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Economia brasileira: ‘Erro’ do mercado em projeções para baixo ‘tem intencionalidade’, diz Juliane Furno

Em entrevista ao ICL Notícias 1ª edição desta 4ª feira (5), a professora de economia da UERJ explicou que as projeções dos agentes econômicos têm o objetivo de "fazer pressão a partir do pessimismo", para que, "a economia, de fato, encolha".
05/06/2024 | 19h47

Desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o mercado financeiro tem jogado para baixo grande parte das projeções para a economia brasileira. Até mesmo a jornalista e comentarista de política de O Globo, Míriam Leitão, a quem não se pode classificar como petista, escreveu um artigo no fim do ano passado intitulado “O ano em que o mercado falhou“, ao comentar que a realidade se sobrepôs aos prognósticos pessimistas.

Temos visto o mesmo acontecer com o Boletim Focus do Banco Central. Mas, como bem pontuaram os economistas do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), o terrorismo do mercado financeiro serve aos agentes da Faria Lima e, também, tem viés político, com patrocínio do presidente do BC, Roberto Campos Neto, que joga gasolina na fogueira com suas falas e cujo mandato termina neste ano.

O mesmo vimos acontecer ontem (4), quando o avanço de 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre, que coloca o país na disputa pelo oitavo lugar de maior economia do mundo, ultrapassando a Itália, veio acima do previsto pelos agentes do mercado.

Para a economista Juliane Furno, professora adjunta da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), o terrorismo econômico é fruto de um projeto.

“Na economia, existe uma tendência de que a profecia se autorrealize, quer dizer: se você sempre faz projeções pessimistas, se você aponta um cenário pessimista, se você aponta tendências de crise, se você faz um pouco o que o Paulo Guedes [ex-ministro da Economia] fazia, de dizer – ‘olha, o Brasil pode entrar num cenário de hiperinflação!’ -, o que você faz é antecipar provavelmente, na prática, o seu diagnóstico pessimista, porque você afugenta os agentes, porque você estimula ou antecipa um cenário de crise”, explicou.

Esse movimento, segundo Juliane, traz como consequências a contração no consumo, nos investimentos por parte das empresas as empresas, ou seja, a “profecia se autorrealiza”.

Na avaliação de Juliane, a atitude tem “intencionalidade”. “Isso [errar o PIB para baixo] tem a intencionalidade de desorganizar, inclusive o conjunto dos agentes econômicos, para que a economia, de fato, encolha”, disse.

O estranho, ainda de acordo com a economista, é que essa atitude é tomada por gente letrada, que tem instrumentos para fazer os prognósticos. “Eles têm bons arcabouços, bons manuais, bons ferramentais estatísticos. Não é um erro de falta de informações ou assimetria de informações. Na minha avaliação, tem um elemento de pessimismo e ele responde a uma intencionalidade que é fazer pressão pelo que é possível para esse setor fazer pressão, que é a partir do pessimismo que tem, sim, condições de ter impacto real”, salientou.

Juliane Furno explica o erro de avaliação da reforma trabalhista na economia brasileira

Os economistas do ICL também avaliaram, esta semana, notícias e editorais dos principais jornalões do país que corroboram que a grande mídia é mesmo porta-voz do mercado. O jornal O Globo, por exemplo, trouxe editorial no qual atribui a queda do desemprego à (de)forma trabalhista implementada pelo ex-presidente Michel Temer.

“A gente pode dizer o que a gente quiser [sobre a geração de empregos]. Pode dizer que é porque agora foi facilitado esse livre encontro [entre a oferta de força de trabalho e a demanda por força de trabalho]. Pode dizer que é porque juridicamente há mais segurança para o empregador. Mas o que a gente tem de dados até hoje – porque acho que isso importa, de pesquisa – e tem uma pesquisa da OIT [Organização Internacional do Trabalho] levando em consideração 89 países que recentemente realizaram reformas trabalhistas, sejam mais flexíveis nas relações laborais ou até mesmo mais protetivas, e a conclusão é que não existe correlação estatística significativa entre flexibilizar ou proteger mais os trabalhadores e gerar postos de trabalho”, explicou.

A geração de empregos, segundo Juliane, está “localizada na atividade econômica”. Ela lembrou, por exemplo, que, na pandemia, mesmo sob essa mesma reforma trabalhista, o trabalho barato, a taxa básica de juros em um patamar de 2%, isso não foi suficiente para gerar investimento, “porque o empresário seguia pela expectativa que ele tinha de que aquilo que ele produz vai ser vendido no mercado”.

Em suma, o empresariado só vai contratar se houver uma expectativa de aquecimento econômico e, consequentemente, de aumento do consumo e da renda.

“Se a economia cresce, e cresce como cresceu agora, localizada no crescimento dos serviços, no comércio, quer dizer, é um crescimento mais descentralizado, que tende a absorver setores da base da pirâmide social. Isso aumenta a massa salarial, a massa salarial é basicamente revertida em consumo e isso estimula que novos investimentos sejam feitos, para isso precisa que novas pessoas sejam empregadas para garantir que aquela oferta seja suficientemente adequada para aquela demanda”, disse.

“Reforma [trabalhista], quando precariza os vínculos de trabalho, tende a aumentar a insegurança com relação à renda e contrair o consumo e, consequentemente, não gera novos postos de trabalho”, resumiu.

 

Assista à entrevista completa de Juliane Furno no vídeo abaixo:

 

Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias 1ª edição

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