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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse, em entrevista à coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, que “nada mais vai ficar constante” depois da guerra tarifária iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Na avaliação do mandatário da Fazenda, Trump, deflagrou um processo disruptivo no mundo ao anunciar o que o republicano vem chamando de “tarifas recíprocas” no último dia 2 de abril, sobre produtos importados de mais de 180 países.

A medida, segundo Haddad, vai exigir “um exercício intelectual que não condiz com o processo que estamos vivendo”.

Haddad vê a situação do Brasil na guerra comercial com otimismo. “O Brasil, por meio do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento [MDIC], do vice-presidente Geraldo Alckmin, verbalizou para os EUA que não fazia sentido uma retaliação contra o país, simplesmente porque eles são superavitários [no comércio] em relação a nós. [O tarifaço] Não foi bom para ninguém, mas eles colocaram a América do Sul na melhor situação dentro do quadro geopolítico mundial. Foi a menor das sobretaxas [de importação] impostas [de 10% para o continente, com exceção da Venezuela e da Guiana]”, disse.

“Eles perceberam que a América do Sul é um continente muito vulnerável para a entrada da China, algo que já vem acontecendo. O Uruguai, por exemplo, chegou a ameaçar sair do Mercosul para fazer um acordo de comércio com a China. O Brasil, nesse contexto, tem uma situação muito particular. Nossas exportações crescem para os três blocos: EUA, Europa e Ásia — em particular para a China”, apontou Haddad.

O ministro afirmou que era esperado um cenário pior para o Brasil. “As pessoas esperavam um cenário pior para o Brasil. E eu acredito que houve uma ponderação [dos EUA]”, afirmou, dizendo que o Brasil primeiro tentar entender o que está acontecendo antes de cravar uma solução ao imbróglio.

Ele lembrou, contudo, que o Congresso Nacional aprovou a lei da reciprocidade para mostrar que tem “um princípio” para negociar. E diz que o presidente Lula (PT) agirá com “a prudência devida” no diálogo com os EUA.

Haddad: “EUA descobriram que perderam o jogo”

Na avaliação do ministro da Fazenda, os Estados Unidos armaram “as regras do jogo da globalização, nos anos 1980”, mas descobriram agora que “perderam o jogo”. Por isso, querem mudar as regras na marra.

“O país que defendia o livre comércio, a OMC [Organização Mundial do Comércio], é o mesmo que hoje está adotando as políticas mercantilistas mais radicais desde há muito tempo”, apontou.

O alvo central dos EUA, segundo Haddad, é reagir à China, para quem “perderam o jogo” da globalização mesmo com regras criadas por eles mesmos e que estavam em vigor até a posse de Trump.

“Os EUA hoje se deparam com uma novidade no cenário geopolítico internacional: um país [a China] que não é só uma potência militar, como [foi] a União Soviética, ou só uma potência econômica, como era o Japão. A China é a conjugação do poder militar e do poder econômico”, avaliou.

“É um país com 1,3 bilhão de habitantes e um PIB que cresce ainda fortemente. Que tem uma capacidade tecnológica invejável, inclusive em áreas em que os EUA se sentiam seguros, como a da inteligência artificial [IA]. Que faz investimentos vultosos onde são vulneráveis, como a indústria de chips. Eles [chineses] são realmente um elemento muito desafiador, como os EUA ainda não tinham conhecido”, completou.

“História não acabou”

Para Haddad, o imbróglio está longe do fim. “A História não acabou. Os países reagem, como está acontecendo agora. A dúvida dos economistas mais sérios é se esse receituário do Trump será capaz de fazer os EUA recuperarem o terreno perdido. Há dúvida também sobre o impacto na economia global de medidas de um país que representa, sozinho, mais de um quarto do PIB mundial. Estamos falando de uma coisa realmente disruptiva”, pontuou.

 

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