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Continuidade da emissão de carbono pode aumentar custo da dívida em 59 países

No estudo, o Brasil aparece na lista de rebaixados, por conta da emissão de carbono, na previsão mais pessimista para 2100. O país teria classificação piorada em 1,57 grau, numa escala que varia de 1 a 20, com prejuízo de pagar juros anuais adicionais de até US$ 1,9 bilhão
08/08/2023 | 20h22

A contínua emissão de carbono no mundo pode ser responsável por uma onda de rebaixamento em notas de crédito soberano já na próxima década, provocando um aumento nos custos da dívida em, pelos menos, 59 países. É o que indica um estudo conduzido pela Universidade de Cambridge e pela UEA (Universidade de East Anglia), ambas no Reino Unido. Finalizado em 2021, o trabalho foi publicado nesta segunda-feira (7), na revista Management Science.

Reportagem publicada pela Folha de São Paulo informa que os pesquisadores propõem um sistema de rating ajustado ao clima considerando vários cenários de aquecimento global e cumprimento de metas ambientais. O estudo treinou modelos de inteligência artificial nas classificações existentes da S&P Global, uma das principais agências de rating do mundo. Em seguida, combinou isso com modelos econômicos climáticos e as próprias avaliações de risco de desastres naturais da S&P para criar novas classificações para vários cenários climáticos.

Entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2021 durante a pandemia de Covid-19, 48 nações sofreram rebaixamentos pela emissão de carbono. Projetando o mesmo cenário para 2100, 81 países teriam suas notas de crédito rebaixadas. Os mais afetados em termos de variação seriam Chile, China, Eslováquia, Malásia, México, Índia e Peru, todos com perdas superiores a cinco graus na classificação. De acordo com o modelo, China, Índia, Estados Unidos e Canadá vão precisar desembolsar mais em seus serviços de dívida já em 2030.

A pedido da reportagem da Folha de S Paulo, Patrycja Klusak e Matt Burke, pesquisadores que assinam o estudo, destacaram os valores referentes ao Brasil que aparece na lista de rebaixados na previsão mais pessimista para 2100. O país teria classificação piorada em 1,57 grau, numa escala que varia de 1 a 20. Isso levaria a pagamento de juros anuais adicionais de até US$ 1,9 bilhão (R$ 9,3 bilhões na cotação de hoje), segundo os autores.

Em cenário otimista, em que há o controle da emissão de carbono, o país não deve sofrer rebaixamentos consideráveis. Segundo Burke, isso ocorre em parte porque o Brasil já está em uma categoria baixa de grau especulativo.

Contudo, no cenário pessimista, o país sofrerá um rebaixamento de quase 1 grau até 2050, aumentando o pagamento anual de juros da dívida em até US$ 910 milhões. Um projeto do governo Lula prevê multa para empresas que descumprirem metas de redução de emissão de carbono.

“A situação piora quando horizontes mais longos são considerados. Estima-se que em 2070 a classificação do Brasil cairá 1,39 grau, enquanto em 2100 cairá 1,57. Este último resultará em pagamentos de juros anuais adicionais de US$ 1,3 bilhão a US$ 1,9 bilhão”, diz Burke.

O estudo também calculou o efeito dos “downgrades” (rebaixamentos) induzidos pelo clima sobre o custo da dívida soberana. Isto é, o acréscimo nos pagamentos anuais de juros devido à piora na nota de crédito.

Carbono aumentará os custos de empréstimos para os países

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Crédito: Envato

Segundo os autores do estudo, os mercados precisam de informações confiáveis sobre como as mudanças climáticas se traduzem em riscos materiais. No Brasil, o Banco Central passou a exigir que as instituições financeiras passem a incorporar à sua política de gerenciamento de riscos potenciais perdas com questões relacionadas às mudanças climáticas.

Em toda a amostra, a crise climática pode aumentar os pagamentos anuais em US$ 45 bilhões (no cenário otimista), chegando a US$ 203 bilhões (no pessimista). O problema também chegaria às empresas, que teriam custos adicionais entre US$ 10 bilhões e US$ 62 bilhões.

“Nossos resultados sustentam a ideia de que adiar investimentos verdes aumentará os custos de empréstimos para os países, o que se traduzirá em custos mais altos de dívida corporativa”, disse a pesquisadora Patrycja Klusak à agência Reuters, informou a reportagem da Folha de S Paulo.

Um dos cenários avaliados considerou a ausência de políticas climáticas, com a emissão de carbono aumentando continuamente. Dentro dessa circunstância (chamada de RCP 8.5), haveria rebaixamento na nota de 59 países soberanos em 2030.

Embora as agências de classificação de crédito reconheçam a vulnerabilidade das economias às mudanças climáticas, até agora elas têm sido cautelosas ao quantificar esses riscos em seus exercícios de recomendação por causa das incertezas sobre a provável extensão dos danos.

O aumento dos custos da dívida seria apenas uma faceta extra do dano econômico geral que as mudanças climáticas já estão causando. A gigante dos seguros Allianz estima que as recentes ondas de calor já teriam reduzido 0,6% da produção global neste ano.

Os pesquisadores abrem o artigo dizendo que as mudanças climáticas são “a maior falha de mercado que o mundo já viu”, com amplas implicações para a estabilidade financeira, econômica, política, social e ambiental. “Os principais modelos de economia climática estimam perdas econômicas decorrentes das mudanças climáticas entre 2% e 22% do PIB global até 2100”, diz o estudo, de acordo com a reportagem da Folha de S Paulo.

Grandes inundações, tempestades e incêndios, por exemplo, têm impactos em diversos setores, influenciando o desempenho da economia —e consequentemente do risco do país. O clima já ameaça agro, portos e até internet.

No entanto, o cenário apocalíptico, devido à emissão de carbono, para a economia global pode ser amenizado caso o mundo consiga cumprir a meta do Acordo de Paris de manter o aquecimento bem abaixo dos 2ºC na comparação com os níveis pré-industriais. Autoridades climáticas vêm repetindo que a janela para chegar a esse objetivo está praticamente fechada, mas que ainda há tempo —caso os esforços sejam coordenados e imediatos.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S Paulo 

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