Por Armando Holanda*
No último sábado (28), ocorreu mais um debate televisionado entre os candidatos à prefeitura de São Paulo. Desta vez, pela Record TV. O assunto está dominando a internet. Mantendo uma certa frequência. No entanto, o que está chamando atenção não é o debate, mas as restrições feitas para que ocorram.
O assunto virou um verdadeiro chamariz de caça-cliques em toda a grande mídia. Não pelo momento em si, mas por conta das adaptações nos materiais e cautelas que estão sendo tomadas pelas emissoras — em forma de ‘caça-cliques’.
Por qual motivo eu digo que é uma espécie de ‘caça-cliques’? A própria lei eleitoral, artigo 46 da Lei nº 9.504/1997, versa sobre o tema. As emissoras de rádio e televisão não são obrigadas, pela legislação, a convidar todos os candidatos registrados na Justiça Eleitoral. A prerrogativa para este convite deve ser fixada à representação mínima da sigla no Congresso Nacional de, pelo menos, 5 parlamentares na Casa. Estes, sim, devem ser chamados para o debate.
Com base nisso, emissoras como Record, TV Cultura, entre outras, não deveriam chamar, por exemplo, o Pablo Marçal para as discussões políticas televisionadas. O fato de não convidarem o indivíduo não traria o que muitos esperam sobre “liberdade de expressão”. Muito pelo contrário, o debate poderia ser até mais saudável. O que, de fato, precisa ser. O comportamento dos parlamentares e políticos em geral mede, para a população, o que pode e o que não pode ser feito por um cidadão comum.
Desde as brigas no Congresso Nacional, protagonizadas pelo André Janones e Nikolas Ferreira, além de agressões verbais utilizadas por parlamentares contra deputados progressistas, a exemplo da Erika Hilton, todas essas situações ilustram bem o comportamento e o exemplo que os políticos brasileiros estão dando à população. “Bem, se eles podem fazer isso ou aquilo outro, eu também posso”, pensa uma maioria tomada por um senso comum de ação.
Essas cautelas são um termômetro de como está a política brasileira e o quanto a grande mídia está disposta a tudo pelo clique, pela viralização, pelo zum zum zum. “Fale bem ou fale mal, mas falem de mim” nunca antes fez tanto sentido. Na era da internet, tudo vale. Será que realmente “vale tudo” mesmo? O jornalismo é uma instituição séria e que precisa de ações sérias. Se os candidatos não se dão ao respeito, tampouco deveriam ser convidados para os debates. Até porque não há muito sentido de chamamento após comportamentos semelhantes aos comportamentos de animais — com o perdão aos animais que, ao menos, respondem bem a um comando.
Além disso, a falta de um debate plural e democrático também gera um distanciamento entre a política e a população. Os cidadãos, ao não verem seus candidatos, especialmente os que representam minorias, sendo ouvidos, podem se sentir desiludidos com o processo eleitoral. Essa desconexão pode resultar em um desinteresse crescente nas eleições, perpetuando o ciclo de apatia política que já observamos. Quando apenas uma parte dos candidatos tem voz, o resultado não é um debate enriquecedor, mas sim um espetáculo vazio que não reflete a diversidade da sociedade.
Por fim, é crucial que as emissoras reconsiderem suas estratégias de seleção de candidatos para debates. O papel da mídia não deve ser apenas garantir audiência, mas também promover uma discussão saudável e construtiva. Se os debates forem apenas uma plataforma para a promoção de certas figuras, o público perde a oportunidade de conhecer propostas diversas e, consequentemente, de exercer seu direito ao voto de forma consciente. O verdadeiro valor do debate está na capacidade de engajar e educar a população, não apenas em criar conteúdo que impulsione cliques momentâneos.
*Armando Holanda é jornalista formado pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Pós-graduando em UX pelo CESAR SCHOOL. Vencedor do prêmio Jovem Jornalista do Instituto Vladimir Herzog de 2020.
Deixe um comentário