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Em 28 anos do Plano Real, inflação acumulada chega a 653%. Poder de compra de R$ 100 equivale a R$ 784 hoje

Uma nota de R$ 100 compra hoje o mesmo que seria possível comprar com R$ 13,91 em 1994, diz estudo
19/07/2022 | 18h04

A inflação acumulada no Brasil alcançou a marca de 653%, desde o lançamento do Plano Real, em julho de 1994. O levantamento foi feito pelo economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, e leva em consideração a variação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Com a inflação acumulada no período de 28 anos, para se ter o mesmo poder de compra da nota de R$ 100 de quando o plano foi lançado, o consumidor teria de gastar, hoje, R$ 748,04. Ou, fazendo a conta inversa, a nota de R$ 100 compra hoje o mesmo que seria possível comprar com R$ 13,91, em 1994, descontada a inflação.

No mesmo intervalo de tempo, o salário mínimo saiu de R$ 64,79 para os atuais R$ 1.212, alta de aproximadamente 1.770%, graças à política de valorização do mínimo implantada nas gestões de Luiz Inácio Lula da Silva (2003/2011) e Dilma Rousseff (2011/2016).

Mas o economista explica que, nos últimos dois, três anos, “o brasileiro vem perdendo poder de compra com uma recomposição da renda insuficiente para compensar a alta dos preços de itens básicos, como alimentação e energia”. Isso significa que a inflação vem comendo a renda do brasileiro, principalmente dos mais vulneráveis, que dependem de benefícios do governo.

De acordo com o economista, a inflação, hoje um problema mundial e que afeta principalmente economias mais fracas como a brasileira, voltou a ser sentida com mais força pelos brasileiros, sobretudo pelos mais pobres. Isso porque a alta de preços, além de estar espalhada na maioria dos bens e serviços consumidos, está pesando mais em itens considerados essenciais, como alimentos, transporte (principalmente combustíveis), contas de água e luz.

“Além de tudo, a incipiente recuperação da renda do trabalho ocorre de maneira lenta. Ou seja, os reajustes nos salários não acompanham a inflação elevada”, conclui.

Imaizumi lembra ainda que, em um cenário de juros e inflação rodando em níveis elevados no país, e com uma atividade econômica com dificuldades para engatar, as pessoas com as contas em atraso têm alcançado patamares recordes.

Dados do Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor mostram que o Brasil bateu o recorde com 66,6 milhões de inadimplentes em maio, o maior número desde o início da série histórica, em 2016. Na comparação com maio de 2021, houve um acréscimo de 4 milhões de nomes negativados.

Impacto da Inflação acumulada em doze meses é próxima de 12%

Conforme levantamento do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgado na última semana (dia 15), o impacto inflacionário entre as pessoas de renda muito baixa ficou em 0,61%.

No acumulado do ano, de janeiro a junho, a inflação registra altas que variam de 5,43% para aqueles com renda muito baixa a 5,69% para os brasileiros com renda alta. Já no acumulado de doze meses, à exceção da faixa de renda média-alta, com taxa de variação de 11,5%, todas as demais registram altas próximas a 12%.​​

“O problema inflacionário continua sendo um dos mais graves na economia brasileira atual e precisa rapidamente ser corrigido para que sejam amenizados os problemas sociais causados pela alta dos preços”, afirmam os economistas do ICL Débora Magagna e André Campedelli.

Para Magagna e Campedelli, na atual situação, o preço dos combustíveis afeta com veemência a inflação brasileira e uma série de medidas poderiam ter sido tomadas, como a eliminação da política de preços da Petrobras ou a taxação sobre lucros extraordinários de empresas petrolíferas. Porém, a opção do governo foi reduzir drasticamente o ICMS, com efeitos sobre os combustíveis ao consumidor, em uma medida com fins eleitorais.

“Em um primeiro momento, a impressão que se tem é de que a medida vai favorecer as pessoas mais pobres, pois com a redução de impostos haveria mais renda disponível aos trabalhadores. Porém, não podemos nos esquecer de que a redução do ICMS impacta a manutenção de serviços públicos básicos oferecidos por estados e municípios, que têm no tributo sua principal fonte de receita. Portanto, no curto prazo, isso pode até parecer benéfico para todos, mas os efeitos no longo prazo precisam de mais atenção”, explicam.

A falta de recursos para estados e municípios deve precarizar ainda mais a situação da saúde e da educação. Além disso, uma série de bens que estão atualmente com incentivos fiscais podem ter seus benefícios cortados, devido ao aumento da necessidade de novas fontes de arrecadação. Sendo assim, no médio prazo o efeito deve ser o sucateamento ainda maior dos serviços públicos, sendo que estes são mais utilizados pela população mais carente.

Os economistas do ICL ressaltam que, “novamente, o combate inflacionário escolheu um lado, o da classe capitalista empresarial. Não ocorreu nenhuma tentativa de se adotar medidas que reduzissem os lucros dos acionistas da Petrobras. A opção que se fez, isso sim, foi por aquelas com um enorme potencial de precarizar os serviços públicos”.

Redação ICL Economia
Com informações das agências

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