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Em formato inovador, debate no ICL apontou caminhos para a esquerda no Brasil

Conversa reuniu pensadores e políticos para discutir o cenário atual e as perspectivas para o futuro do campo progressista
17/10/2024 | 13h29

No esforço de contribuir para o debate público no campo progressista, o Instituto Conhecimento Liberta realizou debate sobre os caminhos da esquerda na noite desta quarta-feira (16), data em que o ICL comemorou 4 anos de existência. A discussão foi feita em novo formato, parecido com um debate eleitoral, o que resultou numa conversa mais dinâmica e produtiva.

Participaram Manuela D’ávila, Márcia Tiburi, Jessé de Souza, Jones Manoel, Lindbergh Farias e Renato Freitas. A mediação foi de Eduardo Moreira.  No primeiro bloco, os participantes puderam escolher um entre seis temas a ser comentado por outro debatedor. Em seguida, deveriam responder perguntas dos jornalistas do ICL: Chico Pinheiro, Xico Sá, Gaby Varella, Roberta Garcia, Fábio Pannunzio e William de Lucca.

No terceiro e último bloco, tiveram tempo de quatro minutos para uma fala final. Outra novidade do debate foi a “carta do minuto” concedida a cada um dos debatedores para ser usada no momento em que quisesse.

O sociólogo e também fundador do ICL, Jessé de Souza, que escolheu o tema do distanciamento da esquerda em relação às bases no primeiro bloco, ressaltou que o campo da esquerda “não foi inteligente o bastante propor alternativas. Faltou e ainda falta a construção de um grande projeto nacional.  Não é só o Lula dizer que precisa dar comida para as pessoas. A gente tem que ter alguma coisa para dizer a essas pessoas e tem que explicar a elas porque elas ficaram mais pobres. Ninguém faz isso”.


Respondendo a Jessé, o deputado estadual paranaense Renato Freitas (PT) apontou que “o conteúdo ideológico das campanhas eleitorais e dos movimentos políticos têm sido pautados pela direita porque a esquerda tem cada vez menos coragem de dizer seu nome. Não coloca pautas como, por exemplo, a reforma agrária, que é uma pauta que deveria falar com 90% da população brasileira sob o pretexto de que a população ainda não está madura para essa pauta. A população está pronta e madura para as pautas radicais e é a extrema direita que tem aproveitado isso”.

‘País enfrenta contrarrevolução conservadora’

O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) e o historiador Jones Manoel apresentaram visões divergentes sobre o governo Lula. Para Lindbergh, o país enfrenta uma contrarrevolução conservadora e de direita. “Nós ganhamos pela força do Lula, agora não paramos a contrarrevolução conservadora de direita a gente tem que derrotar essa turma daqui a dois anos e, por isso, o governo tem que dar certo”, defendeu Lindbergh.

Já Jones Manoel afirma que não tem condição de o governo atual dar certo quando ele está pautado numa política de austeridade. “A política de austeridade é incapaz de dar respostas objetivas aos anseios da classe trabalhadora. A grande encruzilhada brasileira é que, nesse momento, a gente tem uma direita tradicional neoliberal e uma extrema direita neoliberal e, supostamente, quem deveria polarizar pela esquerda que é o governo Lula vem aplicando também uma política neoliberal tocada pelo ministro Fernando Haddad. A continuidade disso não tem como dar certo”, opinou Jones.

Esquerda precisa de novo partido?

Manuela D’ávila, ao responder uma pergunta de Roberta Garcia sobre se não estaria na hora de criar um novo partido de esquerda para partir para o enfrentamento com a direita, disse que uma das questões mais importantes de hoje é que “a esquerda brasileira supere um discurso superficial, ou um discurso de quem não se dedica a compreender o Brasil e o povo brasileiro, que cria uma contradição entre a luta das mulheres, a luta dos negros e das negras com a luta pela possibilidade de o Brasil se desenvolver”. Segundo ela, “cada vez que uma certa esquerda diz que isso é debater identidade, nós nos afastamos mais e mais dos problemas reais que o povo brasileiro vive. A esquerda tem de superar esse debate atrasado entre raça, gênero e classe.”

E Márcia Tiburi falou sobre a influência do campo religioso no debate político, a partir de uma provocação de Chico Pinheiro. “Eu acho que a sociedade civil todo mundo deveria fazer parte de um movimento pela lei cidade do estado, que garantiria um pilar básico pra gente continuar vivendo numa sociedade democrática. Sem isso nós estaremos sempre sujeitos à pauta moral dessas igrejas, mas também ao abuso de poder dessas igrejas.”

 

SAIBA MAIS:

O que esperar da esquerda num país pautado pela extrema direita reacionária?

 

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