Quero começar a nossa reflexão de hoje com algumas perguntas que ainda ficaram ecoando no ar após o Carnaval. Porque a utilização da língua iorubá em samba enredo é motivo de penalidade?
Será que, realmente, os temas carnavalescos que fazem homenagem às culturas africanas são difíceis de entender? Quais são os motivos da demonização, da marginalização e do preconceito sobre as escolas de samba que ousam levar a diversidade, o respeito e a tolerância para passarela?
Obviamente que, além desses questionamentos, outras tantas perguntas ainda pairam no ar. Mas aqui o nosso objetivo é fazer uma reflexão que possa, de uma certa forma, chamar a atenção para os riscos que corremos quando o racismo e a intolerância estão camuflados em julgamentos e opiniões pessoais.
Para começar, é importante pontuar que o Carnaval de 2025 não foi diferente dos anos anteriores no que diz respeito as críticas, ataques e desrespeitos. Assistimos atos de intolerância que demonizaram e hostilizaram as manifestações da formação histórica e social do Brasil. Sim, pois o Brasil é indígena e africano!
O Carnaval foi e sempre será uma exaltação das nossas identidades. Por isso, a favela, os terreiros de religiões de matrizes africanas, as comunidades indígenas e quilombolas são exaltadas. Pois estão saindo da subalternidade cotidiana que são submetidas e impostas do ponto de vista social, politico, econômico, cultural e espiritual.
Subalternidades que foram impostas desde o período colonial e ainda é um reflexo do pensamento da branquitude brasileira sobre os nossos corpos e nossas culturas. Assim, os olhares coloniais julgam como incompreensiva a cultura da ‘outridade’ — a favela, o terreiro e o quilombo — e buscam descredibilizar a cultura que não compreendem e não dominam.
Acredito que além de descolonizar os olhares sobre o Carnaval brasileiro precisamos, mais do que nunca, ter uma maior participação de pessoas enxergam e compreendem a favela, o terreiro e a culturas quilombolas, africanas e indígenas como parte da nossa formação social, cultural e espiritual.
Mas a esperança e a tolerância vão prevalecer!
Gabriel David, presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), ao tomar conhecimento se colocou contra o caso de preconceito na nota atribuída por uma das juradas e se manifestou dizendo que ” racismo religioso não tem espaço na Liesa”.
Como bem sabemos, não é o primeiro Carnaval que casos como esses acontecem. Deste modo, a manifestação do presidente da Liesa acena para um futuro possível em que a tolerância e o respeito às diversidades possam ser a base dos laços que nos unem.
Precisamos descolonizar! A favela é cultura, o terreiro é ancestral e o quilombo é, e sempre será, resistência.
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