O Brasil assumiu a presidência rotativa do Brics na quarta-feira (1º) e vai exercer o posto até o final deste ano. Além disso, o país vai sediar, em julho, a cúpula de chefes de Estado dos países do bloco, marcada para acontecer no Rio de Janeiro.
Em novembro, o país também vai sediar, em Belém, no Pará, a COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas).
Para o presidente Lula, a COP30 será diferente de todas as outras. “Uma coisa é discutir a Amazônia no Egito; outra coisa é discutir a Amazônia em Berlim; outra coisa é discutir a Amazônia em Paris. Agora, não. Agora nós vamos discutir a importância da Amazônia dentro da Amazônia. Nós vamos discutir a questão indígena vendo os indígenas. Nós vamos discutir a questão dos povos ribeirinhos vendo os povos ribeirinhos e vendo como eles vivem”, disse Lula.
Com relação ao Brics, o bloco é originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, mas está em processo de expansão e vem recebendo novos membros e parceiros desde o ano passado.
Em 2025, ao menos nove países devem se tornar parte do Brics, entre eles Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia e Tailândia.
A inclusão de novos membros foi definida em outubro de 2024, na 16ª cúpula do Brics, em Kazan, na Rússia, quando foi criada a nova categoria de parceiros do bloco.
Com o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, o governo brasileiro tem, entre os desafios colocados para esta nova cúpula, o de articular a participação dos novos membros e dar continuidade à construção do sistema de pagamento com moedas locais no comércio entre os países, substituindo o dólar.
Brics têm mais de 40% da população e 37% do PIB mundiais
A soma dos nove países que já integram formalmente o Brics, além da Arábia Saudita, concentram mais de 40% da população global, com tendência de crescimento acima da média do planeta na próxima década. Além disso, respondem por 37% da economia mundial, segundo o critério PIB (Produto Interno Bruto) por poder de compra, de acordo com o Fórum Econômico Mundial.
Esses países detêm 26% do comércio mundial, de acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC). E, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), o grupo concentra 44% das reservas de petróleo e 53% das reservas de gás natural do planeta. Não apenas isso, hoje produzem 43% do óleo e 35% do gás do mundo.
Setenta e dois por cento das reservas mundiais de terras raras estão nesses dez territórios, assim como 70% da produção global de carvão mineral. Rússia e Brasil detêm as maiores reservas de água doce do planeta.
Em termos militares, o grupo possui pelo menos três potências nucleares (Rússia, China e Índia).
“O Brics, de fato, tem o peso econômico e militar acentuado, que cada vez mais vem demandando um peso político que seja à altura dos recursos que detêm”, afirma a diretora do Brics Policy Center e professora do Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Marta Fernández.
O termo Bric, um acrônimo para os membros originais, foi criado pelo economista Jim O’Neill, em 2001, para se referir ao grupo de países que apontavam como promissores mercados emergentes no início do milênio. Em entrevistas posteriores, O’Neill disse que nunca pensou no Brics como um grupo político.
Em 2006, no entanto, os quatro membros originais se reuniriam pela primeira vez às margens da Assembleia Geral das Nações Unidas. A crise financeira mundial de 2008 daria um motivo para que o grupo decidisse se reunir anualmente para buscar uma alteração do sistema de governança global.
Ameaça de Trump
O Brics começa o ano lidando com ameaças feitas pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que prometeu sancionar países que deixem de utilizar o dólar em transações comerciais.
A substituição da moeda estadunidense em negociações bilaterais é uma das principais pautas em discussão entre os países do Brics. Alguns deles – como Rússia, China, Irã e Brasil – já experimentaram modelos de comércio com suas próprias moedas.
O debate, agora, se dá em torno da construção de mecanismos internacionais que facilitem essas negociações o que, segundo analistas, daria mais autonomia e liberdade aos países que não emitem o dólar de negociarem entre si.
Ao Brasil de Fato, o historiador e intelectual marxista indiano Vijay Prashad comentou a ameaça de Trump em relação à desdolarização e disse que “o mundo deveria levar menos a sério” as declarações do bilionário.
“A esta altura, 70% dos países em desenvolvimento no mundo sofrem sanções estadunidenses. O que eles vão fazer? Sancionar 100% deles? Isso isolaria os EUA. Então, acho que devemos encarar algumas dessas ameaças do Sr. Trump com menos seriedade”, disse Prashad.
*Com informações de Brasil de Fato e Agência Brasil
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