A Faria Lima age como um sequestrador do Brasil: quer esticar a corda – neste caso, manipulando a disparada do dólar dos últimos dias – para forçar o governo a negociar e dar o que ele quer. Na opinião do economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, o caminho mais correta seria o governo deixar de ser dependente da Faria Lima. “A gente sabe dos riscos, mas não existe outra saída a não ser romper com a Faria Lima. Claro, isso precisa ser estudado, é uma estratégia de longo prazo”, disse na edição desta quinta-feira (19) do ICL Notícias 1ª edição.
Até que esse momento não chega, Edu Moreira acredita que a Faria Lima está esticando a corda para que o governo negocie. “O governo vai ter que ligar para a Faria Lima e dizer – ‘okay, vocês ganharam’!”.
Esticar a corda significa fazer o país sangrar, principalmente os mais pobres. Ou seja, a “inflação vai lamber, o azeite vai subir, o óleo de soja. Quando tudo isso começar a acontecer, vai ter que dar um choque de juros, até o momento em que vai chegar a reunião [do Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central] de subir os juros a 2%, e ninguém mais vai conseguir comprar nada no crediário (…) e a popularidade do [presidente] Lula vai piorar”, avaliou.
Que a Faria Lima detesta o presidente Lula, isso ficou claro no dia 11 de dezembro, quando o dólar caiu e a Bolsa disparou, e as manchetes do jornal atribuíram esse movimento à internação do presidente para realizar uma segunda cirurgia. A perspectiva da morte de Lula fez o mercado comemorar e saber disso é de embrulhar o estômago, para dizer o mínimo.
A alta do dólar e o arcabouço fiscal
Para Edu Moreira, os agentes não querem quebrar o Brasil, pois isso é ruim para eles também. Querem que o governo os procure para negociar e eles poderem arrancar mais.
O erro do governo Lula, na avaliação de Edu, foi o arcabouço fiscal, conjunto de regras que limita o aumento de gastos em detrimento das despesas). “O arcabouço fiscal em si já é um problema, pois limita o crescimento. Outro problema é que o governo criou para o mercado financeiro uma baliza que diz que o país pode quebrar se ele não for cumprido. O governo deu baliza para eles”, pontuou.
Nesse aspecto, há uma diferença de tratamento entre o governo Lula e o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que furou diversas vezes o teto de gastos, que precedeu o arcabouço, e a reação do mercado financeiro não era a mesma.
“O Guedes [Paulo Guedes, ministro da Economia de Bolsonaro] deu R$ 100 bilhões para o Bolsonaro comprar votos nas eleições e o mercado não fez nada. [Ele] Não pagou a dívida dos precatórios e o mercado não fez nada”, lembrou.
Decisão do Fed
Sobre a disparada do dólar na quarta-feira (18), que atingiu a máxima nominal da história, ele observou que a decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), que baixou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, a decisão não foi unânime. Para piorar, a autoridade monetária estadunidense prevê apenas mais duas reduções nas taxas no ano que vem, quando a previsão anterior era de quatro.
“Taxa de juros americana é a base de onde partem todas as outras do mundo. Se aumenta ou cai menos, atrai dinheiro para os Estados Unidos, faz as pessoas comprarem dólar, fazendo a cotação subir”, explicou.
Ele lembrou que a decisão do Fed fez com que o Dow Jones, um dos principais indicadores de lá, caísse pela décima sessão consecutiva. “É a primeira vez que cai dez dias consecutivos em 50 anos”, disse.
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