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Por Gabriel Gomes

Um dos fenômenos eleitorais das eleições municipais deste ano, o influenciador digital Rick Azevedo, de 30 anos, foi o vereador eleito pelo PSOL do Rio de Janeiro com menos investimentos e mais votos (29.364) do partido. Rick é fundador do movimento Vida Além do Trabalho (VAT).

O movimento tem como principal pauta o fim da jornada de seis dias de trabalho para um de folga (6×1), luta para a qual já conseguiu reunir mais de 1,3 milhão de assinaturas em uma petição pública. A luta alcançou o Congresso Nacional, com uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), pela redução da jornada de trabalho

Com a eleição de um representante, o movimento, que pretende se manter independente, espera ampliar o debate sobre o assunto.

“Queremos criar um espaço permanente na Câmara para discutir as condições de trabalho e garantir que as pautas do VAT não sejam apenas momentâneas, mas parte de um projeto duradouro de respeito e valorização do trabalhador… meu papel agora é transformar essa luta em políticas concretas”, diz Rick Azevedo.

Rick Azevedo é fundador do movimento Vida Além do Trabalho (VAT). (Foto: Reprodução)

Início do movimento

O movimento Vida Além do Trabalho (VAT) surgiu a partir da indignação de Rick Azevedo com a jornada de trabalho que levava em seu trabalho como balconista de farmácia. A partir disso, ele começou a fazer vídeos para redes sociais com desabafos que viralizaram.

A partir da repercussão, Rick reuniu diversos trabalhadores de todo o país, organizados em grupos de Whatsapp e Telegram por estado. “O movimento representa todos aqueles que não aceitam mais viver para o trabalho, que desejam dignidade, descanso e uma vida além da rotina de exploração”, explica.

Nos grupos de aplicativos de mensagem são discutidos estratégias para a luta pelo fim da escala 6×1.

“Operamos com recursos limitados, contando com a dedicação de voluntários que, mesmo após jornadas exaustivas, se empenham em organizar ações e fortalecer nossa rede de apoio”, diz Rick Azevedo.

PEC em tramitação no Congresso

Um dos principais feitos do grupo no campo político, até o momento, foi a articulação para uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de autoria da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), na Câmara dos Deputados. A proposta busca revisar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para reduzir a jornada de trabalho no Brasil e, na prática, pôr fim à escala 6×1.

Para avançar, o texto precisa ter o apoio de 171 parlamentares. Até agora, a deputada federal de São Paulo recolheu 71 assinaturas.

Erika Hilton apresentou PEC para pôr fim à escala 6×1 na Câmara dos Deputados.

Representação na Câmara do Rio de Janeiro

A eleição de Rick Azevedo para a Câmara de Vereadores do Rio foi considerada surpreendente por muitos, inclusive por seu próprio partido, o PSOL, em que foi o mais votado na cidade. Rick Azevedo recebeu R$60 mil do diretório estadual da legenda para a campanha, valor bem menor que os outros três eleitos: Mônica Benício, William Siri e Thais Ferreira, com R$300 mil cada.

No mandato, Rick afirma que pretende focar na luta dos trabalhadores. “A luta pela mudança da escala de trabalho, que o VAT representa, é apenas uma parte da minha missão”, diz.

“Vou trabalhar para garantir condições dignas de trabalho e, principalmente, pela saúde mental dos trabalhadores, pois eu mesmo já fui vítima de depressão e burnout. Sei o quanto o peso de uma rotina exaustiva pode afetar a vida de alguém e quero evitar que outras pessoas passem pelo mesmo sofrimento”, completa.

O Brasil foi o segundo país com mais casos de burnout (doença ocupacional decorrente do esgotamento físico, emocional e mental), segundo a pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR), realizada em 2021. Cerca de 30% dos trabalhadores no pais sofrem com a síndrome.

Cerca de 30% dos trabalhadores no pais sofrem com burnout.

Renovação da esquerda

Para Rick Azevedo, a luta por melhores condições de trabalho e pela mudança na escala pode representar uma renovação da esquerda, com maior conexão com a “base”. Ele avalia que muitos trabalhadores se sentem distantes da política.

“Essa pauta é uma chamada à esquerda para voltar o olhar ao que realmente importa para o trabalhador: qualidade de vida, dignidade e o direito ao descanso. A luta pelo fim da escala 6×1 coloca essas questões de volta no centro das atenções e mostra que estamos ouvindo a base. Essa renovação vem da busca por um vínculo verdadeiro com o trabalhador, que é quem constrói o país”, concluiu.

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