Diante de um cenário interno desafiador, grandes empresas chinesas têm intensificado seus esforços de internacionalização, e o Brasil se tornou um dos principais destinos dessa nova fase de expansão, segundo reportagem do The New York Times, republicada no jornal O Globo.
A estagnação do consumo na China, agravada pelo colapso do setor imobiliário e por tensões comerciais com os Estados Unidos e a União Europeia, está levando empresas chinesas de tecnologia, e-commerce e serviços a buscar novos mercados – e a maior economia da América Latina surge como peça-chave dessa estratégia.
A Meituan, gigante chinesa de delivery, anunciou em maio um investimento de US$ 1 bilhão para iniciar operações no Brasil. No mesmo mês, a TikTok Shop, sob pressão nos EUA e Reino Unido por seu vínculo com a controladora chinesa ByteDance, foi oficialmente lançada no mercado brasileiro. A rede de chás e sobremesas Mixue, hoje maior do mundo em número de lojas, também declarou planos de contratar milhares de brasileiros.
“Está cada vez mais difícil para as empresas chinesas crescerem no mercado interno”, afirma Vey-Sern Ling, consultor da Union Bancaire Privée, em Cingapura. “A internacionalização tornou-se essencial para sustentar o crescimento.”
Há tempos, Brasil desperta interesse de empresas chinesas
O interesse da China no Brasil não é novo, mas vem ganhando tração com o aprofundamento das relações bilaterais. O comércio entre os dois países dobrou na última década, e investimentos chineses em áreas como mineração, energia limpa e setor automotivo somaram cerca de US$ 4,7 bilhões apenas em 2024. Lembrando que a China é o maior parceiro comercial do Brasil na atualidade.
O presidente Lula (PT), aliás, tem buscado ampliar os laços com Pequim, posicionando a parceria como um contrapeso geopolítico à influência norte-americana.
Segundo analistas, esse ambiente diplomático favorável tem incentivado empresas chinesas de consumo a apostar com mais confiança no mercado brasileiro.
No entanto, o sucesso no Brasil está longe de ser garantido. Os modelos agressivos de operação adotados na China – com forte pressão sobre entregadores e uso intensivo de dados de usuários – já enfrentaram críticas e ações regulatórias no país de origem, o que pode se repetir no Brasil.
A Meituan, por exemplo, foi alvo de denúncias após a morte de um entregador exausto e precisou responder a preocupações públicas sobre condições de trabalho.
Além disso, a competição dentro da China está se acirrando. A entrada da JD.com no setor de delivery e os custos crescentes para reter entregadores sinalizam o fim de um ciclo de ouro para essas plataformas.
América Latina
No contexto da guerra tarifária deflagrada pelo presidente Donald Trump, a América Latina – com destaque para o Brasil – aparece como uma das últimas grandes fronteiras de crescimento de empresas chinesas.
Para empresas como Temu, Mixue e Meituan, o apetite dos consumidores brasileiros por plataformas digitais, combinada à relativa abertura do mercado, representa uma oportunidade valiosa em um momento em que crescer dentro da China já não é suficiente.
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