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O Banco Central injetou nesta quinta-feira (19) US$ 8 bilhões no mercado para intervir no câmbio, fazendo o dólar desvalorizar. Com isso, mais a aprovação do pacote de corte de gastos em primeiro turno, a divisa norte-americana fechou o dia cotada em R$ 6,12, após ter batido nos R$ 6,3 na véspera.
O montante despendido nos leilões no mercado à vista é a maior intervenção diária já feita pelo BC desde 1999, quando o Brasil adotou o regime de câmbio flutuante.
Intervir no mercado de câmbio é um dos papéis da autoridade monetária, com o objetivo de lidar com intensas volatilidades como a que acontece com o dólar nos últimos dias.
A moeda norte-americana tem operado com muita volatilidade nos últimos dias e, ontem (18), bateu na casa dos R$ 6,3, o maior valor nominal da história. Hoje também foi um dia de muitas oscilações. Com os US$ 8 bilhões, a moeda alcançou os R$ 6,10 nesta tarde, em recuo de 2,6%.
Nesta quinta-feira, o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, seu sucessor a partir de janeiro de 2025, Gabriel Galípolo, fizeram declaração conjunta sobre a situação.
O BC realizou dois leilões: o primeiro, de US$ 3 bilhões, não foi suficiente para estancar a queda da divisa brasileira. Mais tarde, outro, de US$ 5 bilhões, foi o maior leilão à vista já feito pelo BC desde 1999.
Campos Neto reafirmou hoje que o câmbio é flutuante no Brasil, ou seja, que a cotação da moeda norte-americana sobe e desce de acordo com as operações no mercado. Ele avaliou que houve uma saída extraordinária de recursos do país neste fim de ano.
Também disse que o BC “tem muita reserva [internacional, acima de US$ 350 bilhões] e vai atuar [no câmbio] se for necessário”. Só não disse porque demorou tanto a fazer isso. As intervenções têm ocorrido mais nos últimos dias, mas em outros momentos não foram feitas.
“Mas há a percepção de que, se o BC não atuar, pode haver uma disfuncionalidade de preços [no dólar]. É para isso que existem as reservas”, afirmou.
Segundo analistas, o movimento mais firme aconteceu depois da apresentação do Relatório Trimestral de Inflação, realizada por Galípolo e Campos Neto. Eles concederam entrevista em uma transição simbólica do comando do BC.
Intervenção reduz impacto no câmbio
A divisa abriu o dia em baixa, mas logo se valorizou. Em seguida, sofreu a primeira intervenção do Banco Central, de US$ 3 bilhões, mas mesmo assim alcançou R$ 6,30. Logo depois, a instituição anunciou mais uma injeção e acolheu outros US$ 5 bilhões em propostas, totalizando US$ 8 bilhões em apenas um dia.
A partir daí, a moeda aprofundou as perdas, cedendo mais de 1%. Às 11h30, caía 1,48%, a R$ 6,17 e agora à tarde mantinha os R$ 6,14.
As reservas internacionais representam uma espécie de colchão de segurança ao país. Como grande exportador de commodities, o país obtém a maior parte dessa reserva de suas vendas internacionais. As exportações brasileiras têm batido recorde reiteradamente.
Somadas, as intervenções do BC até aqui foram de, ao todo, US$ 13,759 bilhões — o equivalente a 3,8% das reservas internacionais do Brasil, hoje em US$ 357,12 bilhões (dados do último dia 17 de dezembro).
Campos Neto afirmou que há um fluxo recorde de dólares para o exterior e que o BC não tem intenção de defender um patamar de câmbio. Disse ainda que há uma saída de dividendos para o mercado externo, o que ajuda a explicar a alta do dólar.
“Começamos a ver que tinha atípica saída. Parte de dividendos está acima da média, com resultado maior das empresas. O fluxo financeiro estava bastante negativo, apontando para ser um dos piores anos recentes da história”, pontuou.
Galípolo e Meirelles negam movimento especulativo
O futuro presidente do Banco Central disse nesta quinta-feira que não vê um ataque especulativo contra o real, que foi a moeda que mais se desvalorizou neste ano.
“Não é correto tratar o mercado como algo monolítico. Tem compra e venda, vencedores e perdedores. Ataque especulativo como algo coordenado não representa bem [o que está acontecendo]”, disse ele, em uma discordância em relação à avaliação de seu ex-chefe, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que ontem declarou não descartar um ataque especulativo contra o real.
Galípolo e o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, concederam uma entrevista conjunta para marcar a transição no comando do BC. O dólar tem disparado nos últimos dias por conta da desconfiança dos investidores sobre a capacidade fiscal do país.
O atual diretor de Política Monetária do BC afirmou que essa posição é passada ao governo quando é chamado. “Essa minha intervenção é bem compreendida por Haddad, [Simone] Tebet e Lula, que concorda, quando eu tenho esse diálogo com ele sempre”, afirmou. “Tem muito ruído, mas é importante esclarecer. No fim do dia, cabe a nós fazer o melhor trabalho possível”, afirmou.
A opinião de Galípolo converge com a do ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, o consultor Henrique Meirelles. Na avaliação dele, o real não está sob “ataque especulativo” — situação em que investidores avaliam que uma moeda, no caso o real, está vulnerável ou fragilizada e abandonam suas posições vendendo intensivamente a divisa, criando um efeito manada.
Para Meirelles, a alta do dólar reflete a dificuldade que o pacote fiscal enfrenta no Congresso.
“Não é um ataque especulativo. A questão não é essa. Se investidores internacionais e domésticos acreditam que o país não vai ter problema à frente, compram ativos brasileiros, entram mais dólares, e o câmbio cai. Neste momento, os investidores estão preocupados com a questão fiscal”, disse Meirelles.
Eduardo Moreira vê mercado “esticando a corda”
Para o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta) Eduardo Moreira, a Faria Lima está esticando a corda para que o governo negocie. “O governo vai ter que ligar para a Faria Lima e dizer – ‘okay, vocês ganharam’!”.
Deborah Magagna, economista e apresentadora do ICL Mercado e Investimentos, analisou a trajetória do real neste ano na edição desta quinta-feira do programa. Assista à análise dela no vídeo abaixo:
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