Em decisão unânime, o Copom (Comitê de Política Monetária) anunciou ontem (26) a manutenção da taxa básica de juros em 13,75% ao ano. Já são quase três meses da Selic nessa casa, mas se engana quem pensa que isso coloca o Brasil em um patamar confortável. Pelo contrário, o Brasil continua liderando a lista de juros mais altos do mundo, quando se retira a Argentina do ranking. Mas se deve levar em conta que a economia do país vizinho é ditada por por uma série de distorções.
Juros altos são bons somente para uma coisa: para os bancos, que engordam cada vez mais seus lucros. Quando a Selic sobe ou se mantém em um patamar elevado, como é o caso agora, isso significa, por exemplo, a contaminação de toda uma cadeia de operações de crédito, que se tornam mais caras, além de tornarem também mais caros os investimentos feitos por empresas. Esse ciclo da Selic em alta provoca um círculo vicioso que aprisiona a economia de girar de modo saudável e bom para todo mundo.
Levantamento compilado pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management e publicado pelo portal de notícias G1 mostra que, descontada a inflação esperada para os próximos 12 meses, de 5,11%, os juros reais do Brasil ficaram em 7,8%. Esse percentual mantém o país no topo da lista de juros mais altos, acima de México (5,37%), Colômbia (5,16%), Chile (4,83%) e Hungria (3,72%).
Foi a segunda reunião consecutiva que o Copom decidiu não mexer na taxa Selic, uma vez que a inflação está em patamares mais baixos, ainda que de modo artificial, devido às medidas eleitoreiras do governo federal.
Contudo, o jogo parece estar virando. O IPCA-15, divulgado na última terça-feira (25), mostra que a inflação começa a subir novamente, puxada principalmente pelo alto custo do setor alimentação. O indicador fechou o período em 0,16%, após ter registrado -0,37% em setembro. No acumulado do ano, a alta é de 4,80% e, em 12 meses, de 6,85%, abaixo dos 7,96% dos 12 meses imediatamente anteriores.
Quando se consideram os juros nominais (sem descontar a inflação), a Selic brasileira mantém a segunda posição, atrás apenas da Argentina, onde a taxa é de 75% ao ano, mas onde a hiperinflação derruba a taxa real para -20,64%. Nesta lista, depois de Argentina e Brasil aparecem Turquia (13,00%), Hungria (11,75%), Chile (10,75%) e Colômbia (9,00%). Na outra ponta, a última da lista é a Suíça, com juro nominal negativo de 0,75%, assim como o Japão (-0,10%).
Na decisão da Selic, Banco Central diz que momento “requer serenidade na avaliação de riscos”
No comunicado divulgado na decisão de manter a Selic, o BC avalia que a atual conjuntura ainda é incerta, volátil e, por isso, “requer serenidade na avaliação dos riscos”. Na avaliação do Copom, há revisões negativas para o crescimento global e aumento da volatilidade nos ativos financeiros, devido principalmente ao ambiente inflacionário pressionado, com as políticas monetárias dos países desenvolvidos indo na direção de taxas de juros restritivos e aperto monetário.
A respeito da economia brasileira, a autoridade monetária reconhece que os indicadores divulgados desde a reunião do Copom em setembro sinalizaram ritmo mais moderado de crescimento, e afirmou que a queda de preços segue concentrada em itens voláteis, afetados por medidas tributárias e a inflação ao consumidor continua elevada.
Ou seja, a autoridade monetária reconhece, no comunicado, as medidas artificiais adotadas pelo governo federal, como a desoneração dos combustíveis para reduzir os preços na bomba e, também, para impactar menos na inflação.
A propósito, o mercado já vê com preocupação o represamento dos preços dos combustíveis por parte da Petrobras, o que escancara o uso eleitoral da estatal por parte do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição.
A gasolina vendida pela Petrobras nas refinarias está abaixo do PPI (Preço de Paridade de Importação) há seis semanas e o diesel há quatro. Os dados são de relatório do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura). Isso vem ocorrendo mesmo num cenário de alta do petróleo no mercado internacional.
Ainda no comunicado, “o Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e de 2024”.
A expectativa do mercado é de que os cortes na Selic só devem voltar a ocorrer no segundo trimestre de 2023.
Da Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do portal G1
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