ICL Notícias
Chico Alves

Jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho. Atualmente é editor-chefe do site ICL Notícias.

Elementar, meu caro humano!

A catástrofe ambiental que vem acometendo várias regiões do Brasil, mas especificamente o Sul, só evidencia o descaso das autoridades em relação a um trabalho de prevenção frente a estes acontecimentos
09/05/2024 | 19h42

A catástrofe ambiental que vem acometendo várias regiões do Brasil, mas especificamente o Sul, só evidencia o descaso das autoridades em relação a um trabalho de prevenção frente a estes acontecimentos.

Não se tratam de fenômenos naturais, mas sim uma cadeira de causa e efeito, proveniente das intervenções humanas irresponsáveis no meio ambiente, que estão refletindo de forma avassaladora sobre a população.

Os povos de terreiro (filosofias e culturas tradicionais) em sua originalidade, sempre tiveram uma relação de interdependência com a natureza.

“Ewe kosi, Omi Kosi, Ilé Kosi, Orixá Kosi!”

“Sem folha, sem água, sem terra, não há orixá!”

Esses elementos que nos conectam com os elementares fazem toda a diferença nesta forma integral de viver em harmonia com as nossas divindades e elementos sagrados. Eles compõem este DNA que transcende a humanidade. Somos pequenas partículas de um macrocosmo que nos integra ao universo.

Quando nos distanciamos deste sentido de pertencimento interdependente com a natureza e o universo, arcamos com as consequências do que plantamos, ou melhor, do que não plantamos!

Elementar, meu caro humano!

negligência dos governos anteriores e do atual frente às tragédias anunciadas há décadas, fruto de diversos avisos e denúncias contidas em dossiês, elaborados por cientistas e pesquisadores sérios. Eles alertaram sobre como as chuvas aumentariam em volume devido às intervenções humanas (empresas/indústrias) no meio ambiente, em nome do que eles consideram desenvolvimento.

O preço chegou na conta, e quem paga são os menos favorecidos, que não tem seguros astronômicos que possam ressarcir os seus prejuízos. Afinal, quem irá ressarcir vidas humanas? Qual o preço de bens materiais e imateriais construído ao longo deste projeto de vida, erigido com muito labor e dificuldades pela população?

Quem pagará esta conta?

A era do Antropoceno já chegou há muito tempo, mas ninguém nos disse que o tiro iria sair pela culatra, que a ideia de “boa vida” estaria baseada em uma vida não tão boa. Em busca de conforto e tecnologia, caímos neste precipício anunciado, onde a falta de respeito ao planeta Terra causaria danos irreparáveis.

O planeta Terra é um organismo vivo!

É necessário e urgente que tentemos minimizar, a curto prazo, os malefícios que causamos e adoecemos este útero primevo, seja pela usura, ganância, arrogância e soberba humana.

As futuras gerações precisam de um espaço ambiental saudável, onde possamos viver com os ciclos naturais do planeta, deixando-o seguir sem interferirmos em sua jornada de maturidade terrena.

Para nós cultuadores de orixás, inkices, voduns e encantados, cabe-nos vestir a nossa velha roupa da originalidade pré-colonial e resgatarmos o que pudermos, pois sem os elementos que cultuamos, nossos elementares, estamos também fadados ao fim por parte do projeto de um pseudo desenvolvimento. Não podemos cair no precipício de um falsa ideia de bem-estar social em detrimento de nossas vidas em integralidade com a cabaça da existência (igba du), o planeta Terra!

Elementar meu caro humano, volta que deu errado!

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