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Ditadura militar se isentava de culpa e responsabilizava consumidor pela inflação. Alguma semelhança com governo atual?

Ao invés de criar políticas públicas eficientes, o governo militar divulgava propagandas para pedir sacrifícios da população
06/06/2022 | 12h33

O momento atual que o Brasil vive, com inflação caminhando para o descontrole, militares em cargos estratégicos do governo, insegurança alimentar e queda do poder de compra, tem semelhanças com o passado vivenciado durante o período da ditadura militar (1964-1985).

A comparação veio à tona em vídeos sobre inflação, de 1977, disponibilizado nas redes sociais. À época da ditadura militar, a inflação beirava os 40% ao ano e as campanhas publicitárias da ditadura militar responsabilizavam os consumidores e comerciantes pela alta dos preços.

Em um dos vídeos, o locutor diz que “o custo de vida é culpa de quem compra e de quem vende” e, em outra publicidade, os clientes são estimulados a trocar o tomate caro por um pepino.

O professor de história e pesquisador Lucas Pedretti reuniu alguns desses vídeos e disponibilizou em seu Twitter (veja aqui), e o tema foi notícia no ICL Notícias, na Folha de S. Paulo e no portal UOL.

As semelhanças com o período da ditadura militar, inclusive no modo de agir dos governantes, é inevitável. Ao invés de criar políticas públicas eficientes, o governo da ditadura militar divulgava propagandas para pedir sacrifícios da população para enfrentar a crise econômica.

A  propaganda diz do vídeo diz: ‘Tomate caro? Troque por pepinos’ “Você está vendo tomates com cor de tomates, com jeito de tomates. Mas o preço não é de tomates. É caro! Caríssimo, se você comprar. Porque se você não comprar, o preço vai ter que diminuir”.

A culpa na época da ditadura militar era sempre de quem precisava comprar o produto e não de quem vendia ou do governo que não tomava as medidas necessárias para conter a inflação. Exatamente como vemos atualmente, em muitas situações, o presidente Jair Bolsonaro agir. Um dos melhores exemplos é com relação ao preço dos combustíveis, em que o presidente diz nada poder fazer e transfere toda a culpa para a Petrobras, como se o governo não fosse o maior acionista da estatal e não tivesse poder de interferência na política de preços dolarizadas praticada.

Ditadura militar aprofundou desigualdades sociais

Entrevistado pelo UOL, o professor Lucas Pedretti afirma que, de 1964 a 1985, o salário mínimo no Brasil caiu 50% em valores ajustados pela inflação. “Há um discurso de que a ditadura alavancou o desenvolvimento do país — mas isso não se sustenta. O milagre econômico foi baseado no aprofundamento de desigualdades sociais e fez os anos 1980 ficarem conhecidos como a década perdida”, diz.

O Brasil teve um crescimento expressivo do PIB (Produto Interno Bruto), que girou em torno dos 10%, mas grande parte dessa expansão foi devido a empréstimos tomados de instituições internacionais e, entre a primeira e a segunda crise do petróleo, a dívida externa brasileira foi de US$ 12,5 bilhões para US$ 50 bilhões. Entre a segunda crise e o fim do regime militar, ela praticamente dobrou, chegando a US$ 96 bilhões.

Ainda na primeira metade da década de 1970, o país já começava a enfrentar as consequências do chamado choque do petróleo.

‘Fiscais do Sarney’ entram em cena com inflação de 242% ao ano

O engajamento da população e sua responsabilização pela inflação também pode ser visto no governo José Sarney – presidente eleito indiretamente pelo Congresso Nacional em 1985. Neste ano, a inflação atingia 242% e, quando deixou do governo, cinco anos depois, o índice estava nos surpreendentes 1.973% ao ano.

Outro especialista ouvido pela reportagem do UOL, Vinicius Müller, diz ver semelhanças entre a propaganda do governo militar sobre custo de vida e a propaganda do governo Sarney. Em 1986, surgiu a personagem do “fiscal do Sarney” —donas de casa e pais de família que vigiavam supermercados, padarias e afins para coibir a remarcação dos preços na calada da noite.

“Durante 1986, após a execução do Plano Cruzado, o governo ampliou sua campanha em favor de um engajamento da sociedade no combate à inflação. Embora essa estratégia tenha seus méritos, os problemas, tanto de formulação quanto de execução daquele conjunto de medidas econômicas acabaram sendo tratados como secundários em favor de uma explicação que creditava a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso do plano ao engajamento popular”, afirma Müller.

Redação ILC Economia
Com informações do UOL e Folha de S. Paulo

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