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Por Gui Mohallem — Diretoria da organização VoteLGBT

Estamos em um cruzamento distópico entre “Matrix”, com sua realidade manipulada por elites tecnológicas, e “The Handmaid’s Tale”, onde direitos básicos são brutalmente retirados. Bilionários transformam monopólios de comunicação em palcos para tiranos modernos, lucrando com ódio e desinformação, enquanto liberdades se erodem implacavelmente.

O dono do X e da SpaceX transformou o combate ao “woke mind virus” em cruzada pessoal. Sua filha Vivian Wilson, uma jovem trans de 20 anos, passou pela transição com o consentimento assinado dele, mas hoje ele diz que foi enganado e afirma que seu “filho morreu“.

Filha de Elon Musk, Vivian Jenna Wilson

Recentemente, o CEO da Meta afrouxou filtros de segurança, apagou marcações de orgulho LGBT+ e cortou contratos com verificadores de fatos. Agora, até rotular pessoas LGBT+ como doentes mentais é permitido, ignorando décadas de luta contra a patologização de nossas identidades.

Nas últimas eleições no Brasil, nosso programa Sentinela identificou 1090 comentários transfóbicos em um único vídeo. Meses depois, o corpo de uma candidata trans foi encontrado degolado. Lideranças como Erika Hilton e Duda Salabert enfrentam constantes ameaças e só conseguiram campanha com escolta armada e coletes à prova de balas.

Estamos em um cruzamento distópico entre “Matrix”, com sua realidade manipulada por elites tecnológicas, e “The Handmaid’s Tale”, onde direitos básicos são retirados de maneira brutal. É um espetáculo de poderes concentrados: de um lado, bilionários transformam monopólios de comunicação em palcos para tiranos modernos, lucrando com o ódio e a desinformação. Do outro, a erosão implacável das liberdades. Não estamos assistindo a uma distopia fictícia, mas a um roteiro real sendo escrito diante de nós.

O fundador da Space X e dono do X transformou o combate ao chamado “vírus da mente desconstruída” (woke mind virus, no original) em uma cruzada pessoal. A filha dele, Vivian Wilson, uma jovem trans de 20 anos, passou por sua transição durante a pandemia, com o consentimento assinado do próprio pai. Hoje ele afirma que foi enganado e que seu filho morreu. O movimento LGBT+ conseguiu retirar “homossexualidade” da classificação internacional de doenças da OMS em 1990. “Transexualidade” saiu da CID apenas em 2019.

Recentemente, o CEO da Meta anunciou medidas que fragilizam ainda mais a segurança online: afrouxamento dos filtros de segurança, invisibilização das marcações de orgulho LGBT+ e o fim de contratos com agências de verificação de fatos, sob a alegação de que tinham “viés de esquerda”. Entre uma das medidas mais preocupantes está a permissão para nomear pessoas LGBT+ como doentes mentais, indo na contramão de uma luta histórica do movimento LGBT+2.

Enquanto discutimos os movimentos desses “grandes homens”, não podemos esquecer das pessoas que sofrem os maiores impactos dessas mudanças. Discursos de ódio, quando normalizados, produzem agressões concretas. Nas últimas eleições, a Sentinela, nosso programa de combate a violência política, identificou mais de 1090 comentários transfóbicos em um único vídeo de uma candidata. Em novembro de 2024, o corpo de outra candidata trans foi encontrado degolado.

A cantora Santrosa, de 27 anos foi encontrada morta em Mato Grosso

Embora a representação LGBT+ no Brasil tenha avançado significativamente na última década, com o número de representantes eleitas dobrando nos dois últimos ciclos eleitorais, essas lideranças enfrentam ameaças de estupro e morte constantes. Ao mesmo tempo em que celebramos os sucessos legislativos e midiáticos de Erika Hilton e Duda Salabert, é importante lembrar que elas precisaram de escolta armada e colete a prova de balas em suas campanhas.

É doloroso mas necessário dizer: nessa nova era que estamos vendo surgir, pessoas vão morrer. Seja por agressões físicas, por deterioração da saúde mental, por desamparo ou abandono, as recentes e futuras medidas contra as pessoas trans vão deixar um rastro ainda maior de sangue.

Nossas transcestrais nos ensinaram há muito tempo: só sobrevivemos até aqui cuidando umas das outras. E é apenas assim que teremos alguma chance neste futuro sombrio. Haverá muitos incentivos financeiros para quem ceder, e muitas pessoas e empresas vão capitular, assim como a Meta, à nova “tendência de mercado”. Mas, para quem se considera uma pessoa aliada de verdade, é hora de agir. Fortaleça as marchas trans e as paradas, apoie organizações locais, contrate pessoas trans. E se não puder apoiar publicamente, faça isso no privado. Precisamos de você ao nosso lado. Mais do que nunca.

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