ICL Notícias
Economia

Trump anuncia tarifas recíprocas e cita etanol brasileiro; Haddad diz que não há o que temer

Medidas anunciadas ainda vão levar alguns dias para começar a valer, o que abre espaço para negociações
14/02/2025 | 08h10
ouça este conteúdo
00:00 / 00:00
1x

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quinta-feira (13) a ordem de implementação de tarifas recíprocas, mirando países que, segundo o governo americano, taxam excessivamente produtos dos EUA. Entre os produtos citados por ele, está o etanol brasileiro, produzido com cana-de-açúcar.

A medida ainda levará alguns dias para valer, o que abre espaço para negociações entre os países.

A Casa Branca divulgou ontem o modelo escolhido por Trump para a implementação das tarifas recíprocas, que vão funcionar como um espelho. Ou seja, os Estados Unidos pretendem cobrar exatamente a mesma alíquota do imposto de importação que qualquer empresa norte-americana precisa pagar para acessar um determinado mercado.

O objetivo de Trump é diminuir o déficit da balança comercial estadunidense com alguns países, forçando as empresas estrangeiras que vendem no mercado americano a instalar fábricas nos Estados Unidos. A Casa Branca também espera usar as tarifas para financiar a redução da carga tributária sobre as empresas, uma das principais promessas de campanha do presidente americano.

O secretário de Comércio de Trump, Howard Lutnick, será responsável por definir as alíquotas que cada parceiro será obrigado a pagar. Ele ficará responsável por negociar individualmente com cada país com o qual os Estados Unidos têm maior déficit comercial.

Tarifas recíprocas: etanol brasileiro na mira

O etanol brasileiro está no topo da lista de exemplos elencada pelo governo norte-americano em um documento que resume as medidas. “A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. No entanto, o Brasil cobra uma tarifa de 18% sobre as exportações de etanol dos EUA. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil”, diz trecho do texto.

Trump vem reclamando que o governo brasileiro impõe barreiras para a entrada do etanol dos EUA (fabricado a partir do milho) no Brasil, enquanto o equivalente brasileiro (à base de cana-de-açúcar) ingressa basicamente sem tarifas no mercado americano. A balança comercial entre os dois países é superavitária em favor dos EUA, ou seja, o Brasil compra mais do que exporta para lá.

Em relação às negociações, o secretário de Comércio dos Estados Unidos disse que os estudos sobre a balança comercial dos EUA com os países devem estar prontos até dia 1º de abril. As tarifas seriam impostas ao longo das próximas semanas, abrindo uma janela, portanto, para negociações.

Trump afirmou que a ordem “traz a justiça de volta” aos negócios do país. “Queremos um jogo equilibrado”, disse. “Se nos impuserem uma tarifa ou imposto, nós aplicaremos exatamente o mesmo nível de tarifa ou imposto, é simples assim.”

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, o impacto das tarifas recíprocas sobre o etanol não deve ser significativo. Relatório do banco BTG Pactual mostra que o Brasil exporta cerca de 6% apenas da sua produção de etanol, de cerca de 35 bilhões de litros por ano, e exporta menos de 1% para os EUA, cerca de 300 milhões de litros.

O relatório mostra ainda que o Brasil importou 109 milhões de etanol de milho dos EUA no ano passado, e que a importação não é vantajosa, com o produto chegando no Brasil com valores finais por litro acima do produzido no país.

Na semana passada o governo americano já havia anunciado a imposição de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio pelos EUA. A medida atinge o Brasil, que é o segundo maior exportador do produto aos Estados Unidos.

Haddad diz que não há o que temer

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na quinta-feira que o governo está fazendo um balanço da imposição de tarifas recíprocas anunciadas por Trump. Para ele, há espaço de negociação com o governo americano e não há o que temer, uma vez que a balança comercial entre os dois países é favorável aos EUA.

“O governo está fazendo um balanço das medidas comerciais para que o princípio da reciprocidade prevaleça”, afirmou a jornalistas no Ministério da Fazenda.

Ao ser questionado se enxerga espaço para negociação em razão do presidente norte-americano ter deixado o prazo de validade da medida em aberto, Haddad disse que “sim”. “Possivelmente sim, mas nós temos que aguardar. Por isso que eu digo, a maneira como estão sendo anunciadas as medidas é um pouco confusa ainda. Então temos que aguardar para ter uma ideia do que é concreto, do que é efetivo”, pontuou.

“Não há muita razão nem para nós temermos, porque nós temos … não é um parceiro que está importando muito do Brasil e exportando pouco, é o contrário. Então vamos avaliar o conjunto das medidas com cautela”, completou Haddad.

China, Japão, Coreia do Sul e UE na mira

Embora tenha citado o etanol brasileiro, o Brasil não é o principal alvo das tarifas recíprocas. O que Trump quer é pegar os casos mais “flagrantes” de países que aplicam tarifas mais altas a produtos norte-americanos.

As tarifas recíprocas também visariam contrabalançar barreiras comerciais não tarifárias, como regulamentações onerosas, impostos sobre valor agregado, subsídios governamentais e políticas de taxa de câmbio que podem erguer barreiras ao fluxo de produtos dos EUA para mercados estrangeiros.

Os alvos incluem China, Japão, Coreia do Sul e União Europeia.

Pergunte ao Chat ICL

[mwai_chatbot id="default" local_memory="false"]

Relacionados

Carregar Comentários

Mais Lidas

Assine nosso boletim econômico
Receba gratuitamente os principais destaques e indicadores da economia e do mercado financeiro.