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Melhorou? 5 Motivos para entender a piora da economia para a população brasileira

Entenda os motivos pelos quais a nossa economia brasileira não apresentou melhora nos últimos anos e como isso afeta você
30/09/2022 | 11h33

Artigo de Deborah Magagna*

Muito tem se falado, inclusive por membros do Ministério da Economia, como o atual Ministro Paulo Guedes, que nossa economia apresentou melhoras durante os últimos anos, ou até mesmo que ela está decolando, segundo indicadores mais recentes. Mas será que realmente houve melhora nos dados econômicos brasileiros, e se houve será que esta melhora chega até você? Foram compilados os principais indicadores macroeconômicos do Brasil para seja possível compreender por que nossa economia não melhorou nos últimos anos, sobretudo para o trabalhador brasileiro. Além disso, uma comparação do Brasil em relação a outros países foi feita para que possamos entender como estamos situados em relação a outros países.

Desemprego

Tem sido comemorada, com frequência, a queda recente do desemprego no Brasil, que após um longo período de alta, caiu para aquém dos dois dígitos em maio deste ano. À primeira vista, os números podem parecer animadores, uma vez que o desemprego alto pode ser prejudicial em diversos pontos, como renda e crescimento, em uma economia. No entanto, quando os números são olhados de perto, podem ser um pouco mais desanimadores do que pareciam anteriormente.

O primeiro ponto para esse menor ânimo em relação aos dados de emprego é relativo ao crescimento da informalidade do mercado de trabalho no Brasil. Segundo os dados da PNAD contínua apresentados pelo IBGE, em julho os empregos com carteira assinada no setor privado cresceram 10% em relação ao mesmo período do ano anterior, já os postos de trabalho considerados informais, aqueles englobam trabalhadores sem carteira assinada, empregadores, trabalho por conta própria sem CNPJ e familiares auxiliares,  apresentaram um crescimento de 19,8%, quase duas vezes maior que os trabalhos formais na mesma base de comparação.

Essa tendência de precarização da formação dos postos de trabalho no Brasil já é observada desde 2017 com a instituição da reforma trabalhista, mas apresentou aceleração a partir de 2021, ao passo que o desemprego passou também a desacelerar.

Outro ponto em relação ao mercado de trabalho no Brasil que deve ser considerado é o nível atual de desemprego, que se considerado historicamente, ainda está em patamares elevados. Segundo a última PNAD contínua e o recente boletim de conjuntura, elaborado pelo DIEESE, ainda há, no Brasil, quase 10 milhões de pessoas desempregadas e este número ainda está longe de ser motivo de comemorações.

Além disso, a atual precarização do trabalho impulsionada pela Reforma Trabalhista, tem colocado os brasileiros e brasileiras em situação de fragilidade em relação a seus empregos e principalmente em relação à renda, que não tem apresentado melhoras significativas.

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Renda

Outro motivo que merece destaque é a renda média, sobretudo real, do trabalhador brasileiro. Em decorrência dos motivos já citados acima, como precarização do mercado de trabalho e aumento da informalidade, além da alta inflação que tem corroído o poder de compra do trabalhador, a renda média real da população brasileira tem apresentado tendência de queda nos últimos anos e com aumentos reais muito pequenos que quando acontecem mantém a renda praticamente estagnada.

Atualmente a renda média no Brasil se encontra em patamar de R$ 2.631, segundo a PNAD contínua referente ao mês de julho divulgada pelo IBGE em agosto, valor 1,34% maior do que o divulgado no mês anterior, após aumento no ganho real de R$ 37, mas 2,88% menor do que o mesmo período observado no ano anterior, com perda de R$ 80 de rendimento real, ou seja, em comparação a inflação, o brasileiro apresentou rendimento médio menor do que recebia em 2021.

É importante ressaltar que a melhora ocorrida na variação da renda média do brasileiro em 2020 em relação ao mesmo do ano anterior coincide com o início do pagamento do auxílio emergencial, que é contabilizado como rendimento pela PNAD, mas em seguida já pode ser notada trajetória de queda nos rendimentos reais, que inclusive passaram a incidir em perdas.

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As negociações salariais também não têm contribuído para melhora do rendimento real. Segundo o Dieese, mesmo com um cenário deflacionário observado nos últimos meses no Brasil, que diminuiu para o percentual necessário para a recomposição salarial, 49% das negociações ocorridas em agosto não apresentaram aumento acima da inflação e tiveram perda do poder de compra. Em média os salários tiveram perda real de 0,28% no mês. Dos 51% restantes, apenas 27,5% das negociações conseguiram aumento real, enquanto 23,5% somente recompuseram o INPC. O maior percentual de negociações salariais resultando em perdas salariais em relação a inflação tem se tornado cada vez mais recorrentes nos últimos anos, vale lembrar que em períodos anteriores, como em 2014, 90% das negociações resultavam em aumento real dos salários, ou seja, reajustes acima da inflação. Esta tendência observada em relação às negociações nos mostra que, mesmo diante de um crescimento econômico, a parcela da população que vem desfrutando destes ganhos não tem sido a trabalhadora.

Inflação

A inflação tem sido um dos maiores vilões da população brasileira, ora protagonizada pela alta no preço dos combustíveis, ora protagonizada pela alta nos grupos de alimentação e em alguns casos ambos dividiram a atuação na alta dos preços em nossa economia. O elevado índice de preços tem penalizado a população brasileira desde meados de 2020, quando passou a acelerar com maior intensidade. Em vários momentos, medidas poderiam ter sido tomadas para controlar os preços no Brasil, mas o governo nada fez. Foram 24 meses de aceleração inflacionária entre junho de 2020 e abril de 2022, quando atingiu o pico da alta nos preços de 12,13% acumulada em 12 meses.

Frente a uma intensa alta nos alimentos, que penaliza a população de menor renda do país, o atual governo poderia ter utilizado estoques reguladores, para ao menos tentar conter os preços de itens de consumo interno, como o arroz, feijão e outros grãos consumidos pelo brasileiro. Nada foi feito em relação a isso, e, diante da alta no preço dos alimentos ,substitutos de menor qualidade surgiram, quantidades foram diminuídas para reduzir os preços e o Brasil voltou a ter grande insegurança alimentar e um maior número de brasileiros passando fome.

Mesmo em relação a alta dos combustíveis, essa que tem peso maior entre os maiores estratos de renda, por muito tempo nenhuma medida foi tomada por meses. O Óleo Diesel, que possui um grande potencial inflacionário, pois uma alta significativa em seu preço pode impactar uma série de bens em cadeia, com aumento de custos como o frete, devido a nossa grande malha rodoviária, chegou a apresentar alta acumulada em 12 meses de 61,98% no IPCA de julho de 2022.

Os alimentos começaram a retrair primeiramente devido às melhoras climáticas, que favoreceram o cenário para alguns bens produzidos próximos a centros urbanos, como no caso de algumas hortaliças, o segundo motivo que contribuiu para o recuo recentemente, foi a queda no preço das commodities no mercado internacional, que impactou, sobretudo no mês de agosto e na prévia trazida pelo IPCA-15 em setembro.

Já os combustíveis passaram a recuar inicialmente após o corte do ICMS realizado pelo governo, no entanto, a medida não somente teve seu efeito limitado a alguns meses, como também deixou os Estados e Municípios brasileiros em situação delicada, especialmente em relação a reduções orçamentárias de recursos destinados à saúde e à educação.

As quedas mais recentes nos combustíveis foram decorrentes do recuo nos preços do petróleo Brent no mercado internacional, que, assim como outras commodities, sofreu os impactos das incertezas em relação a desaceleração global e uma menor demanda vinda da China. Diante da queda do preço do petróleo, a política de preços da Petrobras, que inclusive permaneceu intocada em momentos de fortes altas nos combustíveis, a companhia precisa repassar as variações para seus preços internos, o que recentemente reduziu os preços dos combustíveis no Brasil.

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Apesar das recentes quedas que levaram o índice à deflação, os patamares inflacionários continuam altos no país.

Alta nos preços de itens básicos de consumo da População

Embora o índice de preços esteja em tendência de queda, no acumulado em 12 meses alguns itens básicos de consumo da população ainda continuam altos, segundo o IPCA, calculado pelo IBGE, referente ao mês de agosto. Tanto alguns grupos como itens de bastante importância para a população ainda apresentam altas expressivas em seus preços, como nos casos abaixo:

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Cesta Básica

Diante da recente alta nos preços, sobretudo dos alimentos, o valor da cesta também aumentou no período mais recente, embora os valores tenham apresentado alguma desaceleração, movimento observado em algumas capitais nos últimos meses, as altas acumuladas no ano e em 12 meses ainda persistem e o valor da cesta básica brasileira continua alto em relação a seus padrões históricos.

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O Brasil em relação ao restante do Mundo

Outro argumento bastante defendido pelo governo atual é de que os números do Brasil são melhores que no restante do mundo e de que o país, em comparação a outros, tem apresentado melhor desempenho em relação a inflação, crescimento e queda no desemprego, no entanto quando o Brasil é comparado a outros países em relação aos seus indicadores macroeconômicos essa premissa não é verdadeira.

Desemprego

Após atualização dos dados referentes a julho e, considerando apenas os países que consolidaram estas taxas até o mês, o Brasil com 9,1% de desemprego ocupa o 6º lugar entre as maiores taxas de desocupação, ficando atrás apenas de Montenegro (19,4%), Espanha (12,60%), Grécia (12,60%) Colombia (11%) e Turquia (10,1%).

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Taxas de Juros

Considerando os países do G20 que divulgaram suas taxas de juros  até o mês de Setembro do ano de 2022 o Brasil ficou apenas atrás da Argentina entre as maiores taxas de juros, ultrapassando inclusive a Turquia.

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Inflação

Ainda considerando os países do G20 em relação à inflação acumulada em 12 meses, o Brasil também está longe de ocupar as melhores posições, no acumulado do período é possível notar que não estamos melhores que a Alemanha (7,9%) ,Itália (8,4%) ou França (5,9%). Com 8,73% de inflação acumulada, nosso país ocupa atualmente a 7ª posição entre as maiores taxas de inflação do G20.

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Crescimento do PIB

O crescimento do PIB do Brasil, quando comparado ao segundo trimestre do ano anterior, avançou 3,20%, no entanto ainda em comparação a outros países que compõem o G20 nosso crescimento ficou em 11º lugar considerando os menores crescimentos.No primeiro semestre do ano atual, o PIB brasileiro acumulou alta de 2,5%.

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*Deborah Magagna é economista do ICL, graduada pela PUC-SP, com pós-graduação em Finanças Avançadas pelo INSPER. Especialista em investimentos e mercados de capitais

 

 

 

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