Nem mesmo as sanções econômicas mais duras da história moderna impostas pelos Estados Unidos e pela Europa, em resposta à invasão da Ucrânia, foram capazes de conter a ascensão da moeda russa, o rublo. Ela se tornou a de melhor desempenho do mundo em relação ao dólar até agora este ano, superando inclusive o real brasileiro. A demanda da Europa por gás russo contribui para essa valorização.
Em 7 de março, a moeda russa atingiu a mínima histórica de 0,007 rublos por dólar. Mas agora a ela se valorizou em aproximadamente 15% em relação à moeda americana e está sendo negociada em torno de 0,016.
Segundo especialistas ouvidos pelo G1, entre os motivos para essa valorização estariam os rígidos controles de capital impostos pelo Kremlin, quando a guerra com a Ucrânia começou, que teriam provocado filas de russos nos caixas eletrônicos em busca de dólares.
Esses controles serviram para congelar grande parte das reservas cambiais da Rússia no momento em que o país mais precisava desses recursos, tanto para compensar o êxodo de investimentos e capital quanto para financiar a invasão militar da Ucrânia, que tem sido mais longa do que o inicialmente planejado pelo Kremlin.
Após tomar conhecimento das sanções internacionais, o Kremlin também passou a adotar algumas medidas. As taxas de juros mais que dobraram e foram para 20%. Os exportadores russos foram forçados a converter 80% de sua renda externa em rublos, e as pessoas ficaram limitadas em termos de quanto poderiam transferir para o exterior. Uma das sanções que mais impactou a Rússia foi o congelamento de contas no exterior.
Porém, na avaliação do economista do Portal ICL André Campedelli, o principal motivo para a valorização do rublo é a dependência dos países da Europa do gás proveniente da Rússia, que tem de ser pago em rublos e, neste momento de escassez de energia, se torna precioso.
Neste sentido, uma medida de defesa do moeda russa foi exigir que compradores de gás natural pagassem em rublos, em vez de dólares ou euros. A decisão da Rússia foi uma retaliação estratégica contra a União Europeia, aproveitando seu poder como principal fornecedor de gás natural para o continente europeu. Cerca de 40% do gás consumido pela Europa era fornecido por companhias russas antes da guerra na Ucrânia.
Apesar da busca por fontes alternativas de energia, o projeto da União Europeia de interromper o fornecimento da Rússia levará anos para ser concluído.
A Alemanha, um dos maiores clientes da estatal russa de gás Gazprom, já concordou em pagar em rublos junto com outros grandes compradores europeus.
Mais rublos para pagar por petróleo mais caro
Por fim, os preços mais altos das commodities também ajudaram muito. Petróleo mais caro significa que os clientes da Rússia agora terão que pagar mais dólares por barril e, portanto, precisam de mais rublos.
No entanto, especialistas apontam que os três fatores — controles rígidos de capital, taxas de juros mais altas e preços mais altos das commodities — só conseguiram atenuar o que será um ano problemático para a economia russa.
O rápido aumento do rublo é um problema para exportadores e alguns produtores domésticos, aumentando a pressão das sanções. Também significa menos receita para o orçamento, avaliam alguns economistas.
É importante ressaltar que a força da moeda tornou as exportações russas menos competitivas e as sanções mais rígidas dos EUA aumentaram as chances de um calote da dívida. O fato é que o rublo traça uma imagem precisa da balança de pagamentos, mas não da economia como um todo, onde as perspectivas são mais sombrias, explicam analistas consultados pelo G1.
Redação ICL Economia
Com informação das agências de notícias
Deixe um comentário