texto foi finalizado na cúpula que aconteceu no berço da produção de petróleo do mundo, preparando o terreno para “uma transição rápida, justa e equitativa, sustentada por profundos cortes de emissões”, conforme nota publicada no site da COP28.

“Embora não tenhamos virado a página da era dos combustíveis fósseis em Dubai, este resultado é o início do fim”, disse o secretário-executivo da ONU para as Alterações Climáticas, Simon Stiell, no seu discurso de encerramento. “Agora, todos os governos e empresas precisam transformar esses compromissos em resultados para a economia real, sem demora.”

Apesar de o texto final ter sido considerado um avanço, críticos dizem que a linguagem escolhida é mais fraca do que a necessária para a urgência de conter as mudanças climáticas. Essa divergência acabou atrasando a versão final do texto.

Mais de cem países vulneráveis às consequências do aquecimento do planeta, majoritariamente países-ilha, defendiam uma linguagem forte, para incluir a expressão “eliminar gradualmente” o uso de petróleo, gás e carvão, mas encontraram oposição do grupo de produtores de petróleo liderado pela Arábia Saudita, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). O cartel argumentou que o mundo pode reduzir as emissões sem abandonar combustíveis específicos.

A cúpula teve a participação de 200 chefes de Estado do mundo e as negociações aconteciam desde 30 de novembro.

A nota da cúpula diz que “o balanço global é considerado o resultado central da COP28 – uma vez que contém todos os elementos que estavam em negociação e podem agora ser utilizados pelos países para desenvolver planos de ação climática mais fortes, previstos para 2025”.

“O balanço reconhece a ciência que indica que as emissões globais de gases com efeito de estufa precisam de ser reduzidas em 43% até 2030, em comparação com os níveis de 2019, para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Mas observa que as partes estão fora do caminho no que diz respeito ao cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris. O balanço apela às partes para que tomem medidas no sentido de alcançar, à escala global, a triplicação da capacidade de energia renovável e a duplicação das melhorias na eficiência energética até 2030”, diz trecho.

O ano de 2023 é o mais quente em 125 mil anos, como aponta o observatório europeu Copernicus.

COP28: Marina Silva comemora inclusão do objetivo de frear aquecimento em 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e comitiva participaram dos primeiros dias da COP28. Em seu discurso, o petista insistiu na redução gradual do uso de combustíveis fósseis por nações menos desenvolvidas, e cobrou das nações mais ricas que pagassem a fatura.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva, permaneceu na conferência até o fim e comemorou o fato de o texto final ter incluído a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris, que é limitar o aquecimento global a 1,5ºC.

O documento de 2015 cita a possibilidade de aquecimento até 2°C, o que representa um risco maior de eventos climáticos extremos.

Contudo, Marina ratificou a fala de Lula, afirmando que os países desenvolvidos precisam tomar a dianteira na transição energética e assegurar os “meios necessários para os países em desenvolvimento poderem implementar suas ações de mitigação e adaptação”.

Nas discussões ao longo das últimas semanas, o Brasil, que levou a maior delegação desta COP (1.337 participantes), defendeu uma linguagem mais forte para o compromisso sobre combustíveis fósseis.

Anne Rasmussen, negociadora-chefe de Samoa, que falou em nome dos outros 38 países da Aliança dos Pequenos Estados Insulares, criticou a versão final do texto.

Ela destacou que as medidas não são suficientes para garantir uma resposta à urgência de locais que correm o risco de desaparecer e que foi aprovado sem a presença da representante do país.

O presidente da COP28, Sultan al-Jaber, disse que as colocações dela seriam anotadas. O resultado da plenária, porém, não foi alterado pela fala.

Próximo passo é a COP de Belém

Para Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, o resultado da COP28 exige que o Brasil assuma a liderança nas questões climáticas. “Esse resultado da COP28, forte em sinais, mas fraco em substância, significa que o governo brasileiro precisa assumir a liderança até 2024 e estabelecer as bases para um acordo da COP30 em Belém [Pará] que atenda às comunidades mais pobres e vulneráveis do mundo e à natureza”, disse.

A cúpula no Brasil, em 2025, terá a missão de atualizar as metas climáticas dos países, as chamadas NDCs. Para o trabalho em conjunto com a presidência da COP28 e da COP29, que será realizada em 2024 em Baku, no Azerbaijão, Marina Silva contou que foi criada uma troica para traçar o “mapa do caminho” para limitar o aquecimento em 1,5°C.

“Ele [governo do Brasil] pode começar cancelando sua promessa de se juntar à Opep, o grupo que tentou e não conseguiu destruir essa cúpula. Sem uma ação real, o resultado de Dubai não será comemorado entre as comunidades de todo o mundo que estão sofrendo com os eventos climáticos extremos”, disse Astrini.

Durante a conferência de Dubai, o governo brasileiro aceitou associar-se à Opep+ (aliados à Opep) e foi bastante criticado por isso.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo

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