Após mais de duas décadas de negociações, o acordo Mercosul-União Europeia foi concluído, nesta sexta-feira (6), durante a 65ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, que acontece em Montevidéu, no Uruguai, com as presenças do presidente Lula (PT) e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
O fechamento do acordo representa uma vitória pessoal do presidente brasileiro, que foi um dos que mais trabalharam para que o pacto de comércio multilateral fosse firmado, apesar da resistência do presidente da França, Emmanuel Macron, que vinha sendo pressionado a não aprovar o acordo por produtores agrícolas franceses.
O presidente uruguaio, Lacalle Pou, foi o primeiro a discursar. “Queremos sair com o acordo e, saindo disso, precisamos ir para a essência do que nos trouxe até aqui. Sabemos quão fácil é destruir e quão difícil é construir. Ficar firmes no que nos une”, afirmou.
Ursula falou em seguida, reforçando a assinatura do acordo. “Parabenizar os negociadores, que trabalharam de forma incansável durante anos por um acordo ambicioso e equilibrado, e teve sucesso, o laço do Mercosul, que é um dos mais fortes do mundo. É um laço que se ancora na confiança”, disse.
Ela ressaltou que o “acordo com o Mercosul é uma vitória para Europa”.
Em postagem em seu perfil oficial na rede social X (antigo Twitter), o presidente Lula celebrou o acordo. “Após mais de duas décadas, concluímos as negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, escreveu.
Ursula é defensora do acordo ao lado de Alemanha, Espanha, Portugal, Suécia e outros países do bloco. Opõem-se ao tratado a França, maior produtor agrícola da Europa, e países como Polônia, Áustria e Holanda, onde o veto é bandeira da direita e da extrema direita.
Por isso, o pacto, que envolve mais de 700 milhões de pessoas, terá enormes dificuldades para ser ratificado do lado europeu.
Também na rede social X, o governo francês postou: “O projeto de acordo entre a UE e o Mercosul é inaceitável tal como está” e isso foi repetido por Emmanuel Macron a Von der Leyen ontem.
Acordo Mercosul-UE é passo importante, mas efeito prático vai demorar
Especialistas ouvidos por reportagem de O Globo apontam que o fechamento do pacto é positivo, mas seu efeito prático na economia ainda vai demorar.
Lia Valls, pesquisadora do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), apontou que, no curto prazo, o efeito econômico tende a ser pequeno, pois o acordo comercial prevê transições lentas, de anos, para baixar as tarifas.
Além disso, não inclui liberalização de 100% em nenhum mercado e traz cotas de exportação em diversos produtos de lado a lado.
Por outro lado, o acordo permitirá ao agronegócio, no longo prazo, exportar mais; já no caso da indústria, o cenário tende a ser de perdas e ganhos. Por exemplo, a redução de tarifas para máquinas e equipamentos pode ampliar investimentos e produtividade. Contudo, a entrada de bens de consumo acabados pode aumentar a concorrência, mas mesmo assim há períodos de adaptação.
“Acho que é bom para a economia abrir mais o mercado, mas quem é contra liberalizar vai criticar”, apontou.
Já Welber Barral, sócio do escritório Barral Parente Pinheiro Advogados, que foi secretário de Comércio Exterior do governo federal de 2007 a 2011, observou que, embora os efeitos não sejam imediatos, alguns podem ser antecipados. Ele lembrou que foi assim no acordo comercial entre o Mercosul e Israel, que foi assinado em 2007 e entrou em vigor em 2010.
“Levou quatro anos para ser aprovado, mas, mesmo nesse período, atraiu investimentos e ampliou o comércio. As empresas se preparam”, afirmou Barral.
Com Milei, Brasil vende menos para a Argentina
Dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil) mostram que, entre janeiro e outubro deste ano, a Argentina comprou 24,8% menos produtos brasileiros que no mesmo período do ano passado, enquanto o Brasil aumentou a importação em 9,7%.
A balança comercial brasileira com o vizinho ainda se mantém positiva, mas caiu de US$ 4,75 bilhões para US$ 69 milhões no mesmo período, segundo os dados da pasta.
A embaixadora Gisela Padovan, secretária para América Latina e Caribe do Itamaraty, creditou a queda ao ajuste fiscal feito pelo governo do presidente argentino, Javier Milei.
“Eu não estou preparada para comentar em detalhes a economia argentina, mas é a única explicação. De uma hora para outra você tem uma queda deste tamanho. O que mudou este ano? Entrou um novo governo que promoveu um ajuste bastante forte e tem implicações infelizmente negativas para nós”, disse. Ela também participa da cúpula do Mercosul no Uruguai.
Em 2023, o Brasil teve um superávit em torno de US$ 6 bilhões com os países do Mercosul, segundo a embaixadora, enquanto este ano o resultado ficou mais equilibrado.
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