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A cara da privatização: Enel contrata apenas 34% dos eletricistas prometidos. Sindicato diz que empresa segue demitindo

Documento da Aneel permite descumprimento de regras em casos de apagão. Calcula-se que cerca de 2,2 milhões de clientes sejam afetados pela permissão para extrapolar os limites de duração e frequência de apagões.
16/10/2024 | 15h28

A Enel contratou apenas 34% dos eletricistas que constavam no planejamento anunciado depois do primeiro grande apagão que deixou parte de São Paulo e Região Metropolitana no escuro, em novembro do ano passado.

A falta de funcionários foi apontada como um dos problemas da manutenção da rede elétrica da companhia e da solução dos problemas, como no caso do apagão que mantinha, até esta manhã, 150 mil imóveis ainda no escuro depois do temporal de sexta-feira passada (11).

No domingo (13), depois de ser pressionado a dar respostas para o novo colapso energético, o presidente da Enel, Guilherme Lencastre, disse que a companhia deve contratar 1.200 eletricistas próprios. O número já aparecia no planejamento da empresa anunciado depois do apagão de novembro, com prazo para ser concluído até março de 2025.

Porém, a empresa contratou apenas 410 eletricistas próprios ao seu quadro de profissionais entre novembro de 2023 e outubro de 2024, passando de 1.688 para 2.098. Ou seja, o número de contratados representa 34% do total prometido.

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, a empresa aumentou em 10,6% o número de funcionários próprios da empresa no total, passando de 3.912 para 4.039. A informação tem como base os relatórios administrativos da Enel do segundo trimestre de 2023 e do mesmo período de 2024, o mais recente disponível.

No mesmo intervalo, 872 funcionários terceirizados foram agregados aos quadros da empresa, passando de 11.700 para 12.572. Na soma de próprios e terceirizados, a força de trabalho da companhia evoluiu de 15.612 para 16.611. São 999 trabalhadores a mais, uma alta geral de 6,4%.

Sindicato diz que Enel segue demitindo

Porém, o Sindicato dos Eletricitários do Estado de São Paulo disse que a empresa segue demitindo e que já desligou 227 profissionais próprios. A Enel argumenta que faz adequações ao seu quadro de funcionários, mas reforça que o saldo entre contrações e demissões é positivo.

Cerca de 60% dos profissionais da companhia são trabalhadores do setor operacional, ou seja, que atuam diretamente em atividades relacionadas à distribuição de energia, segundo o sindicato.

Mas o sindicato alerta que grupo composto por empregados contratados por prestadoras de serviço tende a ser menos experiente. “A empresa terceirizada costuma manter 20% de empregados antigos, com bastante experiência, para ter a memória técnica, e com o restante fazem uma rotação, há troca de pessoas o tempo todo”, disse o presidente do sindicato, Eduardo Annunciato.

Na comparação entre os relatórios trimestrais da Enel, a rotatividade de profissionais cresceu de 2,4% para 4,4% entre segundo trimestre de 2023 e o mesmo período de 2024.

Aneel permite desrespeito a regra de limite de apagão

Reportagem da Folha aponta que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) permitiu que empresas distribuidoras de energia desrespeitem limites para duração e frequência de apagões, previstos em contrato, em apenas parte das regiões onde prestam serviço.

A nota técnica prevê, por exemplo, que neste ano a Enel SP pode extrapolar o limite de duração dos apagões em 29% das áreas atendidas. No ano passado, a regra valia para 34%.

A área de concessão da Enel em São Paulo tinha 7.774.185 unidades consumidoras em outubro de 2023, segundo documentos enviados pela concessionária ao Ministério Público de São Paulo. Com base nesse número, calcula-se que cerca de 2,2 milhões de clientes sejam afetados pela permissão para extrapolar os limites de duração e frequência de apagões.

A permissão, feita por meio de uma nota técnica em março de 2023, é considerada ilegal pelo Ministério Público de São Paulo e por defensores públicos.

A nota técnica cria metas para empresas cumprirem os índices de duração e frequência das interrupções de energia, que são usados pela Aneel para avaliar a qualidade do serviço das concessionárias.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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