O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, afirmou, durante participação no ICL Notícias 1ª edição desta sexta-feira (29), que o mercado financeiro pressiona o governo pelo pacote de corte de gastos porque é detentor da maior parte da dívida pública do país.
“O estoque da dívida pública no Brasil é de mais ou menos R$ 7 trilhões. Quase 50% dela é indexada à taxa overnight, que é a Selic”, explicou.
Desde que o pacote de corte de gastos foi anunciado anteontem (27), em cadeia nacional de rádio e TV pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o mercado financeiro renovou a artilharia pesada, em um movimento especulativo que está fazendo a Bolsa brasileira cair e o dólar disparar.
Isso porque, com a divulgação do pacote, o governo anunciou que vai isentar de IR (Imposto de Renda) pessoas que ganham até R$ 5 mil. Em contrapartida, vai cobrar mais imposto de quem recebe a partir de R$ 50 mil mensais.
Depois do anúncio, analistas começaram a defender que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central eleve a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual, o que faria a taxa subir dos atuais 11,25% para 12,25% ao ano.
Pelas contas de Moreira, 1% a mais sobre o estoque da dívida pública daria exatamente os R$ 70 bilhões previstos como economia no pacote fiscal anunciado pelo governo. “Olha essa coincidência macabra!”, disse Edu.
Eduardo Moreira: “alegria do pobre durou pouco com o salário mínimo”
Sobre as medidas anunciadas pelo governo, ele disse ter muitas dúvidas sobre como os ricos serão tributados. “Não vai ser feito na fonte. Então, vai ser feito na declaração do IR? Tem várias medidas que são históricas no discurso, mas a gente tem que ver se vai ser posto na prática”, disse.
Ele também comentou que a questão do salário mínimo, que vai subir no limite do arcabouço fiscal (2,5%), faz com que o trabalhador perca uma valorização que durou apenas um ano, praticamente. “O salário mínimo do Brasil é de US$ 200. Sei que é o que dá para fazer… Se fosse o Bolsonaro ele ia congelar(…). Mas o fato é que a alegria do pobre durou um ano com política de valorização do mínimo”, lamentou.
Ele pontuou, no entanto, que um aspecto do conjunto de medidas anunciado e que foi pouco falado é com relação ao que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse, que, se não houver respeito às regras fiscais que o governo se comprometeu, o primeiro a ser cortado vão ser os benefícios tributários de grandes empresas.
Porém, ele questionou o fato de o governo intencionar colocar em prática primeiro o corte de gastos, para “agradar a Faria Lima”, e deixar as isenções do IR para 2026. “A gente sabe a resposta: porque a Faria Lima tem todos os deputados na mão. Então, primeiro ‘vamos acalmar a Faria Lima e depois a gente acalma o povo'”.
Veja o comentário completo de Eduardo Moreira no vídeo abaixo:
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