Mesmo com o aumento de 7,5% do salário mínimo, que passou a R$ 1.518 a partir de 1º de janeiro (o valor será pago em fevereiro), o poder de compra do brasileiro vai permanecer estagnado até 2026, segundo estudo da consultoria LCA 4intelligence, publicado pelo g1.
O cálculo do reajuste do novo salário mínimo foi de 4,84% (INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor dos últimos 12 meses até novembro) e mais os 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto), ganho real acima da inflação, segundo norma aprovada pelo Congresso Nacional.
Porém, os R$ 106 a mais no bolso de assalariados, aposentados e pensionistas não serão suficientes para recompor as perdas ocasionadas pela inflação dos alimentos, que subiu nos últimos meses devido a questões climáticas e à alta do dólar, e para retomar as perdas da política salarial durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que não reajustou o mínimo ao longo de seu mandato recompondo as perdas inflacionárias.
Assim que assumiu o governo, o presidente Lula (PT) retomou a política de valorização do mínimo que foi marca dos governos petistas, levando em conta a inflação e o crescimento do PIB. Porém, no pacote fiscal aprovado pelo Congresso no fim do ano passado, estabeleceu-se um limite de 2,5% para o PIB em consonância com o arcabouço fiscal, que impõe regras para o crescimento das despesas do governo.
Para realizar o estudo da LCA 4intelligence, o economista Bruno Imaizumi usou a série histórica do valor da cesta básica na cidade de São Paulo produzida pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e o salário mínimo vigente.
A partir dos dados, ele calculou as projeções a partir da estimativa da LCA para a inflação de alimentos em domicílio em 2025 e 2026 e para o reajuste do salário mínimo segundo a nova regra.
“O que o estudo mostra é que perdemos poder de compra a partir de 2020, quando entra a pandemia e os preços de alimentos ficam muito caros”, observa Imaizumi.
A situação piorou com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, a partir de fevereiro de 2022, que impactou fortemente o preço global dos grãos. Somado a isso tudo, os efeitos climáticos extremos contribuíram para reduzir a oferta global de alimentos, elevando preços mundialmente.
Relação do salário mínimo com a cesta básica
Com base nos dados do Dieese, o poder de compra da cesta básica com um salário mínimo ficou da seguinte forma:
- A partir de 1998, início da série histórica da cesta básica do Dieese em São Paulo, até 2010, houve um ganho no poder de compra do brasileiro.
- Nesse período, o poder de compra passou de pouco mais de uma cesta básica por salário mínimo para 2,2 cestas básicas em janeiro de 2010.
- Entre 2010 e 2019, melhor momento para o poder de compra do brasileiro, o salário mínimo comprou em média 2,1 cestas básicas.
- Em abril de 2022, o poder de compra do salário mínimo caiu para 1,5 cesta básica.
- Desde então, se recuperou ligeiramente, para 1,7 em novembro de 2024, mas sem retomar o nível anterior à pandemia de Covid-19.
“Os níveis de preços permaneceram muito elevados e, olhando para as nossas projeções, que estendem para frente as métricas de poder de compra, vemos que não há uma recuperação [nos próximos dois anos]”, diz o economista da LCA.
“Não voltaremos a patamares [de poder de compra] pré-pandemia, então o brasileiro ainda se sente lesado. Ele não consegue comprar o mesmo que comprava antes da pandemia, porque os níveis de preços permanecem muito altos”, completou.
Cenário mudaria pouco sem mudança de regra
Ainda que a regra de reajuste do piso nacional imposta pelo pacote de corte de gastos não tivesse acontecido, o economista diz que o cenário pouco mudaria.
“O que pode ajudar para que haja uma recuperação um pouco mais contundente do poder de compra é uma valorização do real”, avalia o economista.
Ele ainda aponta que, embora a inflação dos alimentos tenha caído um pouco, ela ainda permanece alta.
Em 2024, a inflação de alimentos ficou bem acima da alta da inflação em geral medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Isso ocorreu em grande medida devido ao excesso de chuvas, seca e queimadas que afetaram as safras não só no Brasil, mas também em outros grandes países produtores de commodities agrícolas.
Para 2025 e 2026, Imaizumi espera que IPCA e a inflação de alimentos tenham variações mais próximas. “Mas os preços de alimentos vão continuar elevados”, prevê o economista.
Se o dólar permanecer em patamares elevados, isso incentiva a exportação, reduzindo a oferta de produtos no mercado doméstico e elevando os preços, segundo ele.
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