O novo Atlas da Mobilidade Social, lançado pelo Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), mostra que apenas 14% dos homens brancos nascidos em famílias de baixa renda conseguem ascender socialmente. No caso de negros e mulheres, esse percentual é ainda menor. Os dados foram publicados em reportagem do jornal O Globo.
A pesquisa (clique aqui para acessar a ferramenta) mostra que a mobilidade social no Brasil é baixa e concentrada na base da pirâmide. O estudo mostra o seguinte:
- Menos da metade (49%) das pessoas nascidas entre 1983 e 1990 têm, na vida adulta, uma situação financeira melhor do que a dos pais; e
- Somente 10,8% daqueles oriundos dos 50% mais pobres atingiram o grupo dos 25% mais ricos.
O estudo se baseia em dados inéditos da Receita Federal e da economia informal, organizados no Atlas a partir da pesquisa “Mobilidade intergeracional na terra da desigualdade”, conduzida por Diogo Brito, Alexandre Fonseca, Paolo Pinotti e Breno Sampaio.
“A qualidade da educação pública é o fator dominante que caracteriza essa mobilidade”, frisou Diogo Brito, um dos autores do estudo.
O papel do Bolsa Família na mobilidade social
Um dos dados mais relevantes do levantamento é o impacto positivo do Bolsa Família na mobilidade social. Segundo Brito, crianças beneficiadas pelo programa por mais tempo alcançaram, em média, dois anos a mais de escolaridade e apresentaram maior probabilidade de subir na pirâmide de renda.
“O programa não só aumenta a escolaridade e o nível de renda, como tende a reduzir a dependência futura da pessoa em relação ao próprio Bolsa Família”, explicou o pesquisador ao O Globo.
Esses efeitos mostram que políticas de transferência de renda podem romper ciclos de pobreza, embora o alcance ainda seja limitado diante da magnitude da desigualdade estrutural.
Baixo crescimento trava oportunidades
Além das barreiras sociais, o fraco desempenho econômico é apontado como um dos principais entraves à mobilidade.
O economista Paulo Tafner, presidente do IMDS, ressaltou que o período analisado — os anos 1980, marcados por estagnação econômica — comprometeu as chances de progresso de uma geração inteira.
“Se continuarmos crescendo perto dos 2% ao ano, como nas últimas décadas, a parcela dos que conseguem superar a renda dos pais vai diminuir. E isso tende a gerar tensões sociais”, alertou.
O desafio do ponto de partida
O professor André Salata, da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), reforça que o combate à pobreza e à desigualdade de origem é condição básica para melhorar as oportunidades futuras. Isso envolve tanto o aumento da renda mínima como a valorização da educação pública de qualidade.
“Reduzir a desigualdade no ponto de partida e garantir que as crianças aprendam, independentemente da origem social, são caminhos fundamentais para uma sociedade mais justa”, afirmou, também ao O Globo.
Mobilidade de curto alcance
O Atlas mostra que, mesmo entre aqueles que ascenderam, a maioria permaneceu dentro da metade mais pobre da população.
Segundo Carlos Ribeiro, sociólogo do IESP-UERJ (Instituto de Estudos Sociais e Políticos do programa de pós-graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro), há mobilidade ocupacional, mas de curto alcance — concentrada na base da pirâmide.
Entre 1973 e 2014, houve avanços na educação e maior presença de mulheres no mercado de trabalho, o que reduziu desigualdades, mas sem provocar saltos significativos para as camadas superiores da renda.
Em suma, os dados do IMDS traçam um retrato de um país em que o destino ainda é fortemente determinado pela origem. A combinação de políticas públicas bem desenhadas, crescimento econômico sustentável e investimento em educação pode abrir caminhos, mas a mobilidade social no Brasil ainda está longe de ser a regra — é exceção.
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