Ao empreender uma guerra comercial contra os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump repete um erro histórico que aprofundou a Grande Depressão no fim da década de 1920.
Naquela época, ou seja, pouco mais de um século atrás, os Estados Unidos promulgaram uma lei tarifária que desencadeou uma guerra comercial global, prolongando e aprofundando os efeitos da Crise de 1929, quando houve a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, afetando as economias mundiais.
O plano de tarifas recíprocas que será anunciado por Trump nesta quarta-feira (2), naquele que foi batizado como o “Dia da Libertação”, abrange um espectro mais amplo do comércio do que o denominado pacote The Smoot-Hawley Tariff Act de 1930, implementado pelo então presidente Herbert Hoover.
Em entrevista à rede NBC News esta semana, Trump disse que “o mundo tem explorado os Estados Unidos nos últimos 40 anos ou mais. E tudo o que estamos fazendo é ser justos”.
Segundo especialistas, as importações representam, hoje, uma fatia muito maior do PIB (Produto Interno Bruto) do que no início dos anos 1930. Atualmente, as importações de bens e serviços correspondem a 14% do PIB dos EUA — cerca de três vezes a participação que tinham em 1930.
Analistas calculam que as medidas de Trump têm potencial para elevar o percentual a 28%, com redução do crescimento da economia.
Desde que assumiu o governo estadunidense em 20 de janeiro, Trump tem empreendido uma verdadeira guerra comercial contra alguns de seus principais parceiros comerciais, como China, Canadá e México, e outros nem tanto.
Até o momento, as consequências têm sido a queda do dólar e o abalo dos mercados financeiros. Agentes temem que as políticas possam provocar uma recessão nos EUA e uma consequente desaceleração global.
A Lei Tarifária de 1930 elevou as tarifas dos EUA sobre mais de 20 mil bens importados. Só escaparam ao arcabouço as importações com isenção de impostos.
As medidas retaliatórias dos parceiros comerciais dos EUA foram os principais fatores da redução das exportações e importações americanas em 67% durante a Depressão.
Guerra comercial: Europa se prepara para um cenário pior no governo Trump
Trump tem mirado principalmente parceiros comerciais com os quais os EUA têm déficit na balança comercial. No entanto, países como o Brasil, que tem saldo comercial deficitário com os norte-americanos há ao menos duas décadas, também estão sendo atingidos pelas medidas.
A Europa é também um dos principais alvos de Trump e a presidente do BCE (Banco Central Europeu), Christine Lagarde, alertou os líderes da União Europeia para que se preparem para um cenário pior.
Na avaliação de Lagarde, as medidas de Trump têm potencial para arrastar o mundo para um conflito econômico destrutivo.
O Canadá, um dos mais atingidos pela guerra tarifária de Trump, vem trabalhando para reorientar uma economia fortemente dependente de recursos naturais, que envia três quartos de suas exportações para os Estados Unidos.
O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, disse na semana passada que a parceria longeva e bem-sucedida entre ambos “acabou”.
Divisão interna
Do lado de dentro, a agenda de Trump tem dividido o setor corporativo dos EUA. A Câmara de Comércio dos Estados Unidos alertou que as pequenas empresas serão especialmente prejudicadas.
Até mesmo a Tesla do bilionário Elon Musk, que tem cargo dentro do governo e apoia publicamente o estilo trumpista, pediu cautela ao governo.
Por outro lado, siderúrgicas e algumas marcas icônicas de consumo comemoraram a perspectiva de tarifas mais altas nos EUA, alegando uma concorrência desleal com a entrada excessiva de importações.
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