O Banco Central realizou, na manhã desta terça-feira (17), um leilão extraordinário de dólar à vista, após a cotação da moeda norte-americana atingir R$ 6,16, representando uma valorização de quase 1% em relação ao fechamento anterior. Foram comercializados sete lotes, totalizando US$ 1,272 bilhão, com taxa de corte incluída em 6,1005.
Mesmo com intervenções significativas do Banco Central (BC), a moeda americana continua a atingir recordes. Tanto na última sexta-feira quanto na segunda-feira, a instituição atuou no mercado de câmbio, tentando conter a rápida valorização da moeda.
A pressão sobre o câmbio e os juros futuros decorre da pressão do mercado sobre o governo para que saia o pacote de corte de gastos.
Alta do dólar mostra que mercado segue pressionando
A economista do ICL Mercado e Investimentos, Deborah Magagna, explica que isso acontece porque essa semana é muito decisiva para o ajuste fiscal. “E o mercado é fiscalista, está pressionando muito, tanto em dólar quanto em juros para que o pacote fique a seu contento. A forma de apresentação das medidas de cortes já não foi o que se esperava e o grande receio do mercado financeiro é que ele desidrate no Congresso. E o prazo para votar é sexta-feira, porque depois vem o recesso parlamentar . Então, o prazo está super-curto para votar lei de diretriz orçamentária e para votar também o ajuste fiscal. O mercado está jogando todo o peso nisso. Pode sair o indicador que for, a gente pode ter divulgações de indicadores positivos, que nada vai agradar o mercado agora, nada vai contentar enquanto a questão fiscal não for resolvida” afirma Deborah.
Essas condições tornam as ações do BC menos eficazes, Ou seja, mesmo com a venda de de dólares no mercado, o Banco Central não consegue mexer no valor da moeda.
Nesta segunda-feira, o BC fez dois leilões de dólares: uma oferta de US$ 3 bilhões, com compromisso de recompra (o chamado leilão de linha), que já estava programada deste sexta-feira, e um à vista, sem garantia de recompra, no total de US$ 1,627 bilhão.
Foi a maior intervenção no mercado à vista desde 24 de abril de 2020, um mês após o início da pandemia de Covid.
Em dados divulgados nesta segunda-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) destacou que a resposta negativa do mercado ao pacote fiscal do governo agravou o cenário inflacionário mais adverso, o que gera a necessidade de uma resposta mais dura em termos de nível de juros.
“Nota-se que tanto o prêmio de inflação extraído dos instrumentos financeiros quanto às expectativas de inflação se elevaram no período, tornando o cenário de inflação mais adverso e requerendo uma política monetária mais contracionista”, diz um trecho.
Além disso, o BC ressaltou que o consumo das famílias e os investimentos seguem em ritmo acelerado, mesmo com os juros elevados. Vale lembrar que um dos itens que mais contribuiu para a alta do IPCA foi a carne, por motivos climáticos e de sazonalidade, o que não se resolve com alta dos juros.
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