Pouco mais de um ano da gestão do ultraliberal Javier Milei, ele conseguiu reduzir a inflação na Argentina, mas a que preço? Penalizando a maioria da população do país, que continua na pobreza. A inflação acelerou levemente em dezembro de 2024, para 2,7%. No acumulado do ano, o índice ficou em 117,8%, ante 211,4% em 2023, quando ele assumiu o mandato.
Rezando pela cartilha do FMI (Fundo Monetário Internacional), Milei tem sido incensado pela grande mídia brasileira por ter conseguido reduzir a inflação persistente há anos, mas a um custo pesado para a população mais vulnerável, especialmente as crianças, que são as mais afetadas.
Em novembro, o indicador inflacionário IPC marcou 2,4%, o menor desde julho de 2020. O ano passado começou com uma inflação mensal de 20,6% em janeiro, ainda sob reflexos de uma forte desvalorização do peso guiada por Milei no início do seu mandato. Em abril, a inflação atingiu um pico perto dos 300%.
O ultraliberal adotou uma série de medidas que impingiram muito sofrimento à população, como acabar com programas estatais, com o fornecimento de alimentos para as cozinhas solidárias que ofertam comida aos mais pobres.
Dados do Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censo da Argentina) mostram que a população abaixo da linha da pobreza é de 52,9% (primeiro semestre). E os lares abaixo desse patamar estavam em 42,5%. A população argentina soma 47,07 milhões de pessoas, segundo o mesmo instituto. Ou seja, mais da metade do país é ainda muito pobre.
Inflação argentina ainda pesa sobre os mais fragilizados socialmente
A aceleração do IPC em dezembro foi puxada pelo aumento nos preços do segmento que engloba habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis (5,3%), conforme dados do Indec. Na sequência, estão comunicação (5,0%), devido aos reajustes nos valores dos serviços de telefonia e internet. Esses serviços são os que mais pesam no bolso da população mais pobre e, também, da classe média.
O grupo de produtos que mais pesou no índice geral da inflação em cinco regiões do país foi o de alimentos e bebidas não alcoólicas (2,2%), com destaque para os aumentos em carnes e derivados, pães e cereais e leite e seus derivados e ovos.
Na região metropolitana de Buenos Aires, a maior incidência foi registrada em restaurantes e hotéis (+4,6%).
Os dois grupos com menores variações em dezembro de 2024 são os de vestuário e calçados (1,6%) e de equipamentos e manutenção do lar (0,9%).
Argentina deve reduzir ritmo de desvalorização do peso
Com o resultado da inflação mensal na casa dos 2,5%, o governo de Milei havia sinalizado que poderia reduzir o ritmo de desvalorização controlada do peso em relação ao dólar (crawling peg), de 2% para 1% mensal.
A medida foi confirmada pelo Banco Central argentino que, em nota, confirmou que vai reduzir o ritmo de desvalorização do câmbio para 1% ao mês a partir de 1º de fevereiro, “considerando a consolidação observada na trajetória inflacionária durante os últimos meses e nas expectativas de menor inflação”.
“Em um contexto de recuperação da atividade econômica e de aumentos sazonais dos preços, tanto a inflação nos últimos meses quanto as observações de alta frequência confirmam que a inflação deve cair e ficar abaixo das expectativas do mercado. O ajuste para a taxa de câmbio continua a desempenhar o papel de âncora complementar nas expectativas de inflação”, informou a autoridade monetária em nota.
A desvalorização cambial diminuiu a partir da segunda metade de 2024 nos mercados paralelos que a maioria dos argentinos usa para contornar os rígidos controles monetários do governo.
Porém, a valorização do peso se deu em um ritmo muito mais lento do que a inflação, o que fez aumentar os preços dos produtos.
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