O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, acusou o presidente Lula (PT) de ‘aumentar o prêmio de risco’ do Brasil com pronunciamentos que impactam negativamente no mercado financeiro. Segundo a Reuters, Campos Neto declarou, durante entrevista coletiva, que “o que se mostrou no passado recente –não é uma opinião minha, é uma constatação– quando a gente olha movimentos de mercado em tempo real com os pronunciamentos, você teve piora em algumas variáveis macroeconômicas, em alguns preços de mercado”.
“Então é óbvio que quando você aumenta o prêmio de risco, por qualquer razão, independente de qual razão seja, esse aumento de prêmio de risco, com volatilidade, obviamente faz com que o trabalho (do BC) fique mais difícil ao longo do tempo”, acrescentou, ponderando que Lula “tem todo o direito” de se manifestar sobre o Banco Central.
No entanto, informações dão conta de que é Campos Neto quem coloca terror no mercado. O presidente Lula já teria sido inclusive avisado sobre “pregações” que o chefe do BC têm feito nos bastidores do mundo econômico contra a saúde financeira do governo. “Lula foi avisado, por mais de um interlocutor, inclusive do mercado financeiro, que Roberto Campos Neto estaria fazendo pregações contra a saúde financeira do governo nas falas que tem feito com gente do mercado e do setor produtivo, fechadas”, informou a jornalista Daniela Lima, da GloboNews, no último dia 19.
A estratégia de Campos Neto parece compor um ciclo que, no final das contas, garante a manutenção da taxa básica de juros (Selic) nas alturas – atualmente em 10,5% ao ano: o mercado se apavora com notícias sobre as contas do governo – seguindo narrativas que seriam alimentadas pelo presidente do BC -, eleva as projeções de inflação no Boletim Focus e dá ao Banco Central argumentos para a alta dos juros, favorecendo o rentismo e o próprio mercado.
A possível manipulação via Boletim Focus já é inclusive alvo de investigação por parte do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU). O subprocurador-geral Lucas Furtado, em uma representação formal datada do último dia 14, solicitou que o TCU investigue a possível influência indevida de bancos e instituições financeiras na definição de índices econômicos pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. “Ora, se a taxa de juros básica que conduzirá relações financeiras no país é definida levando em consideração previsões dos próprios agentes que irão reger tais relações, vejo que se pode estar diante de uma gama de possibilidades de manipulação de índices por essas instituições”, argumenta Furtado em sua representação.
Essa suspeita de que os bancos possam influenciar a política monetária para benefício próprio levanta sérias questões sobre a integridade do processo de formulação de políticas econômicas no Brasil. Furtado sugere que a influência do Boletim Focus pode permitir a manipulação das expectativas e decisões econômicas, favorecendo instituições financeiras que lucrariam com operações baseadas nesses índices. “Vejo que se pode estar diante de fatos que podem comprovar que a definição da taxa básica de juros do país em níveis estratosféricos não possui o efeito de controlar a inflação, conforme alega o Bacen, mas sim o de quebrar o país, enriquecendo alguns aplicadores do mercado,” alerta Furtado. Ele sugere que as altas taxas de juros, em vez de conter a inflação, podem estar prejudicando a economia e beneficiando apenas alguns setores do mercado financeiro.
Alta de juros não está no cenário base do Banco Central, diz Campos Neto. Por outro lado, ele afirma que analistas percebem uma deterioração nas contas públicas
Uma possível elevação dos juros não está nos planos principais do Banco Central, afirmou nesta quinta-feira (27) Roberto Campos Neto, presidente da instituição. Ele ressaltou que as comunicações recentes do Banco Central foram feitas sem indicar direções futuras para a taxa Selic.
Durante a entrevista em São Paulo para discutir o Relatório de Inflação, Campos Neto sublinhou que o Banco Central está atento ao cenário e mantém vigilância constante.
“Sobre alta de juros, não é o nosso cenário base, a gente entende que a linguagem adotada é compatível com não ter dado ‘guidance’ para o futuro neste momento”, afirmou.
Respondendo às declarações do secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, que disse nesta semana que a percepção do mercado sobre a situação fiscal não está piorando, Campos Neto observou que analistas percebem uma deterioração nas contas públicas.
Campos Neto e o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, presentes na coletiva de imprensa, foram questionados sobre o cenário alternativo do Banco Central, que considera a manutenção da Selic em 10,50% ao longo de todo o horizonte relevante. Nesse cenário, a projeção de inflação para 2025 é de 3,1%, praticamente alinhada com a meta de 3% para o ano.
No mercado, uma das interpretações é que, com base no cenário alternativo, a inflação em 2026 estaria no centro ou abaixo da meta, possibilitando que o Banco Central possa reduzir a Selic em algum momento de 2025.
Guillen, em sua resposta, evitou mencionar a projeção de inflação para 2026 no cenário alternativo, mas afirmou que o Banco Central está bastante confiante com os números dos seus cenários.
Com informações do Brasil 247
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