A disparada do dólar e os leilões realizados pelo Banco Central para ajudar a conter a alta da moeda norte-americana no fim do ano passado fizeram com que as reservas internacionais do Brasil encerrassem 2024 com queda de 7,1%, a US$ 329,7 bilhões, segundo dados do Banco Central.
As reservas são uma espécie de colchão de segurança do Brasil contra possíveis crises externas.
No fim do ano passado, o Banco Central realizou um total de US$ 20,07 bilhões de leilões no mercado à vista. Além disso, também realizou a venda de mais US$ 15 bilhões por meio dos chamados leilões de linha, que são um tipo de empréstimo. Neste caso, porém, os valores retornam posteriormente para as reservas cambiais.
Essas operações se concentraram em dezembro, em meio à disparada do dólar — que fechou 2024 com alta de 27%, a R$ 6,17.
O Brasil registrou, no mês de dezembro, o maior fluxo de saída de dólares registrado em um mês desde o início da série histórica do BC, iniciada em setembro de 2008, quando o mundo começava a viver a última pior crise financeira global. Até o dia 27 de dezembro passado, um total de US$ 24,314 bilhões saíram do país, conforme dados divulgados pelo BC.
A escalada da moeda norte-americana em 2024 é resultado de uma série de fatores externos e internos, como conflitos internacionais, nível de juros nos Estados Unidos, eleição de Donald Trump e expectativas em torno das contas públicas brasileiras.
Como funcionam as reservas internacionais
Como explicado acima, as reservas internacionais, ou cambiais, são uma espécie de poupança em dólares que o país tem em caixa. Esses recursos ficam aplicados fora do Brasil, em ativos considerados seguros, geralmente em títulos do tesouro norte-americano.
Esses recursos contribuem, por exemplo, para dar proteção ao Brasil em caso de crises no mercado internacional, como a da Rússia em 1998, ou eventuais retiradas de recursos por investidores.
A “poupança” permite que o país não seja obrigado a recorrer a empréstimos externos como os do FMI (Fundo Monetário Internacional), como o que ocorreu com a Argentina recentemente.
Existem três formas de o Brasil acumular esses recursos:
- Comprando dólares no mercado;
- Recebendo por suas aplicações (geralmente em títulos do Tesouro norte-americano), ou
- Fazendo emissões de títulos da dívida pública no mercado internacional.
Apesar da queda, o Brasil ainda tem um valor considerável em reservas.
Com a disparada do dólar e os juros altos no Brasil (a taxa básica de juros, a Selic, está em 12,25% ao ano), analistas consideram que há um custo de manter essas reservas em dólares. Isso porque, como são aplicadas em investimentos no exterior, que rendem juros muito mais baixos do que aqueles que governo paga ao emitir papéis dentro, há um chamado “custo de carregamento”.
Em uma série de postagens em seu perfil na rede X (antigo Twitter), o economista Sérgio Gobetti, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), abordou o custo de carregamento no Brasil.
“O ataque especulativo que vivemos no Brasil abriu uma ótima janela de oportunidade para o BC lucrar vendendo dólares”, apontou. “O Brasil possui U$ 360 bi aplicado em títulos americanos e outros ativos externos, sendo que 75% desse valor foi adquirido entre 2006 e 2012. Para comprar esses dólares, BC teve de emitir dívida ou usar o superávit primário do período passado. E isso teve um custo considerável (+)”, completou.
O custo de manter esses recursos fora, segundo ele, é de cerca de R$ 40 bilhões por ano. “Um cálculo pelo diferencial de juros entre Brasil e EUA mostra que o acúmulo de reservas cambiais custou quase R$ 700 bi desde 2006. Mas esse prejuízo seria compensado se metade desse caminhão de dólares, adquiridos quando câmbio estava em 1.9 [reais], fossem vendidos agora por 6.1”, escreveu.
“Conclusão: não há a menor dúvida de que estamos no momento certo para reduzir nossa dívida vendendo parte das reservas cambiais. Até porque acumulamos mais do que o necessário, conforme já detectaram grandes nomes da macroeconomia internacional, como Olivier Blanchard”, postou.
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