Esta quarta-feira (22) é um dia emblemático para o mundo e, também, para o Brasil. Nos Estados Unidos, o Fomc (Federal Open Market Committee, na sigla em inglês, ou Comitê Federal de Mercado Aberto, na tradução para o português) vai divulgar a nova taxa de juros da maior economia do mundo, em meio à turbulência vivida nos últimos dias com as crises bancárias amplamente noticiadas. Por aqui, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) deve anunciar, no fim da tarde de hoje, a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, apesar das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de integrantes de sua equipe de que mantê-la no patamar atual não faz o menor sentido.
Mais do que as decisões em si, o que os mercados estarão atentos é com os comunicados que serão divulgados com as decisões. São eles que darão sinais a respeito do que se pode esperar para o futuro.
Por ora, as apostas de analistas do mercado norte-americano são de que o Fomc deve seguir a diretriz da reunião de fevereiro e elevar a taxa de juros em 0,25 ponto percentual. Mas, como revelou uma pesquisa recente, a maior parte dos entrevistados não gostaria que houvesse elevação, mas sim, que a taxa fosse mantida no patamar atual de 4,5% ao ano.
Isso porque, recentemente, dois bancos colapsaram nos Estados Unidos. A falência do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank dias atrás colocou o mundo em estado de alerta devido aos traumas deixados pela crise financeira de 2008, a maior do mundo desde o crack da Bolsa de Nova York em 1929.
Apenas dois dias depois, a notícia de que foram detectadas inconsistências no balanço do Credit Suisse, banco que está no coração de um dos maiores sistemas financeiros do mundo, a Suíça, aumentou o sarrafo do estado de alerta dos mercado de que, realmente, há algo que cheira mal nas engrenagens do capitalismo selvagem.
Por outro lado, a rápida ação tanto das autoridades norte-americanas quanto a do governo Suíço, que intermediou um acordo para a venda do Credit ao UBS Group, colaborou para trazer certo alívio aos mercados mundiais. Ainda assim, a suspeita continua: dá para confiar na saudabilidade do mercado financeiro global?
Diante desse cenário, as apostas são de que o Fed deve frear o ritmo do aperto financeiro. E o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, explicou as razões na edição desta quarta-feira do ICL Notícias, programa diário no YouTube.
“Nos EUA, há uma dúvida enorme sobre o que vai acontecer. O Jerome Powell [presidente do Fed, banco central americano] tem que ser ao mesmo tempo bombeiro e policial. Bombeiro para apagar o fogo do sistema financeiro depois da quebra do Silicon Valley Bank e do Signature Bank, e do Credit Suisse. A dúvida [que deve estar na cabeça dele] é ‘vou continuar subindo a taxa de juros?’ Usando uma metáfora, quando sobe o fundo do mar [taxa de juros dos EUA] todos os níveis sobem também. Aí ele pensa: ‘se eu subir a taxa de juros, eu aumento o custo do dinheiro, e eu não posso continuar subindo o preço do dinheiro porque os bancos estão quebrando. Mas, ao mesmo tempo, a inflação está bombando”, disse.
Segundo Moreira, a taxa de juros dos Estados Unidos permeia a vida de todas as economias do planeta, por isso se trata de uma decisão muito importante para o futuro econômico global. “A taxa de juros dos EUA é uma taxa de referência para as demais. Essa taxa define quanto pagam os títulos do tesouro americano, os quais o mundo inteiro usa para guardar as suas reservas. Esses são os títulos considerados mais seguros do mundo”, disse.
Os dados recentes mostram que a economia global vive momentos de extrema fragilidade. Na semana passada, o BCE (Banco Central Europeu) subiu a sua taxa de juros a 0,50 ponto percentual. Mas a presidente da instituição, Christine Lagarde, preferiu não falar sobre as próximas decisões para esperar os acontecimentos, diante dos problemas bancários recentes.
Outra notícia de impacto nesta quarta-feira foi a divulgação da inflação do Reino Unido, que veio acima do esperado (10,4% ante a previsão de 9,9%), impulsionada principalmente pela inflação dos alimentos, o que impacta todas as famílias.
Para Eduardo Moreira, Lula está certo em criticar o atual patamar das taxa de juros no Brasil
No Brasil, as apostas do mercado são de que o Copom vai manter a Selic em 13,75% ao ano, o maior patamar desde 2016. Assim como acontece com as maiores economias do mundo, a taxa de juros é elevada para controlar a inflação.
Em 12 meses até fevereiro, a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) somou 5,60%. Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
O Brasil tem o juros mais alto do mundo. Se descontada a inflação, a taxa fica em 8% ao ano, e o presidente Lula tem batido na tecla, desde a campanha eleitoral, que a Selic atravanca o crescimento da economia, argumento com o qual Eduardo Moreira concorda.
Na opinião dele, “Lula merece nosso aplauso de pé”, principalmente “por não poupar palavras ao se referir aos juros”.
Diferentemente do que acontece no Brasil, o Fed tem subido os juros para controlar a inflação por demanda. Com o mercado de trabalho aquecido, as pessoas saem para comprar, o que não vem acontecendo aqui no Brasil. “Não temos inflação de demanda. Tem pouca gente querendo comprar e [quando isso acontece] o preço cai. O que o Lula está querendo dizer é: ‘vocês [Banco Central] estão querendo que as pessoas não comprem no Brasil?’. A inflação não está alta porque as pessoas estão querendo comprar. Temos 33 milhões de pessoas passando fome, um monte de gente desempregada, perda de renda. Querem fazer a pessoa que já não tem nada comprar menos ainda”, criticou.
Além disso, Moreira explicou que a inflação do Brasil também é um problema de oferta, pois boa parte dos alimentos está sendo exportada e não temos estoques reguladores de preços. “Os únicos que saem ganhando [com essa taxa de juros] é a Faria Lima”, apontou.
Quando se aumenta a taxa de juros, o custo de crédito e de investimentos também encarece, impedindo a economia de girar.
Tanto nos EUA quanto no Brasil, Moreira explicou que há uma crise de crédito. Por aqui, a situação piorou depois do rombo de mais de R$ 40 bilhões revelado pela Americanas. “As empresas não estão conseguindo pegar dinheiro emprestado, os bancos [no mundo] estão com problemas, pedindo resgate. Então, acabam segurando o dinheiro que têm. A crise no setor de crédito já está fazendo o papel que os juros fariam”, apontou.
A decisão do Fomc será divulgada às 15h (horário de Brasília) e está prevista uma coletiva de Jerome Powell. No Brasil, o Copom anuncia a sua decisão depois do fechamento do mercado.
Redação ICL Economia
Com informações do portal G1 e do ICL Notícias
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