Em entrevista ao ICL Notícias, programa veiculado no YouTube, o economista Ladislau Dowbor explicou que o argumento usado pelo Banco Central de manutenção da taxa de juros em 13,75%, para o controle da inflação, é uma narrativa sem qualquer sentido, sem base ética, apenas para acalmar as pessoas que ficam assustadas com a inflação.
A taxa de juros Selic paga sobre a dívida pública é muito diferente da taxa de juros que a pessoa vai pagar na loja, diferente também da taxa que famílias pagam em banco ou da taxa de juros da iniciativa privada para empresas. O presidente Lula tem reiterado que não tem nenhuma justificativa para que a taxa de juros esteja em 13,75%. Lula considera uma vergonha o aumento e a explicação dada para a sociedade sobre a alta taxa de juros.
Segundo o economista, com a taxa de juros elevada, grupos financeiros e investidores da classe média alta e classe alta ganham sem precisar produzir nada, sem geração de produtos ou empregos. A origem do dinheiro, para a pagar os juros recebidos às aplicações indexadas à Selic, é proveniente dos impostos dos brasileiros.
“Os impostos são transferidos para grandes aplicadores do mercado financeiro, basicamente, classe média alta e classe alta. Cerca de R$ 600 bilhões a R$ 700 bilhões são transferidos. Estão drenando entre 6 e 7% do PIB (Produto Interno Bruto). E dizem que isso não tem a ver com a formação do déficit”, explica Dowbor. “Em vez de o governo utilizar o dinheiro dos impostos para construir escolas e estradas, investir em políticas sociais, infraestruturas, ele transfere os recursos para investidor do mercado financeiro, com lucros e dividendos isentos de imposto”, completa.
Dowbor conta que, na França, é chamado de investidor a pessoa que constrói a escola. Já aquele que ganha com título indexados ao juro do País, sem produção, geração de emprego, é um aplicador financeiro.
Economista explica a diferença da taxa de juros que famílias pagam nos bancos daquela que remunera os investidores
O Brasil registrou crescimento da economia em 2013, de 3%. Depois, teve um pequeno salto, que é a ressaca de 2021 por conta a queda alta no ano anterior. “No conjunto, estamos simplesmente com a economia parada. Cerca de 33 milhões de pessoas passando fome e 120 milhões em insegurança alimentar”, explica o economista que já passou por muitos países pobres, se especializando em programas de recuperação desses lugares. Por conta da vasta experiência, é consultor de agências da ONU (Organização das Nações Unidas).
Ladislau Dowbor explica que a economia está hiper aquecida, o desemprego está quase nulo e as empresas trabalhando há mais de 90% da capacidade, com pressão da demanda. Mas a taxa de juro alta serve para esfriar e transformar em depósitos títulos da dívida publica. Ou seja, o dinheiro que fica parado é desviado e a economia esfria. “Um empresário comentou que está mais fácil contratar. Mas para que ele vai contratar se não há para quem vender? questiona o economista.
O professor afirma que aumenta-se o juro, dizendo que é para proteger a população da inflação, que é pelo bem público. “Mas a verdade é que o dinheiro, que podia ser usado para política associada à infraestrutura, está sendo transformado em fortunas financeiras para quem não paga imposto. É absolutamente vergonhoso no Brasil”, diz.
Nesta semana estreou no portal ICL o curso “Desenvolvimento local e participação comunitária” ministrado por Ladislau Dowbor, que é professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Nas aulas, ele explica como uma organização comunitária consegue abrir novos caminhos, produzindo, consumindo internamente, criando bancos para financiamento local até estrutura logística interna.
Redação ICL Economia
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