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Em cerca de 30 anos, o clã Bolsonaro engordou o patrimônio com a compra de imóveis em dinheiro vivo. Quase metade dos imóveis foi comprada dessa forma. Além disso, o período coincide com a trajetória política do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus filhos zero um (Flávio), zero dois (Carlos) e zero três (Eduardo). Apesar de, a princípio, não haver nada de errado com esse tipo de operação, por outro, ao levar-se em conta as remunerações dos parlamentares e a quantia envolvida, as operações chamam a atenção. Até porque envolvem outros membros da família, como a própria mãe de Jair Bolsonaro, Olinda, e irmãos do presidente. Em valores corrigidos, o montante de imóveis adquiridos em espécie valem cerca de R$ 25,5 milhões.

O levantamento do patrimônio do clã Bolsonaro foi feito pela reportagem do portal de notícias UOL. Em aproximadamente 30 anos, o presidente, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo, segundo declaração dos próprios integrantes do clã.

Segundo a reportagem, do total de imóveis comprados, não dá para saber como foram pagos 26 deles, cuja soma é de R$ 986 mil (ou R$ 1,99 milhão em valores corrigidos). A informação não consta nos documentos de compra e venda. Transações por meio de cheque ou transferência bancária envolveram 30 imóveis, totalizando R$ 13,4 milhões (ou R$ 17,9 milhões corrigidos pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

Além disso, 25 das operações envolvendo os imóveis foram alvo de investigações do Ministério Público do Rio e do Distrito Federal. Esses imóveis foram frutos de aquisições e vendas feitas pelo núcleo do presidente – seus filhos e suas ex-mulheres – não necessariamente com o uso de dinheiro vivo, “mas que se tornaram objeto de apurações como, por exemplo, no caso das ‘rachadinhas’ (apropriação ilegal de salários de funcionários de gabinetes)“, envolvendo o senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente.

O presidente e suas ex-mulheres Rogéria e Ana Cristina compraram oito imóveis em dinheiro vivo, no valor de R$ 973,1 mil à época em que foram adquiridos. São casas, apartamentos e lotes no Rio de Janeiro e Brasília, avaliados hoje, em valores corrigidos pela inflação oficial (IPCA), em R$ 3,2 milhões.

Já os filhos, o vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, o deputado federal Eduardo e o senador Flávio adquiriram, em conjunto, 19 apartamentos e salas comerciais no Rio de Janeiro em cash. O valor da compra foi de R$ 8,5 milhões. Corrigidos, os imóveis valem hoje R$ 15,7 milhões.

Por fim, os irmãos de Bolsonaro – Renato, Vânia, Maria Solange e Maria Denise compraram, também em dinheiro, 24 imóveis, entre casas, lotes e plantas comerciais em São Paulo. Foram pagos R$ 4,1 milhões, patrimônio que hoje vale R$ 6,6 milhões.

Reportagem investigou patrimônio do clã Bolsonaro por sete meses. Até a falecida mãe do presidente pagou dois imóveis em espécie

A reportagem do UOL investigou ao longo de sete meses 270 documentos solicitados em cartórios de imóveis e registros de escrituras, em um total de 1.105 páginas. Também estiveram em 12 dos 16 municípios para verificar endereços e a destinação dada aos imóveis.

A apuração constatou que a própria mãe de Bolsonaro, Olinda, falecida em janeiro deste ano aos 94 anos, comprou os dois imóveis de sua propriedade pagando em espécie. Os imóveis foram adquiridos em 2008 e 2009, em Miracatu, interior de São Paulo.

Segundo a reportagem, desde o início da vida política de Bolsonaro, no começo dos anos 1990, o patrimônio dele e de familiares se multiplicou. “Até 1999, a família havia adquirido 12 imóveis. Nos anos seguintes, uma parte seria vendida, outra comprada. Em 2022, a família seguia proprietária de 56 dos 107 imóveis transacionados nas últimas décadas”, diz a reportagem.

Os negócios do clã Bolsonaro não estão passando ao largo da Justiça. Desde 2018, os filhos Flávio e Carlos, e a segunda mulher do presidente, Ana Cristina Siqueira Valle, são investigados por suspeita de envolvimento com o repasse ilegal de salários dos funcionários de gabinetes – as chamadas “rachadinhas”. Os assessores – grande parte deles funcionários fantasmas – sacavam em espécie os salários e entregavam a operadores cerca de 90% do total recebido.

O esquema foi descoberto no gabinete de Flávio, quando ocupava uma cadeira de deputado na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). As investigações sobre o hoje senador no MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) descobriram que o dinheiro das rachadinhas eram “lavados” com compras de imóveis. Parte de provas produzidas durante a apuração foram anuladas recentemente, mas as investigações continuam em curso. No caso do vereador Carlos, o sigilo bancário foi quebrado por indícios semelhantes.

Atualmente o Senado Federal discute projeto de lei que sugere a proibição do uso de dinheiro em espécie para transações imobiliárias, como forma de prevenir operações de lavagem de dinheiro ou ocultação de patrimônio.

Procurada pela reportagem do UOL para responder à pergunta a respeito da preferência da família pelas transações em dinheiro, a assessoria de imprensa do presidente não quis se manifestar.

Redação ICL Economia
Com informações do UOL

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