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Combustíveis e agronegócio brasileiro sentiram mais as consequências da guerra da Ucrânia

Por outro lado, impactos contribuíram para produtores brasileiros buscassem janelas de oportunidades nos mercados de energia e fertilizantes
24/02/2023 | 16h38

Em um mundo globalizado, a invasão da Rússia à Ucrânia, que completa um ano nesta sexta-feira (24), também provocou impactos no Brasil, embora o conflito ocorra a milhares de quilômetros daqui e não tenhamos um envolvimento direto. As consequências da guerra foram sentidas principalmente nos setores em que o Brasil depende de produtos comprados da Rússia, como o de fertilizantes. Como a Rússia também é um dos principais produtores mundiais de petróleo e o maior exportador de gás natural do mundo, o conflito também mexeu com os preços internacionais de energia, com efeitos respingando aqui.

Logo no início do conflito, um ano atrás, a guerra elevou os preços dos combustíveis e da energia. O barril de petróleo logo passou de 100 dólares, para alcançar o pico de 130 dólares. Como os preços dos combustíveis no Brasil seguem os do mercado internacional, a consequência foi a elevação dos preços do litro da gasolina e do diesel na bomba, pressionando, consequentemente, a inflação aqui e no mundo.

Em contrapartida, a elevação do preço da commodity contribuiu para elevar os lucros das petroleiras, como a Petrobras. Em novembro passado, a estatal brasileira reportou lucro líquido de US$ 8,8 bilhões no terceiro trimestre, o 4º maior lucro líquido trimestral da nossa história. Outros destaques do trimestre foram a geração de fluxo de caixa operacional e a de fluxo de caixa livre, que totalizaram US$ 12,1 bilhões e US$ 10,1 bilhões, respectivamente; e o EBITDA ajustado, de US$ 17,4 bilhões. A empresa pagou bilhões de dividendos aos seus acionistas. Somados os três primeiros trimestres, a companhia lucrou R$ 145 bilhões, quase o dobro do mesmo período de 2021.

Diante desse quadro e com os impactos sobre a inflação, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) iniciou uma queda de braço com a direção da petroleira para forçar a redução dos preços dos combustíveis. Visando ao processo eleitoral, Bolsonaro bateu o pé, estabeleceu uma série de medidas eleitoreiras para reduzir os preços, como a desoneração tributária dos combustíveis, cujos efeitos foram eficazes somente no curto prazo, tanto na bomba quanto na inflação.

Agora, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discute uma política de preços dos combustíveis de longo prazo e mais efetiva para minorar os impactos das oscilações dos preços do petróleo no mercado internacional. Em fevereiro, vence também a medida provisória que desonerou os preços dos combustíveis dos tributos federais. A volta da cobrança pode pressionar a inflação, mas, por outro lado, vai injetar mais recursos nos cofres da União, que tem um déficit de R$ 230 bilhões no Orçamento deste ano para lidar.

Como o Brasil já vinha amargando os impactos econômicos da pandemia de Covid-19, o conflito na Ucrânia contribuiu com impactos econômicos indiretos. A elevação nos preços dos combustíveis contribuiu para um aumento ainda maior da taxa de juros pelo Banco Central para controlar a inflação. A autoridade monetária passou a elevar a taxa desde março de 2021, com iniciais 2% ao ano para os atuais 13,75% anuais.

Consequências da guerra na Ucrânia foram sentidas pelo agronegócio brasileiro, com vantagens e desvantagens

Para o agronegócio brasileiro, os efeitos da guerra na Ucrânia foram vantajosos e desvantajosos, principalmente nos primeiros meses do conflito. Embora sejam menos acentuados no momento, ainda há muitas indefinições para o setor. A preocupação maior é com os preços internacionais das commodities e dos insumos, principalmente de fertilizantes, que podem sofrer novos efeitos se o conflito perdurar por mais tempo.

De modo geral, a guerra elevou o patamar dos custos para o agronegócio brasileiro, escancarando fragilidades da produção nacional. Por outro lado, abriu novas janelas de oportunidades externas.

Nos primeiros meses da guerra, o custo de produção explodiu principalmente por causa da alta nos preços dos fertilizantes. Em 2022, 38 milhões de toneladas custaram quase US$ 25 bilhões para os produtores brasileiros, montante muito maior que o apontado no ano anterior. Para efeito de comparação, em 2021, 41 milhões de toneladas haviam custado US$ 15 bilhões. Dados da Confederação Nacional da Agricultura mostram que a safra de 2022/23 já é a mais cara da história.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Maciel Silva, diretor técnico adjunto da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), disse que novos efeitos colaterais da guerra seriam determinantes para o setor no país.

Ele avalia que os contratos de longo prazo precisam ser muito bem avaliados, e a busca de inovação tecnológica e de eficiência produtiva tem de ser constante. Para ele, preços do petróleo, do gás na Europa e do frete marítimo e outros fatores externos à atividade passam a ter grande importância.

Na opinião de analistas do segmento, a guerra escancarou a fragilidade da produção nacional no sentido de depender de produtos importantes, como os fertilizantes. Por essa razão, abriu-se no país um debate sobre essa fragilidade, forçando o país a buscar soluções internas, como o desenvolvimento mais rápido dos bioinsumos.

Guerra abre janela de oportunidades no Brasil

Como não se sabe ainda sobre o futuro do conflito e, sendo a Rússia um grande exportador de energia, países europeus, os principais compradores, estão buscando alternativas limpas, e uma delas é o hidrogênio verde, um dos substitutos dos combustíveis fósseis na obtenção de energia limpa.

Nessa seara, o Brasil tem investido na produção de energia limpa por meio do hidrogênio verde, cuja produção tem custos baixos. O assunto foi discutido pelo presidente Lula e pelo chanceler federal alemão, Olaf Scholz, na recente visita deste à Brasília.

Embora seja um mercado incipiente, o potencial é grande. O conflito Rússia contra a Ucrânia escancarou problemas de se depender unicamente de um único grande fornecedor.

Estudo da consultoria alemã Roland Berger estima que o mercado mundial de hidrogênio verde deverá movimentar mais de US$ 1 trilhão em venda direta do combustível ou derivados. E, segundo a consultoria, o Brasil vai liderar essa corrida, transformando-se em um grande exportador global.

No âmbito do agronegócio, o Brasil aproveitou a guerra para ampliar a sua área produtiva de trigo e viu a exportação de milho disparar – os dois grãos estão entre as principais commodities exportadas pela Ucrânia.

Esse rearranjo ajudou a balança comercial brasileira, que teve resultado positivo em 2022, registrando superávit (diferença das exportações e importações) recorde de US$ 62,3 bilhões, 1,5% maior que o registrado em 2021.

Redação ICL Economia
Com informações do portal G1 e da Folha de S.Paulo

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