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O Brasil ganhou mais de 2,2 milhões de desempregados, entre jovens e adultos acima de 50 anos, na última década. Na faixa etária entre 18 e 24 anos, um em cada quatro jovens está desocupado no país. Uma pesquisa também identificou que 43,9% dos jovens, entre 16 e 26 anos, se declaram propensos a buscar carreiras militares por falta de oportunidades no mercado de trabalho. No outro extremo, cerca de 880 mil pessoas acima de 50 anos perderam o emprego no período. No total, há 7,6 milhões de desempregados nas faixas de 14 a 29 anos e acima de 50 anos.

De acordo com o levantamento da consultoria Idados sobre o mercado de trabalho, as duas gerações são as que mais têm dificuldade para conseguir emprego. O que sobra a uma falta à outra. A mais nova, apesar de ser antenada e tecnológica, não tem a experiência que as empresas exigem. Os seniores, por outro lado, têm a experiência e a vivência de trabalho, mas sofrem com o preconceito em relação ao potencial para acompanhar as inovações do mercado de trabalho e por supostamente serem menos flexíveis.

No primeiro trimestre deste ano, a taxa de desemprego dos brasileiros entre 14 e 17 anos era de 36,4% — ou seja, mais de um terço dessa população estava sem emprego, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para aqueles entre 18 e 24 anos, as taxas caem um pouco, para 22,8%. Entre os mais velhos, esse percentual é bem menor, em torno de 7%, mas dobrou nos últimos dez anos.

Segundo o IDados, o número de desempregados acima de 50 anos era de 508,9 mil pessoas em 2012. Hoje, são 1,4 milhão em busca de recolocação. A expectativa é de que esse grupo continue subindo nos próximos anos por causa das mudanças nas regras da Previdência Social. Com o aumento da faixa etária para a aposentadoria (62 anos para mulheres e 65 anos para homens), as pessoas vão precisar ficar mais tempo no mercado. Dados do IBGE mostram que, em 2060, as pessoas com 65 anos ou mais vão representar 25% da população brasileira e somarão 60 milhões.

Apesar de a taxa de desemprego entre o grupo mais velho ser menor, comparada à média nacional de cerca 10%, os números escondem uma situação complicada. Sem oportunidades, muitos desses trabalhadores desistem de buscar emprego e vivem na informalidade; ou ainda, tentam o empreendedorismo. Há também os chamados “nem nem nem”, aqueles que não trabalham, não buscam emprego e não são aposentados.

Por falta de opção no mercado de trabalho, jovem está mais propenso a carreira militar, diz estudo

A última década foi muito difícil para os jovens. De 2014 até hoje, eles perderam 14% da renda, mas, segundo o diretor da FGV Social, Marcelo Neri, “a perspectiva para os mais jovens é um pouco melhor a longo prazo”. “Acho que o jogo está virando para eles. Com a digitalização e a transição geográfica, eles serão mais valorizados”, avalia. 

Desde 2014, segundo Neri, os mais jovens fizeram uma transição educacional forte e têm um nível educacional bem superior ao dos pais deles. “O problema é que isso não significou melhora na produtividade, ou seja, não houve avanço em termos de inserção trabalhista“, explica o pesquisador.

mercado de trabalho

Por falta de oportunidades no mercado de trabalho, jovens se declaram propensos à carreira militar (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Dados do FMI (Fundo Monetário Internacional) apontam que se trata de uma geração mais pobre que a de seus pais. Isso porque o número de empregos bem remunerados de nível médio diminuiu.


Uma pesquisa também identificou que a falta de oportunidades no mercado de trabalho tem levado 43,9% dos jovens, entre 16 e 26 anos, se declararem propensos a buscar carreiras militares por falta de oportunidades.

O estudo também aponta que 67,3% dos jovens consideram a oferta de empregos em suas respectivas cidades como baixa, muito baixa ou nenhuma, sendo que esse número é pior entre aqueles que moram no Nordeste (75,9%).

“Tive essa percepção de que, entre classes médias e médias baixas, a carreira militar estava se tornando uma opção importante. Encontrava, por exemplo, jovens que, em vez de buscar uma universidade, já começavam fazendo cursos preparatórios para as carreiras militares”, conta a pesquisadora Andreza Aruska de Souza Santos, da Oxford School of Global and Area Studies.

A falta de perspectiva econômica e a sensação generalizada de falta de oportunidades são os principais fatores que explicam o interesse dos jovens brasileiros pelas carreiras militares. Segundo o professor do Departamento de Ciência Política da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Dalson Figueiredo, o jovem brasileiro, quando pensa em ingressar na carreira militar, busca suprir necessidades básicas de alimentação e moradia e está focando na sua estabilidade.

De todas as condicionantes que poderiam explicar o interesse nas carreiras militares – como fatores ideológicos, questões materiais concretas, geracionais, gênero, raça, classe –, os resultados mostram claramente que essa tendência cresce conforme aumenta a vulnerabilidade dos jovens.

“Apesar de haver um discurso do empreendedorismo, que inunda o ambiente onde esses jovens circulam, que fomenta a iniciativa individual em oposição a empregos estáveis, eles estão fazendo escolhas bastante racionais, percebendo nas carreiras militares a possibilidade de estabilidade, de crescimento e, também, questões muito básicas, como a garantia de alimentação, em um país em que mais de 33 milhões de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar”, explica o docente do Departamento de Sociologia da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), Gabriel Feltran.

“Análises preliminares dos dados da pesquisa indicam uma associação inversa entre o interesse pelas carreiras militares e a escolaridade dos pais. Isso reforça nossa hipótese de que essa disposição para ingressar nas Forças Armadas ou na Polícia Militar mantém relação com as condições sociais e econômicas das famílias”, afirma Valéria Cristina de Oliveira, docente no Departamento de Ciências Aplicadas à Educação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

A pesquisa foi realizada entre outubro e novembro de 2021, com aplicação de 2.055 questionários com uma amostra representativa da população brasileira naquela faixa etária. O levantamento foi realizado numa parceria entre a Universidade de Oxford (no Reino Unido); as universidades federais de São Carlos (UFSCar), Pernambuco (UFPE) e Minas Gerais (UFMG); e o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). 

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias 

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