A Petrobras anunciou nesta terça-feira (15) o primeiro aumento nos preços dos combustíveis na atual gestão. O valor cobrado pelo litro da gasolina nas refinarias da estatal subiu 16,3%. Para o diesel, houve aumento mais expressivo, de 25,8%. Esse também foi o primeiro aumento após a companhia anunciar, em junho, a sua nova política de preços. Apesar do reajuste, no ano, o litro da gasolina vendido às distribuidoras acumula redução de R$ 0,15. No diesel, a queda acumulada é de R$ 0,69 por litro.
Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP), o aumento anunciado hoje evidencia a necessidade urgente de acelerar o processo de autossuficiência no refino de derivados de petróleo no país. O objetivo é reduzir, ou até mesmo eliminar, as importações no médio e longo prazos.
“Com a autossuficiência, custos de importação deixarão de existir e não mais influenciarão na formação dos preços no mercado nacional, contribuindo para abrasileirar os preços domésticos. As obras precisam ser aceleradas para que a autossuficiência chegue mais rápido”, disse o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.
Ele lembra que, atualmente, as refinarias da Petrobras operam com cerca de 93% de Fator de Utilização (FUT), bem acima da média de 65% praticada no governo passado, quando as importações de combustíveis foram elevadas.
Ainda assim, o país importa 20% e 30% do diesel consumido internamente, de acordo com levantamento do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep). Na gasolina, as importações giram em torno de 5% a 15% do consumo interno.
Alta do petróleo no mercado internacional
Nesse sentido, o Ineep aponta que os reajustes atuais refletem as recentes altas observadas nos preços do petróleo e seus derivados no mercado internacional. “Os preços do petróleo Brent, que serve de referência para o mercado nacional, registram viés de alta desde julho. Isso afetou o diferencial entre a nova política de preços internos da Petrobras e a antiga política de paridade de importação”.
Em meados de junho, o barril do tipo Brent, referência no mercado internacional, era cotado a cerca de US$ 72. Nesta terça, oscilava em torno de US$ 85. Por conta dessa trajetória de alta, os preços praticados pela Petrobras acabaram se descolando do restante do mercado. Antes do reajuste, a defasagem entre os preços praticados pela Petrobras e os preços de paridade de importação estava em 16% na gasolina e no diesel, 23%. Agora caíram respectivamente para 2,3% e 3,1%.
No entanto, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE, dos EUA), embora tenham subido a partir do final de julho, a tendência dos preços da gasolina e do diesel é de queda nos próximos meses, o que pode evitar novos aumentos.
Ataque especulativo sobre combustíveis
Assim, as refinarias privatizadas e os importadores reclamam dos preços praticados pela estatal. Ainda ontem, a FUP chegou a denunciar um “ataque especulativo” para forçar um suposto desabastecimento do mercado interno de combustíveis. Empresas privadas estariam comprando diesel e estocando o produto, pressionando a estatal a elevar preços.
“Desde a queda do PPI, em maio deste ano, refinarias privadas vêm reclamando dos preços praticados pela Petrobras, inclusive com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), na tentativa de forçar a estatal a reduzir os preços do óleo vendido para elas”, destaca Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP. Também a Abicom, a associação que reúne os importadores, reclama da Petrobras, alegando que a estatal opera com preços baixos, praticando dumping no mercado.
O coordenador-geral da FUP rebateu, no entanto, o risco de desabastecimento, alegando que não houve redução nas importações, apesar das reclamações dos agentes econômicos.
Novo PAC
A FUP destaca ainda que o aumento da capacidade de refino está contemplado no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada. Somente a Petrobras vai investir R$ 323 bilhões no novo PAC. A cifra representa cerca de 20% do total de investimentos do programa, de cerca de R$ 1,7 trilhão.
Ao todo, são 47 projetos da estatal que vão desde a prospecção e exploração de petróleo à transição energética, com investimentos em biocombustíveis e outras fontes renováveis. Também estão previstas a expansão de refinarias existentes e o término do trem 2 da refinaria Abreu e Lima (Rnest) em Pernambuco. A conclusão das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) também faz parte do programa.
Para Bacelar, o Comperj não deve ser apenas uma unidade de processamento de gás natural e de lubrificantes, mas também deve ter uma unidade de destilação de petróleo. Além disso, se houver necessidade, ele defende a construção de uma nova refinaria, “uma refinaria moderna, do futuro, à base de óleo vegetal”.
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