A vitória acachapante do republicano de extrema direita Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos, na semana passada, pode ter a situação econômica do país como pano de fundo e seu impacto principalmente nas camadas mais pobres da população. “Eu acho que a economia tem um peno enorme na vitória do Trump”, diz Pedro Rossi, economista e professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), entrevistado da edição de ontem (11) do ICL Em Detalhes.
“Eu diria até que é um elemento estrutural histórico recente que faz com que o americano passe a se desiludir com a política, ou seja, o americano que acreditou na meritocracia sistematicamente, trabalhou um monte durante a vida e só se deu mal, ele está desiludido, desamparado, desempregado ou subempregado. Suas condições de vida se deterioram e ele não tem acesso às políticas de Estado e não há solução no horizonte, então ele começa a renegar as instituições”, complementou.
O republicano não só venceu com 312 delegados (eram necessários 270) ante 226 de sua oponente, a vice-presidente do partido democrata, Kamala Harris, mas também obteve vitória no voto popular, algo que não acontecia em duas décadas.
Embora a economia dos Estados Unidos esteja indo bem sob a gestão do democrata Joe Biden, os norte-americanos convivem com inflação e taxas de juros altas para os padrões do país desde a pandemia de Covid-19, o que encarece o custo do crédito. A maioria dos norte-americanos se endivida para poder consumir.
Por isso, na avaliação de Rossi, “renegar a política tal como se apresenta e abraçar soluções mágicas como as que o Trump oferece” contribuíram para a vitória do republicano.
“Me parece que há um esgotamento da forma de organização neoliberal que é o que o caracteriza, vamos dizer assim, a política americana e mundial desde a década de 1980. Isso não foi percebido pelo partido democrata e pela própria campanha como estava colocado”, pontua.
Na avaliação dele, o que aconteceu lá pode servir de lição para a economia brasileira e, também, para a política brasileira. “Nós vamos reproduzir esse sistema, ou seja, é tudo mais do mesmo, ou nós vamos apresentar uma forma de organização econômica que dê esperança às pessoas, para que elas possam ver oportunidades, que se sintam mais seguras”, questiona.
Impactos da eleição de Trump no Brasil
Rossi também vê tempos de instabilidade para a economia brasileira com a vitória do republicano.
“A flutuação da moeda americana gera pressões inflacionárias aqui dentro. Então, quanto mais incerteza, mais instável vai estar a economia global, e o Brasil é um país que sofre choques atrás de choques”, diz.
A volatilidade do real em relação ao dólar, segundo ele, é uma das maiores do sistema. “A gente é muito vulnerável aos mercados financeiros, diferente de outros países. A gente vai viver tempos de instabilidade”, pontua.
Assista à entrevista completa do economista Pedro Rossi no vídeo abaixo:
Redação ICL Economia
Com informações do ICL Em Detalhes
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