O fenômeno dos Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores (CACs) foi usado como trunfo eleitoral nas eleições de 2022. Derrite foi um entre outros que explorou tal trunfo no seu marketing político.
Acho muito estranho quando o noticiário da grande imprensa caracteriza a atuação do Capitão Derrite (PL-SP), como secretário de Segurança Pública de São Paulo no governo Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), como se fosse uma surpresa. Há quem o apresente como a versão radicalizada do governador moderado.
É preciso o mínimo de sofisticação para dissimular tanto e fingir contrariedade republicana.
Os 239.772 eleitores que o reconduziram para o segundo mandato na Câmara dos Deputados esperavam justamente isso dele: um policial em rota de colisão especialmente nos territórios periféricos. Utilizou como slogan de campanha a seguinte ideia belicosa:
A única coisa que pode parar um homem mau armado é um homem bom armado.
Quais os candidatos à Câmara dos Deputados eleitos nas eleições de 2022 comprometidos com a agenda armamentista e como se apropriaram da identidade política classificada como direita conservadora cristã?
As vitórias eleitorais expressivas de quadros identificados como pró-armas decorreram dos incentivos do então Presidente Jair Bolsonaro. O pleito de 2022 consagrou nas urnas candidatos que fizeram da linguagem bolsonarista a sua identidade, e por extensão, ofertas de representações políticas dando centralidade à pauta armamentista.
Monitorei a nova composição da Câmara dos Deputados após o primeiro turno das eleições. A partir dos dados preliminares, identifiquei 40 deputados eleitos que durante a campanha se apresentaram como pró-armas. Cheguei a esse número utilizando o critério de campanhas que produziram vídeos e utilizaram ostensivamente slogans que davam centralidade à questão da segurança pública relacionada ao direito dos indivíduos a posse e porte de armas.
Durante a campanha do Bolsonaro em 2018 foi hasteado o lema “Deus, Pátria e Família”. O que teria mudado nas eleições de 2022 em que Bolsonaro tentava a reeleição? Foi acrescido um item: liberdade.
Constatamos o efeito do slogan transformado em identidade visual e identidade ideológica pelas campanhas dos candidatos à Câmara Federal que pretendiam vincular suas representações à imagem política do Bolsonaro.
Dito em outros termos: campanhas eleitorais para deputados espelhadas no marketing da campanha do Bolsonaro à Presidência da República. Dessa forma, o lema “Deus, Pátria, Família e Liberdade” não funcionou como mero bordão.
O acréscimo do elemento discursivo em torno da “liberdade” não se restringiu ao debate relativo à teoria liberal (econômica e política).
Na versão bolsonarista, na campanha eleitoral de 2018 foi explorada a ideia de liberal na economia e conservador nos costumes. Na campanha eleitoral de 2022, foi acrescida a ênfase na liberdade, segundo a concepção de que um povo livre passa necessariamente pela liberdade de indivíduos armados.
Para Derrite e seus parceiros da bancada autodeclarada armamentista, conservadora e cristã, a liberdade individual frente ao estado justificaria as flexibilizações do acesso às armas.
Enquanto Secretário de Segurança Pública de São Paulo no governo Tarcísio de Freitas, Derrite está apenas cumprindo promessa de campanha.
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