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Ex-CEO das Lojas Americanas diz que empresa tinha esquema para atrasar pagamentos a fornecedores e forçar geração de caixa

Em depoimento prestado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em março passado, Miguel Gutierrez disse que a varejista comprava de fornecedores comprometendo-se a pagar em 30 dias, mas mudava pagamento para 90 dias, período em que inflava o caixa.
13/09/2023 | 19h11

Em depoimento à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em 16 de março deste ano, o ex-CEO das Lojas Americanas Miguel Gutierrez disse que havia uma cultura corporativa de abuso contra fornecedores, em que pagamentos eram atrasados para forçar a geração de caixa e, assim, cumprir metas e repartir bônus a executivos da companhia.

Reportagem exclusiva do site UOL, que teve acesso ao depoimento do ex-executivo à CVM, mostra que a conta da atividade-fim ficava, então, com os fornecedores dos produtos vendidos nos serviços das Americanas. Primeiro, a varejista comprava comprometendo-se a pagar em 30 dias, depois mudava unilateralmente o prazo para 90 dias.

Segundo Gutierrez, normalmente as compras feitas são vendidas em um prazo de 30 dias. Mas a Americanas mudava a data de pagamento para 90 dias e, desse modo, tinha um gap de 60 dias para poder pagá-las, inflando o caixa.

“O fornecedor é que diz quanto a gente pode vender”, contou, para depois reconhecer que a prática “estava errada”.

Em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara dos Deputados, que investiga o caso Americanas, Gutierrez disse que nenhuma decisão estratégica da empresa era tomada sem o conhecimento e anuência de seus acionistas bilionários de referência, Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, donos da 3G.

A afirmação já estava registrada em depoimento em vídeo à CVM, gravado em 16 de março e repetido em depoimento à Polícia Federal, em 21 de junho.

Relato de prática abusiva do ex-CEO das Lojas Americanas é corroborado por fornecedores

Ainda segundo a reportagem do UOL, o relato do ex-CEO sobre a prática abusiva é corroborado por fornecedores prejudicados.

Em junho passado, a revista Piauí revelou como a prática quebrou a Forte Minas, uma fornecedora de transporte e logística para as operações física e digital das Americanas, que prestou serviços para a varejista entre 2013 e 2021. Segundo a revista, em 2020, o fornecedor passou a cobrar o reajuste previsto em contrato.

No entanto, a Americanas não pagou o reajuste e passou a atrasar os pagamentos, primeiro para 60 dias e, depois, para 90 dias.

Em 2021, depois de rejeitar uma oferta pela empresa porque as Americanas tinham prioridade na aquisição, o dono da Forte Minas foi surpreendido com o fim abrupto do contrato com a varejista, o que a levou a quebrar, demitindo 300 funcionários.

Os advogados do atual conselho de administração das Lojas Americanas Marina Blattner e Eduardo Chad disseram ao UOL que é “fantasiosa” a versão de Gutierrez que o conselho ou algum de seus integrantes soubesse ou avalizasse a prática de atrasar de propósito o pagamento de fornecedores para gerar caixa.

Segundo eles, a gestão dos contratos com fornecedores não era matéria do conselho, mas matéria estatutária da diretoria.

A atual gestão das Americanas, que acusa Gutierrez e os ex-diretores publicamente de fraude, disse à reportagem do UOL que as decisões relativas a contratos de fornecedores eram “tomadas unicamente pela diretoria”.

As Americanas entraram em recuperação judicial em janeiro, após um rombo bilionário ter sido revelado pelo ex-CEO Sérgio Rial. O prejuízo se estende a cerca de 15 mil fornecedores em todo o país.

A varejista deve pelo menos R$ 40 bilhões a credores bancários, fornecedores, funcionários e ex-funcionários, além de outros R$ 7 bilhões em debêntures (títulos de dívida privada negociados no mercado financeiro).

Redação ICL Economia
Com informações do UOL

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