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Xico Sá

Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. Com passagem por diversas redações e emissoras de tv, ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. Participou de programas como Notícias MTV, Cartão Verde (Cultura), Redação Sportv, Papo de Segunda (GNT) e Amor & Sexo (Globo). É autor de Big Jato (Companhia das Letras) e A Falta (Planeta), entre outros livros. O colunista nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife.

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Até devoto de Ustra apela ao rito pela anistia do ‘mito’

Vale tudo para conseguir livrar Bolsonaro da cadeia; turma que prometeu eliminar Alexandre de Moraes e fechar STF, agora se apega aos detalhes legalistas
15/08/2024 | 15h09

Moraes usou TSE fora do rito para investigar bolsonaristas no Supremo, revelam mensagens”. A manchete da “Folha de S. Paulo” da terça-feira, 13, não trouxe a nitroglicerina pura que levaria o ministro Alexandre ao inferno do impeachment, como no desejo dos seus algozes.

A reportagem provocou, porém, além do barulho midiático, uma série de milagres no universo da extrema direita brasileira que idolatra o ex-presidente:

Nunca vi tantos pregadores da tortura — devotos do coronel Brilhante Ustra — com apego e zelo às mínimas firulas de um inquérito. No caso o inquérito das fake news e milícias digitais promovidas por estes mesmos legalistas de ocasião.

Nunca vi tantos louvadores da moral “bandido bom é bandido morto” a clamar por um rigoroso processo até o julgamento.

Nunca vi tantos defensores de um “legítimo estado de direito” no meio dos golpistas que tentaram impedir, com o uso da Polícia Rodoviária Federal, até o voto de eleitores nordestinos no segundo turno das eleições presidenciais de 2022.

Todos pelo rito. Até mesmo os envolvidos na montagem de bombas em um caminhão que provocaria, em pleno Natal, um atentado terrorista no aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília.

Nunca vi tamanho amor pelo rito na turma que jurou que fecharia o Supremo apenas com um cabo e um soldado. Nem precisaria de um jeep. Moleza.

Até o mais frio dos bolsonaristas que planejaram eliminar o ministro Alexandre de Moraes se apegou ao rito como uma criança a um pirulito.

Entre os presos do 8 de Janeiro, ouviu-se um coro patriótico na penitenciária da Papuda: rito, rito, rito. Os mais fanáticos neopentecostais chegaram a substituir, nesse momento solene e dantes improvável, a Bíblia pelas escrituras constitucionais.

Redatores de minutas de golpe, pasmem, rezam agora pelo rito e pela cartilha da legalidade.

Militares que serviram de “mula” para joias vindas das Arábias, amém, clamam pelo rito de manhã, de tarde e à noite.

Pela anistia do “mito”, vale adotar os 15 minutos de defesa da legalidade. Besta é quem ainda cai nessa lorota.

Até dona Fátima de Tubarão, a da célebre cena do cocô patriótico em pleno Palácio do Planalto, estaria disposta a juras escatológicas por amor ao rito.

Vale tudo pela anistia aos crimes do ex-presidente.

Só me resta, a propósito, finalizar com uma oração ritualística em latim: “Toxicus est rabidus, processum est tardus” — o bagulho é louco, o processo é lento, aqui na minha livre versão em latim para a letra clássica e jurídica de Mano Brown/Racionais MCs.

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