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45% dos ‘filhos’ do Bolsa Família acessaram mercado de trabalho ao menos uma vez entre 2015 e 2019, diz estudo

Para pesquisadores, programa de transferência de renda é importante para a mobilidade social. No entanto, maioria dos filhos dos beneficiários ocupa posições de mais baixa remuneração que os de não beneficiários
12/06/2023 | 13h11

O programa Bolsa Família, política social implementada no governo Lula 1, proporcionou que uma geração de filhos de beneficiários adentrasse no mercado de trabalho. Estudo elaborado por um grupo de pesquisadores mostra que 5,2 milhões de pessoas da primeira geração de dependentes de famílias do programa, que tinham de 7 a 16 anos em 2005, foram encontrados ao menos uma vez na Rais (Relação Anual de Informações Sociais) de 2015 a 2019. O número corresponde a 44,7% dos 11,6 milhões de filhos do Bolsa Família.

Por meio de cruzamento de dados das folhas de pagamento do Bolsa Família e da Rais, que mensura dados do mercado de trabalho, estudo exclusivo feito por pesquisadores do IMDS (Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social), em parceria com a consultoria Oppen Social e um pesquisador da FGV EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças, da Fundação Getulio Vargas), mostra que os filhos de beneficiários do programa de transferência de renda acessaram o mercado naquele período ao menos uma vez. A pesquisa foi publicada em reportagem do jornal Folha de S.Paulo.

Além de mensusar a emancipação por meio do trabalho com carteira assinada, ou seja, emprego formal, os pesquisadores também puderam medir a qualidade do emprego conquistado por eles.

Eles descobriram que metade dos filhos de beneficíários do programa ocupavam 20% das vagas consideradas de menor remuneração e com baixa quantidade de trabalhadores com ensino superior. Entre os jovens de mesma idade que não foram beneficiados pelo programa, o percentual de pessoas nessas funções cai de 50% para 32%.

Os dependentes egressos do programa estavam distribuídos em micro (28%), pequenas (26,4%), grandes (22,5%) e médias empresas (11,6%). Uma parcela menor estava, ainda, na agropecuária (5,9%) e na administração pública (4,9%).

Substituído pelo Auxílio Brasil na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o programa foi rebatizado de Bolsa Família na atual gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O valor médio pago pela iniciativa bateu recorde no mês de maio, chegando a R$ 672,45.

Além disso, 1 milhão de pessoas foram incluídas no programa, totalizando 21,2 milhões de famílias beneficiadas. Segundo o governo federal, o auxílio atingiu um “patamar inédito de investimento” de R$ 14,1 bilhões.

Segundo pesquisadores, emprego formal entre filhos do Bolsa Família é demonstração de emancipação social

Embora não seja o objetivo central do programa, a conquista do emprego formal pelos filhos de beneficiários do Bolsa Família é considerado um efeito colateral positivo da política social, segundo os pesquisadores.

Na avaliação deles, conforme publicado na Folha, quando a família tem suas necessidades básicas atendidas, o horizonte para melhorar de vida e conquistar um emprego estável aumenta.

É como se as mães e pais que buscaram pelo benefício em um momento de dificuldade para as famílias abrissem possibilidades para a geração seguinte. A reportagem citou como exemplo a cantora Pabllo Vittar que, em entrevista de 2021, disse: “Cresci com Bolsa Família”.

“É preciso lembrar que os jovens que foram beneficiados pelo Bolsa Família estavam no passado em uma situação de precariedade. A maioria dos postos no Brasil não é boa, o país não está crescendo em ritmo satisfatório há cerca de 40 anos e, para quem antes dependia da transferência de renda, é um enorme avanço estar no mercado de trabalho formal”, diz Paulo Tafner, diretor-presidente do IMDS, à Folha.

Já a coordenadora de projetos do IMDS, Giovanna Ribeiro, disse que há vários indicativos mostrando que quem sai do Bolsa consegue acessar o mercado formal de trabalho. “Mas são postos de menor qualidade. Estar no emprego formal traz um conforto maior, um acesso às políticas de seguridade que são mais favoráveis, mas, comparados ao grupo que não participou do programa, eles não estavam tão perto assim”, pontuou.

A pesquisadora também comentou que a rede de apoio criada em torno do Bolsa Família — com condicionalidades como frequência escolar e vacinação das crianças ou o pré-natal para mulheres grávidas — pode ajudar futuramente esses jovens.

“O mercado formal brasileiro tem peculiaridades, a informalidade é alta e a permanência no emprego é baixa. Quanto mais pessoas no domicílio com carteira assinada, maior é a chance de emancipação do programa pela renda”, disse o pesquisador Valdemar Neto, da FGV, outro dos coautores do estudo.

Beneficiários com ensino superior estavam na faixa de maior rendimento

O estudo também aponta que 31,8% dos filhos dos beneficiários com ensino superior estavam na faixa de maior rendimento no mercado de trabalho, patamar parecido com os 48% dos não beneficiários com a mesma idade.

Quando considerados aqueles com ensino fundamental completo, é possível verificar maior atuação dos beneficiários (8,8%), em relação aos não beneficiários (4,7%), em atividades de agropecuária.

Já entre aqueles com curso superior completo, a maior concentração de não beneficiários está em empresas de grande porte (29,9%), enquanto a maior concentração dos beneficiários está na administração pública (27,1%).

Entre as principais ocupações na administração pública conquistadas por esses ex-beneficiários com superior completo estão a de professores do ensino fundamental (15%), agentes e auxiliares administrativos (11%), dirigentes do serviço público (10%) e enfermeiros e afins (3%).

Na avaliação do diretor-presidente do IMDS, os dados mostram que os ex-beneficiários preferem ocupar posições que lhes deem estabilidade na renda em vez de se arriscarem no setor privado, o que, para ele, “é muito razoável”, pois grande parte dessas pessoas viveu na pobreza e deseja ter uma garantia de renda.

Ainda assim, 4,5% dos não beneficiários do Bolsa Família com ensino superior ganhavam acima de dez salários mínimos, percentual que era de 0,8% entre os beneficiários do programa. Mais da metade (52,4%) dos que tinham até o ensino médio tinham remuneração média de 1 salário mínimo a 1,5 salário mínimo.

Os pesquisadores não consideraram o período da pandemia no estudo para evitar distorções nos resultados.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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