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Brasil importa mais da Rússia e mostra a dependência da agricultura nacional em relação ao fertilizante russo

Enquanto a Rússia sofre embargos comerciais, financeiros e diplomáticos por parte de EUA e Europa, Brasil opta por aumentar a dependência de produtos, como o fertilizante russo e, em negociação, o diesel vindo da Rússia
08/08/2022 | 19h41

Enquanto países da Europa e Estados Unidos impõem sanções às importações da Rússia, o Brasil aumenta o número de itens comprados. A Rússia registrou um aumento de 95% nas exportações ao Brasil entre janeiro e julho de 2022. Especialistas no assunto ressaltam que a dependência do fertilizante russo, produto mais importado, mostra o desmantelamento da indústria brasileira. 

Em 2021 – antes do conflito –, a Rússia ocupava a 11ª posição no ranking dos países com maior participação no mercado brasileiro. Hoje, a Rússia é a quinta colocada nas vendas ao Brasil, superando vendas do México, Coreia do Sul, Japão, Canadá e o acumulado de todos os países da Comunidade Andina. 

Os dados são do Ministério da Economia e apontam ainda que, com o aumento do fluxo, os russos superaram alguns dos tradicionais parceiros comerciais do Brasil.

Desde fevereiro, o governo russo sofre embargos comerciais, financeiros e diplomáticos por parte de EUA e Europa. As medidas foram tomadas por conta da invasão da Ucrânia e na esperança de asfixiar a economia russa.

No Itamaraty, negociadores relataram à reportagem do UOL que, ao longo dos primeiros meses da guerra na Ucrânia, uma forte pressão foi feita por americanos e europeus sobre o Brasil para que o governo de Jair Bolsonaro aderisse às iniciativas para isolar a Rússia. Em junho, o presidente Vladimir Putin avisou China, Índia, Brasil e África do Sul que iria redirecionar as vendas.

Em meados de julho, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, conversou pelo telefone com o presidente do Brasil. “Eu peço que todos os parceiros comerciais se unam às sanções contra o agressor”, afirmou Zelensky em sua redes sociais, ao explicar a conversa com Bolsonaro.

O Palácio do Planalto, porém, não atendeu aos pedidos para aderir às sanções e manteve o diálogo com o Kremlin, inclusive optando por abstenções em resoluções na ONU contra Putin. Em certos debates, a diplomacia brasileira chegou mesmo a criticar as sanções contra a Rússia, alertando para o fato de que as medidas poderiam causar um aumento substancial da fome no mundo.

Sem qualquer tipo de sanções, os dados oficiais confirmam a expansão no fluxo russo com o Brasil. Entre janeiro e julho de 2021, o país tinha importado da Rússia um total de 2,6 bilhões de dólares. Já nos sete primeiros meses de 2022, a conta subiu para 5,1 bilhões de dólares.

No mesmo período, o Brasil aumentou importações em média de todo o mundo a uma taxa de 32%. Assim, se em 2021 os produtos russos representavam 2,2% de toda a importação brasileira, hoje eles já ocupam 3,3% das compras nacionais. 

No atual ritmo, não se descarta que o volume possa ultrapassar as compras de produtos argentinos feitas pelo Brasil, avaliada hoje em 7,1 bilhões de dólares nos sete primeiros meses do ano.

Dois aspectos pesaram. O primeiro deles foi o aumento real no preço de combustíveis, o que fez com que, em valores, o aumento na importação ao Brasil fosse registrado. O mesmo fenômeno chegou a ocorrer entre os europeus e outros parceiros.

Dependência de fertilizante russo mostra desmantelamento da indústria brasileira 

Um aspecto que pesou no aumento compra de produtos da Rússia foi a decisão do Brasil de antecipar a importação de fertilizante russo, justamente para garantir o abastecimento para a agricultura brasileira. Importante ressaltar que o Brasil fechou fábricas de fertilizante.

“A maior importação de fertilizante é resultado de um desmantelamento geral da política nacional ligada a fertilizantes no Brasil. A pergunta que se faz é  sobre o projeto que o país quer para cada setor, como o da agricultura, que é tão significativo para a economia brasileira. Vai depender da Rússia em relação ao fertilizante russo? É parte do de um projeto nacional?”, questionou o economista e fundador do ICL, Eduardo Moreira, durante entrevista ao jornalista Jamil Chade.

Moreira afirma que o Brasil tem de se posicionar da melhor forma possível para não criar dependência de outro país. Buscar alianças equilibradas na política externa para que qualquer tipo de mudança global não afete o Brasil lá na frente.

O volume de importação também resultou do aumento do preço de combustíveis no mercado internacional, o que fez com que, em valores, o aumento na importação ao Brasil fosse registrado.

Em Brasília, a expectativa é de que o fluxo comercial continue em um ritmo intenso. De fato, entre julho de 2021 e julho de 2022, o aumento nas importações vindas da Rússia foi de 127%, um dos maiores saltos entre os principais parceiros comerciais do Brasil.

Segundo informações publicadas no UOL, o Brasil ainda recebeu uma licença do governo russo para começar a importar também diesel, numa manobra que tem como objetivo contribuir para reduzir os preços dos combustíveis no país. De acordo com diplomatas, há neste momento uma negociação para estabelecer preços e condições para essa importação.

Redação ICL Economia
Com informações das agências e do ICL Notícias

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