Grandes companhias têm relatado a investidores que as linhas de risco sacado, uma espécie de antecipação de recebíveis, isenta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que está no centro da fraude contábil que envolveu a rede Americanas, encareceram. Com isso, tem compensado mais trocá-las por outras modalidades de crédito, em geral mais caras. Segundo analistas e empresários, ouvidos pela reportagem do O Estado de São Paulo, após o caso da rede Americanas, em recuperação judicial, o custo de risco sacado aumentou muito.
Nos bancos, operações de curto prazo para empresas também estão sob pressão. Nesta semana, a Ultrapar, dona da rede de postos de combustíveis Ipiranga, informou ter reduzido em cerca de R$ 1 bilhão as linhas de risco sacado no primeiro trimestre deste ano. Por outro lado, recorreu a outras linhas de crédito em um trimestre de menor geração de caixa, o que fez a alavancagem (quanto do capital está sendo comprometido com pagamento de juros) da empresa aumentar.
Na Via, de acordo com a reportagem publicada no jornal O Estado de S Paulo, a redução foi parecida, de R$ 1,1 bilhão no primeiro trimestre de 2023 em relação ao mesmo período de 2022. Segundo o CFO da empresa, Orivaldo Padilha, já estava considerada no planejamento anual uma redução de R$ 1,5 bilhão até o final deste ano. O segundo efeito foi a menor oferta da linha de crédito no mercado brasileiro. Muitos bancos deixaram de trabalhar com essa linha e isso impactou aqui também.
A companhia ainda carrega um valor importante nessa modalidade. “As linhas estão mantidas e estão dentro do nosso plano”, disse. Para lidar com a diminuição vista no trimestre, a companhia optou por usar mais desconto de recebíveis de cartão de crédito.
Bancos estão cobrando mais pelo tipo de operação de risco sacado, estopim da crise da rede Americanas

Crédito: José Cruz/Agência Brasil
Do outro lado do balcão, os bancos estão cobrando mais por esse tipo de financiamento, diante dos riscos mais elevados. O Bradesco informou ao Estadão/Broadcast que, neste começo de ano, reprecificou as operações de adiantamento a fornecedores, e que ajustou os prazos de alguns deles em função do caso da rede Americanas.
Também a queda de carteira de fornecedores no primeiro trimestre conta com sazonalidade, dado que no último trimestre do ano essa carteira cresce”, afirmou o banco, que divulgou resultados ontem, e relatou uma queda na demanda por crédito por parte de grandes empresas.
O risco sacado foi o estopim da crise da rede Americanas. A gestão que assumiu a varejista em janeiro, capitaneada pelo ex-CEO Sérgio Rial, afirmou ter detectado uma classificação errada de operações do tipo fora da linha de dívida financeira, o que reduziu a contabilização dos juros que incidiam sobre os saldos. O rombo chegou a R$ 20 bilhões, e levou a empresa à recuperação judicial.
Redação ICL Economia
Com informações do O Estado de S Paulo
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