O segundo turno das eleições presidenciais argentinas, programadas para ocorrerem neste domingo (19/11), guardam algumas semelhanças com o pleito brasileiro entre Lula e Jair Bolsonaro, mas também registram uma série de distinções essenciais ao analisarmos as redes sociais. Talvez a principal delas seja a ausência de uma figura que consiga, de maneira orgânica, produzir o engajamento que Lula produziu na última eleição brasileira. Por outro lado, a extrema-direita teve sim um candidato “para chamar de seu”.
No ambiente digital, o comportamento da extrema-direita é muito semelhante: um cluster bastante coeso, com uma incrível capacidade de produção de conteúdo e controle sobre o que é debatido internamente. Com o candidato Javier Milei como seu principal expoente, este agrupamento foi capaz de liderar o volume de menções durante quase toda a campanha, com exceção de dois momentos específicos: a apuração do 1º turno e o último debate presidencial realizado no dia 12/11. Nestes dois momentos, o desempenho dos presidenciáveis surpreendeu usuários polarizados e não-polarizados, bem como a imprensa.
A apuração do primeiro turno foi marcada por um pico de menções ao candidato Sergio Massa pela surpresa que sua liderança provocou na imprensa e em apoiadores de Javier Milei. Acusações de “fraude” e de “campanha suja” atingiram um pico de menções, com usuários de extrema-direita e setores da imprensa buscando justificativas para o movimento até então não capturado e que levou Massa ao 2º turno – e em primeiro lugar. Já o debate presidencial foi marcado por um desempenho pífio do candidato Milei. Nas redes, apoiadores se desdobraram para extrair algo de positivo de sua participação, com o auxílio de setores da imprensa ligados à direita argentina, encontraram um “unicórnio” para justificar o episódio: a “campanha do medo”.
A expressão é essencial para compreendermos o 2º turno das eleições argentinas nas redes sociais. Essencialmente, o termo parte de dois agrupamentos específicos: setores de imprensa alinhados à direita argentina e apoiadores do candidato Milei. Juntos, buscam emular uma “comoção” que estaria incomodada com a exposição negativa do candidato libertário. Ironicamente, o incômodo surge a partir de anúncios veiculados no Youtube que não exploravam notícias falsas, montagens ou conteúdos gerados por técnicas de inteligência artificial. Exploravam, sim, declarações e manifestações reais de Javier Milei ao defender temas como venda de órgãos, porte de armas, retirada de subsídios e ataques ao Papa, por exemplo.
Nesse cenário, a reta final do pleito argentino é marcada por uma campanha de rechaço contra ambos os candidatos. Com pesquisas apontando uma vantagem do candidato de extrema-direita, as redes sociais são apenas um dos vários termômetros que devem ser analisados para compreendermos o que foi a corrida eleitoral em um país marcado por uma crise econômica que se arrasta por anos e um governo extremamente impopular. Nas redes, o medo do que seria um governo de Milei disputa espaço com o desejo por mudança após um governo no qual Massa é ministro da economia.
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