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Pesquisas realizadas por universidades federais mostram impactos da Covid-19 sobre a economia e população mais vulnerável

De acordo com as pesquisas, a pandemia funcionou como um evento extremo que explicita as desigualdades estruturais e brutais da sociedade brasileira, embora não seja a sua causa
19/08/2022 | 16h03

Quase dois anos e meio depois do início da pandemia, o Brasil continua enfrentando impactos da Covid-19 nos âmbitos econômicos e sociais provocados pela crise sanitária, que ceifou quase 700 mil vidas. Pesquisas realizadas por universidades federais, nas áreas clínica e epidemiológica, mostram os chamados efeitos indiretos da pandemia, relacionados à perda de renda e trabalho, os quais afetam principalmente a população mais vulnerável, com consequências sociais desastrosas para hoje e para o futuro. Hoje, no Brasil, há 33 milhões de pessoas passando fome, cenário provocado pela inação ou má gestão na condução das políticas sociais do país e agravado pela pandemia.

Reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo sobre o assunto mostra as consequências negativas da Covid-19 no aprofundamento das desigualdades históricas e estruturais da sociedade brasileira. Por outro lado, também foram monitoradas as políticas públicas que deveriam enfrentá-las, como o auxílio emergencial.

Entre as pesquisas, está uma realizada pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a qual mapeou o aumento das desigualdades sociais nas Regiões Metropolitanas de São Paulo e da Baixada Santista. Foram analisadas 14 comunidades em contexto de vulnerabilidade socioeconômica em comparação com um bairro-controle de classe média. O relatório envolveu 108 pesquisadores, metade deles bolsistas, incluindo agentes comunitários locais.

Outro estudo teve a participação do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) na plataforma World Pandemic Research Network (WPRN), com 100 instituições acadêmicas publicizando pesquisas sobre impactos socioeconômicos da Covid-19.

No Rio de Janeiro, a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) atuou em parceria com a Fiocruz, a UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e a PUC-RIO (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) na avaliação dos prejuízos sociais e econômicos, além de apoio ao enfrentamento da Covid-19 nas favelas da região metropolitana.

Outras iniciativas nesse sentido sobre os impactos da covid-19 abrangeram outras partes do Brasil, como os estados da Bahia, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, além de Brasília, onde a UnB (Universidade de Brasília) estudou o efeito socioeconômico no setor de alimentação nos presídios e para imigrantes e refugiados.

O resultado da maioria das pesquisas, muitas delas feita com o apoio das comunidades locais, revelaram que a pandemia de Covid-19 é grave, mas é conjuntural, pois os problemas estruturais enfrentados pelas populações em maior situação de vulnerabilidade se acumulam e vão muito além do vírus.

A crise sanitária, na avaliação dos pesquisadores, serviu para tornar visível e, também, para aprofundar situações já vivenciadas por indivíduos em posição social mais vulnerável, como a falta de acesso a direitos já negados ou limitados.

Em suma, a pandemia funcionou como um evento extremo que explicita as desigualdades estruturais e brutais da sociedade brasileira, embora não seja a sua causa. É uma fatura alta a ser paga agora e no futuro, pois implicou enormes perdas à população carente, com desemprego em massa e perda de renda, situação potencializada com “a contra-reforma trabalhista e previdenciária, com a emenda do teto dos gastos e os sucessivos cortes nas políticas públicas”.

Impactos da Covid-19 vão além do aspecto econômico e social. Cuidar dos sequelados torna-se grande desafio ao SUS

Por si só, as consequências econômicas e sociais da Covid-19 já são graves, no Brasil e no resto do mundo, mas há outro desafio com o qual o país terá de lidar: os sequelados da doença.

No Brasil, a doença deixou pelo menos uma sequela em 65% dos pacientes. A perda de olfato ou paladar foi o problema de maior prevalência: cerca de 30% daqueles que foram infectados pelo Sars-CoV-2 relataram o problema.

A pandemia arrefeceu nos últimos meses, graças ao avanço da vacinação – a despeito de todas as tentativas do presidente Jair Bolsonaro, em pessoa, ter tentado dificultar a imunização -, mas cuidar dos sequelados pode trazer grandes impactos para a infraestrutura da saúde pública.

O SUS (Sistema Único de Saúde) tem sofrido com o desfinanciamento nos últimos anos e o advento da Covid-19 trouxe uma sobrecarga ao sistema, o que pode piorar.

“A saúde pública vai estar sobrecarregada com isso”, resume Lígia Kerr, epidemiologista, vice-presidente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e professora da UFC (Universidade Federal do Ceará).

Os dados do número de sequelas por pacientes é do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), estudo realizado por ligação telefônica em todas as regiões do Brasil. No total, foram entrevistados cerca de 9.000 participantes durante o primeiro trimestre de 2022.

A pesquisa foi realizada pela organização de saúde Vital Strategies e pela Ufpel (Universidade Federal de Pelotas). O inquérito também é fruto de parceria com outras entidades, como a Abrasco.

Também conhecida como Covid longa, as sequelas da doença ainda são pesquisadas pela comunidade médica e científica, pois ainda restam dúvidas de como o vírus causa essas condições após a fase aguda da doença.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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