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Política

Divisão da direita favorece Lula em 2026

Petista segue favorito, apesar das insuficiências de um governo apenas mediano
17/12/2024 | 11h54

Por Rodrigo Vianna

A recente internação do presidente Lula, para drenar um hematoma na cabeça, fez borbulhar — com dois anos de antecedência — as análises sobre o quadro político de 2026. Comentaristas alinhados com a direita saíram a comemorar, talvez cedo demais: Lula estaria fora do jogo!

A idade avançada do presidente somada a um ataque persistente do chamado mercado à economia brasileira seriam suficientes para finalmente encerrar a era Lula — o que a direita dá como fato consumado desde 2006, quando se anunciava que seria impossível a reeleição de Lula, após as denúncias de Roberto Jefferson que deram origem ao Mensalão.

As previsões catastrofistas deram errado em 2006: Jefferson, que construiu a falsa ideia do “Mensalão”, depois incensada por parte da imprensa, está hoje preso e condenado, enquanto Lula voltou ao poder e comanda a reconstrução democrática.

As previsões de fim da era Lula também fracassaram em 2010, 2014, 2022… E até em 2018, quando a vitória do capitão, para muitos, anunciava o ocaso lulista. Mas análises apressadas seguem a ser feitas, sem grande compromisso com a realidade, e muitas vezes geram desespero na própria esquerda.

Minha impressão, neste fim de 2024, é que — mantidas as condições atuais de saúde do presidente, e se a economia não desandar (ou seja, se a inflação permanecer controlada e se houver crescimento razoável, de 2%, apesar da alta dos juros) — Lula será candidato e com chances boas de vitória em 2026. Ou seja, é possível e até provável uma nova vitória de Lula, mesmo à frente de um governo apenas mediano.

Não se trata de torcida, mas de avaliação a partir de alguns parâmetros…

1 – Primeiro, é preciso constatar que o “lado de lá” está muito desarrumado. A extrema direita segue forte na sociedade, sim, mas falta uma expressão política que confira unidade a esse campo. Generais estão presos, o que é mais um fato a apontar os limites da extrema direita. Se em 2022 Bolsonaro unificou extremistas e boa parte dos liberais (com exceção daqueles que marcharam com Simone Tebet no primeiro turno, e depois se somaram a Lula contra a barbárie), dessa vez a tendência é a divisão. Com o capitão inelegível, devemos ter na urna:

  • Uma candidatura bolsonarista pura, bancada pela família.
  • Um outsider na linha de Pablo Marçal.
  • E mais um ou dois governadores de direita, que vão se matar para ter a primazia de ir ao segundo turno contra o lulismo (Ronaldo Caiado pelo União Brasil e Romeu Zema pelo Novo são alguns dos que se colocam na fila).

2 – Essa divisão pode levar a parte menos ideológica da direita a refazer seus cálculos, topando uma aliança com o lulismo já no primeiro turno. É o que começa a se desenhar: uma aliança de PSD e MDB com Lula.

3 – Do lado da frente democrática, temos um governo que não empolga. É fato. Mas todas as pesquisas mostram que Lula segue com cerca de 50% de apoio, o que aponta um quadro de congelamento de forças.
O eleitorado brasileiro, em eleições nacionais, parece muito consolidado em campos políticos bem definidos, com um pequeno manancial de votos a flutuar.

4 – Se Lula conseguiu vencer por estreita margem em 2022, mesmo estando na oposição e após uma intensa campanha de perseguição que o levara à cadeia, parece provável que agora — com a caneta na mão e contando desde logo com o apoio de nacos da direita — o petista tenha boas chances de chegar à urna um tanto mais forte do que chegou quatro anos antes.

5 – Se Lula não for candidato, por razões de saúde ou por escolha pessoal (isso não está descartado, dizem interlocutores que conhecem bem o presidente), o quadro muda bastante. O setor da direita kassabista e emedebista, nesse caso, pode antecipar o projeto Tarcísio de Freitas já para 2026.
Nesse cenário, a direita se unificaria (incluindo bolsonaristas, liberais da Faria Lima e kassabismo) e a frente democrática teria mais dificuldades, ainda que Fernando Haddad se mostre forte, como candidato lulista, na pesquisa Quaest divulgada neste mês de dezembro.

6 – Ao contrário do que defendem alguns militantes e dirigentes da esquerda, críticos da moderação e das insuficiências do governo Lula, o que tem garantido vitórias da esquerda nesses tempos difíceis pelo mundo é a amplitude e a moderação (vide as vitórias da Frente Ampla no Uruguai, de Lopez Obrador/Claudia Sheimbaun no México e mesmo do PSOE na Espanha).

7 – A constatação possível, a partir dos exemplos acima, é que o caminho para barrar a extrema-direita não parece ser um discurso mais radical ou revolucionário; ao contrário, a fórmula vencedora é ser radicalmente de centro esquerda! Não ceder em tudo, mas ampliar até onde for possível. Obrador, no México, foi sempre assim: moderado e firme ao mesmo tempo. E não titubeou em fazer a disputa de comunicação; nisso Lula tem muito a melhorar.

8 – Com essa tática ampla (e com Lula!), é possível vencer a extrema direita em 2026.

9 – Sem Lula, no entanto, a conta pode não fechar… A figura de Haddad (desde logo, aviso que não estou entre os que o definem como um “neoliberal petista”; considero um equívoco desconhecer que ele navega em mares revoltos, cercado por um mercado voraz, gerindo a economia a partir de um governo minoritário no Congresso) pode enfrentar grandes dificuldades para levar à urna o eleitor lulista — que se mantém fiel ao veterano líder, mas não vê grandes motivos para fazer a defesa de um governo até agora mediano e sem marcas populares.

10 – Ainda assim, considero um erro grave apostar em 2026 numa candidatura à esquerda de Lula/Haddad. Seria uma candidatura para acumular forças, sem chance de vitória, em meio a um cenário dificílimo a médio prazo. Se a frente democrática que se formou em torno de Lula perder a eleição em 2026, teríamos que nos preparar para ao menos 12 anos de inverno político.

Parece-me, diante disso, mais acertado preservar o que temos.

Se a sorte e a saúde de Lula nos ajudarem, conseguiremos em 2026 impedir que a extrema direita avance no terreno. Estamos com as trincheiras congeladas, como na Primeira Guerra Mundial. Preservar as posições, e ganhar fôlego para nova ofensiva, parece o mais prudente. E isso é possível, apesar de todas as dificuldades de um governo “encalacrado” — definição que ouvi outro dia do dirigente do MST João Pedro Stedile (e ele, ao contrário de mim, acha que o caminho é ir mais para a esquerda, desde logo…).

Boa sorte para os democratas em 2025 — um ano decisivo para impedir a volta da extrema direita ao poder no Brasil!

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