Na investigação do plano para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, a Polícia Federal encontrou no material apreendido com o general Mário Fernandes “um verdadeiro planejamento com características terroristas, no qual constam descritos todos os dados necessários para a execução de uma operação de alto risco”.
O texto traz em tópicos o planejamento de uma operação clandestina, com todos os requisitos para a execução.
O documento denominado “Demandas de Rec Op (levantamentos)” começa referindo-se aos movimentos para identificar o aparato de segurança pessoal do ministro Alexandre de Moraes e os itinerários mencionados indicam prováveis rotas de deslocamento em Brasília à época.
O documento menciona que foi feito reconhecimento de pelo menos duas semanas nas regiões de DF e SP, os dois estados em que o ministro circula, e revela uma lista de itens necessários para a execução da operação. Há detalhes sobre o método de comunicação, a quantidade de aparelhos e “até mesmo a operadora telefônica que seria escolhida para as comunicações durante as atividades de acompanhamento e vigilância do ministro”.
Foi a mesma estrutura de comunicação utilizada na denominada operação ‘Copa 2022’, em que militares das Forças Especiais executaram uma ação clandestina no dia 15 de dezembro de 2022, para prender ou executar Moares em Brasília, diz o documento.
“A ação empregou seis telefones celulares com chips da operadora TIM, habilitados em nomes de terceiros e, associados a codinomes de países para anonimização da ação criminosa”.
O documento elaborado pelo general Mário Fernandes, em 9/11/2022, também continha tópicos relacionados à munição que seria utilizada na ação clandestina. Diz a PF: “Na sequência, a lista com o arsenal previsto revela o alto poderio bélico que estava programado para ser utilizado na ação. As pistolas e os fuzis em questão (‘4 Pst 9 mm ou .40” e “4 Fz 5,56 mm, 7,62 mm ou .338’) são comumente utilizados por policiais e militares, inclusive pela grande eficácia dos calibres elencados. Chama atenção, sobretudo, o armamento coletivo previsto, sendo: 1 metralhadora M249 — MAG — MINIMI (7,62 mm ou 5,56 mm), 1 lança Granada 40 mm e 1 lança rojão AT4. São armamentos de guerra comumente utilizados por grupos de combate”.
O documento dos golpistas detalhou o efetivo necessário para a execução do crime. Seriam seis pessoas em Brasília. Houve análise de riscos e impactos da ação, possível ocorrência de “baixas aceitáveis”.
Segundo a PF, “foram consideradas diversas condições de execução do ministro Alexandre de Moraes, inclusive com o uso de artefato explosivo e por envenenamento em evento oficial público”.
“Há uma citação aos riscos da ação, dizendo que os danos colaterais seriam muito altos, que a chance de ‘captura’ seria alta e que a chance de baixa (termo relacionado a morte no contexto militar) seria alto”.
Para os investigadores, o contexto de emprego de armamentos extremamente letais, bem como de uso de artefato explosivo ou envenenamento revelam que o grupo investigado realmente trabalhava com a possibilidade de assassinato do ministro Alexandre de Moraes.
“Tal fato é reforçado pelo tópico denominado ‘Danos colaterais passiveis e aceitáveis’, em que o documento descreve como passível ‘100%’ e aceitável também o percentual de ‘100%’. Ou seja, claramente para os investigados a morte não só do ministro, mas também de toda a equipe de segurança e até mesmo dos militares envolvidos na ação era admissível para cumprimento da missão de ‘neutralizar’ o denominado ‘centro de gravidade’, que seria um fator de obstáculo à consumação do golpe de Estado”.
O documento que a PF juntou aos autos indica também a possibilidade de ações para o assassinato de Lula e de Geraldo Alckmin. O objetivo era “extinguir” a chapa presidencial vencedora do pleito de 2022.
Diz a PF: “Codinome JECA seria uma alusão ao atual presidente LUIS INÁCIO “LULA” DA SILVA. O texto cita que ‘sua neutralização abalaria toda a chapa vencedora, colocando-a, dependendo da interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos 3 Poderes, sob a tutela principal do PSDB’.
Considerando que o vice-presidente de Lula é Geraldo Alckmin, que é historicamente vinculado ao partido PSDB, em caso de uma “neutralização” de Lula, Alckmin assumiria a Presidência da República, o que faria a chapa vencedora ficar “sob a tutela principal do PSDB”, como sugere o autor. Para execução do presidente Lula, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico”.
Já quanto a Joca, codinome usado para identificar Alckmin, “sua neutralização extinguiria a chapa vencedora”.
“Como, além do presidente, a chapa vencedora é composta, obviamente, pelo vice-presidente, é somente na hipótese de eliminação de Geraldo Alckmin que a chapa vencedora estaria extinta”.
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